Maria Fernanda 06/08/2016A "louca dos gatos"?"Quantas de nós hoje somos capazes de afrouxar o espartilho contemporâneo de atitudes preconcebidas?"
Eu não tive nem que ler a sinopse de Solteirona para saber que queria lê-lo. Só o subtítulo "o poder de escolher a própria vida" já me disse tudo o que eu precisava saber. Kate Bolick prometeu um livro de memórias com pitadas de manifesto feminista e cumpriu.
A autora disserta ao longo de 320 páginas acerca da condição da mulher na sociedade em diferentes épocas, tendo como exemplos figuras femininas que classifica como suas "despertadoras". São elas: Maeve Brennan, Neith Boyce, Edna St. Vincent Millay, Edith Warton e Charlotte Perkins; todas escritoras, que acabaram por influenciar Bolick em algum momento de sua vida. E isso muito me agradou pois pude conhecer trabalhos fantásticos.
Brincando com passado e presente, memória e História, Solteirona levanta questões importantíssimas sobre o que significa ser mulher, acima de tudo mulher solteira. Por que é tão difícil para a maioria das pessoas acreditar que uma mulher pode sentir-se completa e feliz sem um homem? Por que uma mulher é taxada de "louca" ou "frustrada" se atinge certa idade sem marido ou filhos? Em pleno século XXI, a pressão cultural em cima do sexo feminino segue firme.
Mas uma coisa que me chamou atenção foi o fato de que nenhuma das "despertadoras" de Kate Bolick é negra... Tudo bem que ela escolheu apenas ícones que a atingiram de maneira particular, mas é impossível não fazer uma ligação com a inegável desvalorização da cultura negra que existe nos Estados Unidos. Pelo menos, Bolick reconhece que, para falar da realidade da mulher negra na História, seria necessário outro livro inteiro só para isso.
No geral, Solteirona foi uma leitura maravilhosa! Adicionou bastante bagagem ao meu conhecimento da trajetória do Feminismo, além de me apresentar a minha nova poetisa preferida: Edna St. Vincent Millay. Recomendo muitíssimo! Para mulheres, homens, feministas, não-feministas... Garanto que ninguém vai fechar esse livro com um sentimento de indiferença.
"Às vezes não é necessário encontrar coragem para romper os laços que prendem você; as cordas simplesmente se afrouxam e caem dos tornozelos e pulsos, então você se levanta, renascida, do trilho de trem ao qual estava amarrada."
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