Por uma outra comunicação

Por uma outra comunicação Dênis de Moraes (org.)




Resenhas - Por uma outra comunicação


1 encontrados | exibindo 1 a 1


jmrainho 22/06/2014

Por uma outra comunicação - Mídia, mundialização cultural e poder
Editora Record, 2003
---------------------------------------------------------------------
O titulo é uma alusão a obra clássica Por Uma Outra Globalização do geógrafo Milton Santos. Dênis de Moraes, professor da pós graduação Universidade Federal Fluminense, organizador da obra, dedica o livro a memoria de Milton Santos
Traz 18 artigos de diferentes autores sobre a questão da globalização e mídia. O Fórum Social Mundial, em Porto Alegre é citado como contraponto a ordem mundial do pensamento único. Os autores citam também Roland Barthes, Marx, Adam Smith, Roberto Reich (economista norte-americano),

---------------------------------------------------------------------
TRECHOS

APRESENTAÇÃO
A mídia desempenha função estratégica primordial enquanto máquina produtiva que legitima ideologicamente a globalização capitalista.
Seu discurso procura unifica-la em torno de crenças, valores, estilos de vida e padrões de consumo quase sempre alinhados com a razão competitiva dos mercados globalizados.
---------------------------------------------------------------------

O GLOBALISMO COMO BARBÁRIE
Muniz Sodré, titular da Escola de Comunicação da Universidade do Rio de Janeiro

A linguagem cria, mas do que reflete a realidade.
Quando um grupo hegemônico obtém da sociedade a aceitação de uma ideologia, está obtendo aval semântico para uma pletora de pontos de vista, visões de mundo.
Turbocapitalismo, a aceleração do capital.Esse processo de transnacionalização do sistema político e atualização do velho liberalismo de Adam Smith a que vem chamando de globalização e cuja autopropaganda atravessada pela ideologia do pensamento único, lhe atribui poderes universais de uniformização.
Globalização é um outro nome para teledistribuição mundial de um determinado padrão de coisas, principalmente informações.
Esvazia-se progressivamente o discurso do indivíduo ativo (participação política, desejo de propriedade, vontade produtiva) movido por uma consciência social forte, em favor de um individualismo passivo.
O avanço tecnológico parece como a última das promessas realizáveis do capitalismo.
A idéia de um mercado que se ajusta a si mesmo é uma utopia: uma instituição dessa ordem não poderia existir sem aniquilar a substância humana e natural da sociedade, porque destruiria o homem e a paisagem.
Desde princípio deriva o sistema de mercado auto-regulado. A naturalização do homo economicus em bases mercadológicas, feita por Adam Smith, era tão artificial quanto a psicologia do selvagem feita por Rousseau. Fez-se, na verdade, uma retrospecção ideológica que forjava a ficção do homem primitivo como naturalmente propenso ao mercado.
A ontologia do homo economicus, teoricamente problemática e socialmente anti-humana, seria o sintoma filosófico da barbárie moderna.
A discriminação - desde suas formas difusas até o racismo stricto sensu - está enraizada no tecido social da civilização tecnoeconômica.
O espaço público, cada vez mais confundido com o publicitário, as significações neoliberais transformam-se na doxa, senso comum, e ensejam mecanismos do que Roland Barthes chamou de ex-nominação: o neoliberal denega o nome próprio, diz que é social-democrata ou qualquer outra coisa. Esta é uma espécie de luxo de todo discurso hegemônico.
Portanto, uma coisa é a forma real da globalização em curso; outra é o seu formato midiático ou a sua representação social trabalhada pelo que o economista norte-americano Roberto Reich chama de analistas simbólico,s ou seja, as elites logotécnicas constituídas por jornalistas, financistas, professores, especialistas em marketing, artistas, tecnoburocratas de um modo geral.
---------------------------------------------------------------------
CULTURA MCWORLD
Benjamin Barber, prof. University of Maryland

