Jaguatirica 25/02/2020
Ele só pedia para ser alguém como todo mundo...
"quando o meu pai, mesmo ele, nunca me viu, quando a minha mãe, para não mais me
ver, deu-me de presente a minha primeira máscara!"
Eric (nome que o fantasma escolheu para si) é aquele tipo de antagonista que a gente não consegue odiar, tamanha a tristeza de seu coração, da dor que sentia e de como era impossível para ele viver normalmente em sociedade sem ser vítima de maus tratos e olhares tortos, contorcidos de medo e preconceito. "Ele só pedia para ser alguém, como todo mundo! [...] Mas era feio demais! E teve de esconder o seu gênio ou aplicar golpes com ele, quando, com um rosto comum, teria sido um dos mais nobres da raça humana!"
Não é justificando seus atos, mas… poxa vida, como é fácil ter empatia por Eric. Esse gênio, sensível e doce homem, que ao mesmo tempo mata e fere com seu jeito passivo agressivo de justificar os próprios atos.
"O destino acorrenta-te a mim sem retorno" foi a ameaça que ele fez à Christine, visto que ela descumpriu a condição de não tirar-lhe a máscara. Aliás, esta é outra personagem contraditória. Me irrita e ao mesmo tempo me comove pela sina em que se meteu. Sinto que ela contribuiu e muito para dor de Eric, enganando-o ainda que inconscientemente. Ele jurava que ela o amava sem medos ou preconceitos, mas tudo o que a prendia a ele era seu talento de mestre e “anjo” da música e a extrema dó que sentia por seu destino de fantasma que não pode ver a luz do dia e viver como uma pessoa normal. Ela sentia compaixão e ao mesmo tempo horror, nojo. No entanto não a culpo, entendo seu lado. Ela amava Raoul com um amor esquisito (que até hoje duvido, penso que talvez ela só o via como alguém que lhe ajudaria a fugir de Eric). Raoul, inclusive, é aquele personagem inocente, bobinho que nem saiu das fraldas. É o mais confuso da história e também o mais maleável. Coitado, que confusão.
"Para mim, é impossível continuar a viver assim, no fundo da terra, num buraco, como uma toupeira! Don Juan triunfante (a ópera no qual trabalhou a vida toda) está terminado, agora eu quero viver como toda gente. Quero ter uma mulher como toda gente e iremos passear aos domingos. Inventei uma máscara que me faz ficar com o rosto de qualquer um. Não vão nem virar para trás. Você será a mais feliz das mulheres. E
cantaremos só para nós, até morrer. Você está chorando? Tem medo de mim?
No fundo, entretanto, eu não sou mau! Ame-me e verá! Só me faltou ser amado para ser bom!"
O livro, pra constar, é quase inteiramente diferente do musical e até mesmo dos filmes. No livro, doroga, o “Persa” é um personagem narrador importantíssimo. Ele é amigo antigo de Eric, o único que o conhece desde a época da mocidade e, com ele, compartilha segredos. Figura interessantíssima e o mais sensato.
"Minha mãe, daroga, minha pobre e miserável mãe nunca quis que eu a beijasse... Ela fugia... lançando-me a minha máscara!... nem nenhuma mulher!...
nunca!... nunca!... Ah! ah! ah! Então, eu chorei de tamanha felicidade. E caí chorando aos seus pés.... e beijei os seus pés, seus pezinhos, chorando... Você também está chorando, daroga; e ela também chorava... o anjo chorou...
Enquanto contava essas coisas, Erik soluçava, e o Persa, realmente, não
conseguia reter as lágrimas diante daquele homem mascarado que, sacudindo os ombros, com a mão no peito, gemia ora de dor, ora de enternecimento."
Eric sem dúvida alguma se tornou um de meus personagens favoritos da vida. Ele tocou meu coração de uma maneira inexplicável e um sentimento materno me corrói. Gostaria de aninha-lo em meus braços e dizer a ele “don't give up you are loved my son” ;-;
“Não tenha pena dos mortos. Tenha pena dos vivos, e acima de tudo, daqueles que vivem sem amor” - Alvo Dumbledore.
Li O Fantasma da Ópera mês passado e só hoje consegui falar sobre esse livro incrível. Gaston Leroux escreve de um jeito (ele era jornalista) que convence o leitor de que seu relato é uma história verídica. É difícil não ceder à tentação de acreditar que esse fantasma realmente existiu...