Raony 08/05/2023
Não combina muito com minhas pretensões decoloniais. Eu, q tô fazendo um esforço pra ler mais mulheres, negros, gays, indígenas, trans, periféricos, enfim, nossa patota, peguei esse de um autor branco, cis, hétero, etc. E o pior de tudo: estadunidense. E ainda por cima ele escreve sobre as classes altas. Mas como escreve! E esse retrato da elite econômica não significa acriticidade. Pelo contrário, acho ele super irônico. Tá lá no Grande Gatsby. Tá aqui nesse. Eu só comecei a ler esse mesmo pq tô numa fase ler livro físico. De bode do kindle. E daí tô alcançando o impossível. Que é ler tudo que tenho na estante. Sobraram poucos. Esse não mais. E valeu muito a pena, viu? Ele tem uma qualidade rara em geral, mas comum aos grandes escritores, q é fazer comentários ácidos e totalizantes de maneira despretensiosa. Se vc tá descuidado nem percebe. Gabo é mestre nisso. Tolstói tb. Machado então, nem se fala. Em uma frase eles encapsulam um tratado filosófico, uma análise sociológica, uma observação poética. Um exemplo:
"Sua ingenuidade se sentia atraída pela custosa simplicidade dos Divers, sem perceber que nela havia complexidade e falta de inocência. Assim também a naturalidade de comportamento, a paz e a boa vontade, a ênfase dada às virtudes mais singelas, tudo isto fazia parte de um desesperado acordo com os deuses e fora conquistado à custa de lutas incalculáveis."
Tem outro exemplo, na segunda foto aí. O problema é quando essas reflexões se encontram com o fato dele ser um autor homem, branco, hétero, estadunidense, do começo do século XX, etc, e que resolve incluir raça na narrativa 🤦🏾♂️. Acho que ele tratou até de um modo cuidadoso pra época. O problema é que era uma época racista pra 🤬 #$%!& . Daí tem uns trechos que são meio difíceis de ler hoje em dia. Mas são poucos e esparsos e servem como registro dos problemas da época (não totalmente superados, claro, mas nossa, como avançamos)
Enfim, é isso. É um clássico. E como me ensinou @zupbueno, através do Ítalo Calvino, numa das primeiras aulas de Sociologia I, "um clássico nunca terminou de dizer o que tinha pra dizer". Ou, se preferirem uma roupagem mais contemporânea, "Clássico é clássico, né, pai?"