A cultura mundial americana - a cultura McWorld - é menos hostil que indiferente à democracia: seu objetivo é uma sociedade universal de consumo que não seria composta nem por tribos nem por cidadãos, todos maus clientes potenciais, mas por essa nova raça de homens e mulheres que são os consumidores.
MTV McDonald´s, Dineylândia, são antes de tudo ícones da cultura americana,cavalos de Tróia dos Estados Unidos imiscuindo-se nas culturas das outras nações.
É uma cultura reduzida ao estado de mercadoria.
Ideologia transforma-se em uma espécie de videologia.
Nós as chamamos de multinacionais, mas os qualificativos pós-nacionais ou antinacionais seriam mais apropriados.
Nos anos 60 Marcuse previa a redução do indivíduo a uma única faceta: um conformismo subjugado antes pela tecnologia do que pelo terror e no qual a civilização não produziria mais que um homem unidimensional. Hoje, a capacidade do mercado de assimilar diferenças e contestações e embaralhar as oposições ideológicas, graças à imprecisão criada entre informação e espetáculo, recoloca os temores de Marcuse na ordem do dia.
Elas são emblemáticas da Privatopia, esta nova cidade à margem da sociedade da maioria - vulgar, multirracial e perigosa -, que oferece um universo de calma e segurança colocado sob vigilância máxima.
O problema não se situa com o capitalismo enquanto tal, mas na idéia de que, sozinho, o capitalismo poderia responder a todas as necessidades humanas e fornecer a solução de todos os problemas. E, assim como outrora certos progressistas acreditavam que um governo paternalista poderia resolver todos os problemas, os conservadores antiestatistas estão convencidos não apenas de que o Estado não pode resolver nenhum problema humano, mas também de que o mercado pode ter sucesso em todas as partes onde fracassou o Estado.
Se não podemos garantir às comunidades democráticas a expressão de sua necessidade de pertencimento, comunidades não-democráticas preencherão o vazio assim criado em detrimento da liberdade e da igualdade. As gangues tomarão o lugar das associações de bairro....
Âqueles que dispõem dos meios para tanto, o mercado assegura os bens que desejarem, mas não as vidas às quais aspiram; a prosperidade para alguns, o desespero para muitos, a dignidade para ninguém.
O paradoxo do McWorld: destrói a base financeira dos consumidores, dos quais necessita, vendendo-lhes produtos a preços mais competitivos; superproduz bens e subproduz emprego, incapaz de ver que os dois são interdependentes.
O marketing volta-se tanto para os símbolos quanto para os bens e não visa comercializar produtos, mas estilos de vida e imagens: o cidadão abastado, o caubói austero, as estrelas de Hollywood, um Jardim do Éden sem fronteiras.
Assim também transportes públicos freiam as vendas de automóveis, trazendo prejuízos para as indústrias do aço, do cimento, da borracha e do petróleo.
A maioria dos novos gadgets tecnológicos, que deveriam nos liberar do escritório, na verdade nos aprisiona em uma esfera de trabalho em constante expansão.
Na McWorld da soberania dos mercados, os dirigentes das grandes empresas não estão condenados a ser cidadãos irresponsáveis?
Uma concorrência capitalista razoavelmente leal só começou a existir sob os olhos vigilantes de governos democráticos que implementavam políticas keynesianas. Deixados a própria sorte, os mercados são incapazes a chegar a tal resultado.
O conceito em nome do qual se constrói essa desintegração vertical frenética tem o nome de sinergia. Uma maneira de não dizer monopólio.
Entre a Jihad e o McWorld. Se não for encontrada uma terceira via entre o Estado e o mercado, talvez sobrevivamos como consumidores, mas não mais existiremos como cidadãos.
---------------------------------------------------------------------
GLOBALIZAÇÃO COMUNICACIONAL E TRANSFORMAÇÃO CULTURAL
Jesus Martin-Barbero, professor, México

