spoiler visualizarLeonardo.Vasconcelos 31/01/2022
Crítico, cômico e irônico.
Essa peça traz consigo toda uma bagagem cultural da época de Aristófanes, os grandes acontecimentos como a guerra do Peloponeso, referências a outras obras que hoje só restam fragmentos e a grandes autores como Ésquilo, Sófocles, Homero e até Eurípides, que é tratado com um certo desdém pelo autor, e claro, temos Sócrates representado como um personagem na história. A história da comédia é entorno de um camponês que casou-se com uma mulher rica e deste casamento foi gerado um filho, Fidípides, que durante a história, já é um homem, e ele é o responsável por um padrão de vida que deixa o seu pai, Estrepsíades, um homem que não é acostumado a essa vida de muitos gastos, com dividas e assim ele precisa procurar algum meio para se livrar dessas dividas. Estrepsíades quer colocar seu filho no Pensatório, que é a casa onde Sócrates fica com seus discípulos, e lá aprender o ‘’raciocínio injusto’’ que acaba com as causas justas e assim ele poderia se livrar das suas dívidas, ou seja, ele queria dar um calote nos seus credores. Em minha opinião, representar Sócrates como o responsável de ensinar esse tipo de raciocínio, foi uma maneira de Aristófanes mostrar que Sócrates era um charlatão, pois, de fato, Aristófanes achava isso de Sócrates, mas, ainda tem mais coisa envolvendo Sócrates nessa história. Ao tentar convencer seu filho de aprender esse tal raciocínio e obtendo dele a recusa, Estrepsíades decide ir ao Pensatório e aprender por conta própria e durante toda sua estadia no local, ele é apresentado à diversos pensamentos no mínimo inúteis, não sei ao certo se por ironia do autor com o filosofo ou de fato seriam justos, e aqui chega no ponto chave, como iria aprender esses raciocínios ? Ao conversar com Sócrates e dizer os seus interesses, ele o apresenta as Nuvens, como as divindades responsáveis por dar a sabedoria e os conhecimentos necessários para ser um pensador e um ótimo orador, porém, seria necessário negar Zeus e as outras divindades e acreditar somente nas Nuvens e outros dois deuses que Sócrates menciona. Estrepsíades ao aceitar os deuses e negar os outros, é apresentado as divindades, que são representadas na peça por um coro e é introduzido em alguns rituais, durante os processos ele se mostra muito ignorante ao ponto de não conseguir aprender praticamente nada e ao longo do tempo Sócrates vai tentando algumas formas de leva-lo a estar preparado para conseguir a sabedoria e assim aprender os raciocínios, porém, vendo que não iria conseguir e sendo forçado a buscar outra jeito, ele tenta mais uma vez buscar o seu filho para que consiga aprender. Desta vez ele convence o seu filho a ir e ele de fato aprende, mas, isso cai contra ele mesmo, pois, seu filho começa a aderir as causas injustas e quer até justificar que é bom bater nos pais e outras atrocidades, ou seja, ao tentar buscar as causas injustas, ele recebeu o castigo por querer fazer o que era errado e nisso as Nuvens ja tinha consciência das consequências, porém, deixaram que ele seguisse em busca disso para atrair o castigo dos deuses, e por fim, vendo que tinha sido castigado e mesmo que ele próprio aceite que tenha sido por justa causa, ele culpa Sócrates e decide atear fogo em sua casa.
Enfim, outro ponto importante que mencionei foi a respeito da negação de Zeus e as divindades gregas por parte de Sócrates, em certo momento da peça Aristófanes chama ele de Mélio, que era um ateu famoso em outra época, essa peça inclusive foi usada para aumentar as especulações de ateísmo de Sócrates no processo que resultou na sua morte.