É o mercado que, mais do que unir, busca unificar (Milton Santos). E, atualmente, o que está unificado em nível mundial não é uma vontade de liberdade, mas o de competitividade.
O comunicador deixa, portanto, de figurar como intermediário ... para assumir papel de mediador: aquele que torna explícita a relação entre diferença cultural e desigualdade social. Comunicação como a colocação em comum de sentidos da vida e da sociedade.
Tudo isso implica uma ética do discurso, que torne possível a valorização das diferentes falas, das diversas competências comunicativas, sem cair no populismo de que tudo vale se vem de baixo.
E isso implica trabalhar especialmente contra a crescente falta de solidariedade que é consequência das políticas neoliberais e mercantilistas que, ao levar à privatização os serviços públicos básicos, estão rompendo o elo da coesão constitutiva entre gerações e arrastando as maiorias à desmoralização e à desesperança, enquanto as minorias acomodadas se encolhem em sua privacidade cercada, dissolvendo pela raiz o tecido coletivo e desvalorizando a experiência do coletivo, identificada com o âmbito da insegurança, da agressividade e do anonimato.
Comunicar foi e continua sendo muito mais difícil e amplo que informar.
Os meios de comunicação proporcionam acesso a outras visões de mundo. A diversidade de canais, em televisão, equivale à quantidade de canais.

--------------------------------------------------------------------
O CONTEXTO DO PÚBLICO: TRANSFORMAÇÕES COMUNICACIONAIS E SOCIOCULTURAIS
Aníbal Ford, professor da Universidad de Buenos Aires
A brecha entre a riqueza e a pobreza que passou, de 1960 a 1998, de 40 a 1 para 72 a 1. A quinta parte da população mundial que vive nos países de rendas mais elevadas detém 86% do PIB mundial, 82% dos mercados mundiais de exportação, 68% do investimento estrangeiro direto. 4 bilhões de pessoas vivem com menos de US$ 1 por dia, 17 milhões de criança morrem de enfermidades facilmente tratáveis, 1/3 dos habitantes do hemisfério sul não chegará aos 40 anos.
Tudo isso pode parecer ingênuo, porém, em uma aldeia global que não é nem harmônica, nem justa, nem homogênea, é importante pensar a modernidade, a educação, a diversidade tanto a partir da crise que sofremos quanto a partir da elaboração de projetos políticos, nesse caso culturais, informacionais, comunicacionais, que nos permitam sair dela.
------------------------------------------------------------------
TECNOBERGS GLOBAIS, MUNDIALIZAÇÃO E PLANETARIZAÇÃO
Renê Armand Dreifuss, professor de Ciências Políticas da UFF.

Tecnobergs que tornam o consumidor - individual, corporativo ou institucional - um reformulador de práticas do cotidiano,
deslocando o cidadão no exercício de sua cidadania, perdida na trasfronteirização das decisões e no distanciamento, físico e de dimensão mediática, dos centros de poder.
Esboçam os elementos constituintes de um novo modo de produção e de novas organizações sociais da produção, ambos sinergicamente transnacionalizados em realização global.
De finais da década de 1980 para meados da década de 1990, vivemos a globalização das economias de tecnobergs, baseadas em corporações determinantes no processo de mundialização das sociedades informacionais.
Transformações que apontam para os surpreendentes horizontes de inclusão ativa, participação diluída - depressivos e angustiantes para muitos, alucinantes e alienantes para outros -, que provocam euforia ou tristeza, acomodação ou revolta, estimulando o rompimento dos enquadramentos...que passam a ser vividos e sentidos no início do século XXI.
Vivemos 3 importante configurações em processo:
1. mundialização societária de valores, usos e costumes
2. globalização tecnoprodutiva e financeira de procedimentos e sentido
3. planetarização tecnoprodutiva e financeira de procedimentos e sentido.

Vive-se também um a experiência única, em seu começo recente, tanto em tempo quanto em possibilidades e instrumentos de uso e memória para apreender e informar. ]

São centenas de milhões de pessoas - uma efetiva população mundial, internética, diferenciada em comportamento das variadas populações nacionais, regionais, locais - que, além de viajar audiovisualmente pelos meios convencionais do século XX (rádio, televisão e cinema), passeia por outros canais do século XXI. São os viajantes digitais, consumidores-geradores-disseminadores de informação para os quais a intercomunicação través das fronteias, multimidiáticas ou territoriais está se tornando uma experiência possível e necessária, cotidiana e rotineira. Afinal, já são mais de meio bilhão as pessoas que acessam diariamente a rede mundial de intercomunicação e informação, menos de uma década depois da sua popularização. É o começo empresarial e o favorecimento governamental da ilusão de mercados societários livres e auto-regulados.
Os indivíduos integrados nessas culturas e sociedades em rede fazem parte dos dois bilhões de pessoas que passeiam virtualmente por meio de textos, imagens e sons emitidos por um sistema cibernético de comunicação colossal. A maioria sem nunca se ver.]]

O universo de cada homem é exatamente do tamanho de seu vocabulário (Wittgenstein). A mundialização lida também com a disseminação da homogeneização cultural. Mas as pessoas não só usam coisas e tem gostos semelhantes. Também desenvolvem visões de futuro compartilhadas.

A disseminação de padrões de consumo e exigências de uso que se tornam referenciais culturais e padrões societários na mundialização vai de mãos dadas com um amplo processo de concentração de controle de propriedade dos meios de produção e comercialização, por segmentos de produtos de consumo de massa.

Assim, ao mesmo tempo que vivemos um processo de homogeneização e uniformização, vivemos um processo de particularização e de afirmação das singularidades, em que (re) emergem entidades étnicas, religiosas, culturais...

Desta forma, os macromercados transnacionais espelham a reorganização dos vínculos interempresariais, mas expressam também as iniciativas intergovernamentais, envolvendo um elenco de movimentos e interações cooperativas e conflitivas.

Um exemplo muito particular de cadeia (empresarial) regional de produção, por tratar-se de produtos emblemático da mundialização, é o preparo da comida do McDonald´s mercosulino e arredores. Nas lanchonetes da Argentina, Uruguai, Brasil e Chile, o peixe utilizado no preparo do McFisch é do Chile, as batatas fritas vêm da Argentina e a carne do hambúrguer, do Uruguai; as tortas de maçã e banana, o queijo e as coberturas dos sundaes e o material de embalagem dos hambúrgues vendidos em 76 lojas da Argentina e 14 do Uruguai são do Brasil.
-------------------------------------------------------------------
A ARTE DE LUCRAR: GLOBALIZAÇÃO, MONOPÓLIO E EXPLORAÇÃO DA CULTURA
David Harvey, pesquisador da London School.

A competição, como Marx observou, tende sempre ao monopólio (ou oligopólio), simplesmente porque a sobrevivência do mais apto na guerra de todos contra todos elimina as empresas mais fracas.
Não é por acidente que a liberalização dos mercados e a celebração da competição nos últimos anos produziram uma incrível centralização de capital (Murdoch, Microsoft, Bertelsmann, serviços financeiros, fusões e consolidações de empresa aéreas,varejistas, setores tradicionais como o automobilístico e o petrolífero. A mão visível da empresa, como Alfred Chandler a chama, assumiu, em consequência, importância muito maior para a geografia histórica capitalista do que a mão invisível do mercado, tão valorizada por Adam Smith.
-------------------------------------------------------------------

MARCAS GLOBAIS E PODER CORPORATIVO
Naomi Klein, jornalista canadense, autora do best seller No Logo (Sem Logo, Record),

Como provaram as empresas pontocom, uma economia baseada em marcas é uma economia frágil.

Um documentário da Douglas Rushkoff, chamado The marketing of cool, que tratava da infra-estrutura cultural existente para vasculhar a cultura da juventude e descobrir as tendências mais recentes. Observar jovens em seu habitat natural, como se fossem animais selvagens, e depois vender essas informações para a Nike, a Virgin, a MTV.

O que quer que seja novo é suporte para as marcas. Nossas idéias políticas, se pensarmos na Benneton vendendo suéters usando condenados à morte, nossas noções de família e comunidade, nossos heróis históricos, se pensarmos na campanha da Aple Think different e seu uso de pessoas como Gandhi, Martin Luther King e Picasso, é claro, sem permissão. A marca alimenta-se do significado, é um gigantesco aspirador de significado. É também um aspirador de espaço porque basta ter uma nova idéia, você tem que expressá-la em algum lugar do mundo real e tem de contar sua história, sua narrativa, a narrativa de usa marca, do seu mito.
A Disney entendeu que seus filmes eram anúncios de seus brinquedos, que por sua vez, divulgavam seus parques temáticos.Há uma cidade na Flórida chamada Celebration,que é uma cidade Disney. É a primeira cidade de marca.

Empresas que costumam satisfazer-se em cobrar 100% acima do custo para produzir e vender seus produtos agora estão querendo um mínimo de 400% acima do custo, porque precisam do resto para gastar com a marca. A melhor maneira de conseguir esse tipo de ganho é fazer com que outros fabriquem seus produtos. Ouvimos cada vez mais: "Estamos agora terceirizando para a China", o que significa "estamos comprando nosso próprio produto". Melhor ainda, conseguir uma rede global de fornecedores subfornecedores e trabalhadores domiciliares e temporários que se empenhem para ganhar o seu contrato, e então se compra de quem cobrar menos.Eis o paradigma da Nike.

A reação da privatização de todos os aspectos da vida é o fio que liga muitas campanhas que continuam convergindo nas grandes manifestações.

------------------------------------------------------------------
A CAPITALIZAÇÃO DA MÍDIA NA LÓGICA DA GLOBALIZAÇÃO
Dênis de Moraes, professor e pós da Universidade Federal Fluminense

As corporações de mídia e entretenimento exercem um duplo papel estratégico na contemporaneidade. O primeiro diz respeito à sua condição peculiar de agentes operacionais da globalização, do ponto de vista da enunciação discursiva. Não apenas legitimam o ideário global, como também o transformam no discurso social hegemônico, propagando visões de mundo e modos de vida que transferem para o mercado a regulação das demandas da vida. A chamada grande mídia fabrica o consenso sobre a superioridade das economias abertas. O pensamento único, expressão usada por Ignacio Ramonet ao se referir a matriz ideológica que subordina os direitos sociais dos cidadãos a razão competitiva dos mercados financeiros - oculta, intencionalmente, a carga atômica de desigualdades e exclusões.

A máquina é autovalidaante e autopoiética - ou seja, sistêmica. Ela constrói tecidos sociais que esvaziam, ou tornam ineficaz, qualquer contradição; cria situações nas quais, antes de neutralizar coercitivamente a diferença parece absorve-la num jogo insignificantes de equilíbrios autogeradores e auto-reguladores.

A palavra reforma foi exitosamente utilizada para designar o que qualquer análise minimamente rigorosa não vacilaria em qualificar de contra reforma. A palavra desregulamentação por seu turno, foi ativamente promovida pelos ideólogos neoliberais para aludir a um processo pelo qual se suprimiam as intervenções governamentais na economia, a fim de restaurar a auto-regulamentação natural dos processos econômicos.

Para os titãs de mídia e entretenimento, importam pouco os indicadores de miséria, desemprego e desigualdades sociais; eles querem, isto sim, explorar os potenciais de consumo existentes.

Há um certo sincretismo cultural, mencionado por Eric Hobsbawm ao argumentar que há um integração de variantes locais da cultura global, e não um conflito entre elas. Ele cita o caso dos filmes kung fu produzidos em Hong Kong, nos quais se fundem elementos dos westerns norte-americanos e da tradição das artes marciais chinesas, embalados pelos efeitos especiais hollywoodianos.

(AI)
A AOL-Time Warner planejou milimetricamente as sinergias para o filme Harry Potter e a pedra filosofal, segunda maior bilheteria da história do cinema, atrás de Titanic. Produzido pelos estúdios da Warner Brothers, teve a trilha sonora gravada pela Atlantic Records, selo da Warner, recebeu ampla cobertura nas redes de TV a cabo do grupo, foi capa da Entertainnment Weekly e destaque na Time, ambas as revistas vinculadas à sua divisão editorial. Os sites da AOL divulgaram a película por intermédio de jogos, treilers, venda antecipada de ingressos e sorteios para pré-estréia. Usamos diferentes plataformas de mídia para impulsionar o filme, e por meio do sucesso do cinema, estimulamos outros excelentes negócios através das mesmas plataformas, resume Richard Parsons, CEO da AOL-Time Warner, que licenciou mais de 100 produtos com a marca Harry Potter.

As pequenas e médias firmas fixam-se em pequenos nichos mercadológicos ou se tornam fornecedores de insumos, produtos e serviços, sempre que é vantajoso para as líderes terceirizarem a produção ou adquirirem itens cuja fabricação seria dispendiosa.

Como efeito extremamente maléfico das reestruturações tecnoprodutivas, sucedem-se ondas de demissões e cortes de gastos, além da precarização do emprego (redução de salários, extensão da jornada de trabalho, terceirização, perdas de direitos trabalhistas e previdenciários). A contratação da concorrência atinge o seu patamar máximo quando os players optam por fusões, impondo barreiras à entrada de novos competidores

A Interpublic, número 1 do setor de publicidade. As sua agências incluem a McCann-Erickson, Lowe Lintas e FCB. Tem também a francesa Publicis, que assumiu a liderança no mercado europeu e o terceiro lugar nos EUA.
--------------------------------------------------------------------
MÍDIA GLOBAL, NEOLOBERALISMO E IMPERIALISMO
Robert W. Mcchesney, professor da University of Illinoois, um dos editores da Monthly Review.

Para os chefes da torcida capitalista, como Thomas Friedman, do New York Times, tudo isso indica que a raça humana está entrando numa nova Idade de Ouro. Tudo o que as pessoas precisam fazer é sentar-se, calar-se e comprar, e deixar que os mercados e a tecnologia realizem suas maravilhas mágicas

Entendida como uma era de neoliberalismo em vez de simplesmente globalização, a época atual parece ser menos o resultado de forças naturais incontroláveis e mais o estágio recente da luta de classes sob o capitalismo.
"O que vocês estão vendo", diz Christopher Dixon, analista de m[idia da empresa de investimentos Paine Webber, "é a criação de um oligopólio global. Aconteceu com as indústrias petrolíferas e automobilísticas do início do século XX, agora está acontecendo com a indústria do entretenimento". Em curto prazo, o mercado da mídia global passou a ser dominado por sete multinacionais: Disney, AOL-Time Warner, Sony, News Corporation, Viacom, Vivendi e Bertelsmann. Nenhuma empres existia em sua forma atual de empresas de mídia há apenas 15 anos. E mal começamos a descrever todo o portgólio patrimonial da News Corpçoration: filmes da Twentieth Century Fox, rede de TV Fox, editora HarperCollins, estações de TV, canais de TV a cabo, revistas, mais de 130 jornais e times esportivos profissionais.

O ataque à autonomia profissional do jornalismo é apenas a parte mais evidente da transformação neoliberal da mídia e das comunicações. Todos os valores e instituições de serviço público que interferiram na maximização do lucro estão no paredão.
No entanto, neoliberalismo é mais que uma teoria econômica. É também uma teoria política. Ela pressupõe que a dominação empresarial da sociedade ocorra com mais eficácia quando há uma democracia representativa, mas ó quando esta é uma forma política fraca e ineficiente, caracterizada por alto grau de despolitização, especialmente entre pobres e trabalhadores.
O consumismo, a desigualdade de classes e o chamado individualismo tendem a ser considerados naturais e mesmo benevolentes, enquanto a política, os valores cívicos e as atividades contra o mercado são marginalizados.
Como observou George Orwell em sua introdução não publicada de A revolução dos bichos (animal Farm), a censura nas sociedades libres é infinitamente mais sofisticada e completa do que nas ditaduras, porque "idéias pouco populares podem ser silenciadas e fatos inconvenientes ocultados sem nenhuma necessidade de proibição oficial".
Recordem as palavras aprovadoras deThomas Friedman: "A mão oculta do mercado jamais funcionará sem um punho oculto. O McDonald´s não pode florescer sem a McDonnell Douglas, criadora do caça F-15, e o punho oculto que mantém o mundo seguro para a tecnologia do Vale do Silício chama-se Exército, Força Aérea, Marinha e Corpo de Fuzileiro dos EUA".

Mas o sistema global é extremamente instável. Por mais lucrativo que o neoliberalismo seja para os ricos, foi um desastre para as classes pobres e trabalhadoras do mundo. O número de pessoas, no mundo todo, que vivem com menos de um dólar por dia aumentou de 1,2 bilhões em 1987 para 1,5 bilhões em 2000 e parece que vai continuar crescendo por muitos anos. O ethos do eu primeiro, você que se dane, promovido pelo neoliberalismo contribuiu para a corrupção global generalizada, já que princípios de serviços público são difíceis de manter.
---------------------------------------------------------------------

O PODER MIDIÁTICO
Ignácio Ramonet, jornalista, diretor do Le Monde Diplomatique e professor

Vimos aparecer recentemente um segundo grupo euro-americano, ou franco-americano, o Vivendi Universal. Ele se assemelha ao grupo Murdoch, não tem especialidade no campo da comunicação.

O primeiro é o poder econômico e financeiro. E o segundo é o poder midiático. Porque o sistema midiático, da maneira como o defino, é o aparato ideológico da globalização.
O que surgiu como característica importante, primeiro, é que hoje a informação é considerada essencialmente uma mercadoria. Não é um discurso que tenha a vocação ética de educar o cidadão ou de informar, no bom sentido da palavra, o cidadão, pois tem essencialmente e antes de mais nada uma perspectiva comercial.

Passamos de um mundo do jornalismo para um mundo do imediatismo, do instantaneísmo, não há tempo para estudar a informação. A informação é feita cada vez mais de impressões, de sensações.
Qual é a terceira característica da informação hoje? Essencialmente, é que tende a ser cada dia mais gratuita.
Ainda podíamos dizer que uma empresa jornalística vendia informação aos cidadãos. Era a sua forma normal, enquanto hoje uma empresa midiática vende consumidores a seus anunciantes.

Os grupos de mídia se dirigem a massas que são planetárias, enquanto nós, muita vezes, seguindo pensando o contra-discurso de forma demasiado local ou demasiado circunstancial. Aqui também existe uma diferença entre ilustrar aqueles que já sabem e dirigir-se a um público geral. Outra diferença é que, por vezes, o discursos militante ou de contra-informação não é suficientemente pedagógico ou não tem os critérios de sedução que lhe permitiriam competir com o discurso dominante. Pois bem, qual é a característica do discurso das grandes empresas midiáticas? É a retórica. Em primeiro lugar, é um discurso rápido, não há efeitos longos, na imprensa, os artigos são cada vez mais curtos, as frases são breves, os títulos impactantes, como um modelo publicitário ou qualquer outro discurso da cultura de massa. Primeira característica: a rapidez para evitar o tédio. Segunda característica: a simplicidade. O discurso dominante, nos grandes sistemas midiáticos, é muito elementar, é um vocabulário que todo mundo possui, é uma construção sintática, uma construção retórica que todo mundo pode entender. No cinema, no rádio, na literatura de massa, as características são as mesmas, ou seja, a simplicidade da construção. A terceira é utilizar constantemente algo que poderíamos chamar de elementos de espetacularização, de dramatização: o riso, por exemplo, no discurso publicitário; o discurso eufórico ou a tragédia no discurso do noticiário. Fazer rir ou fazer chorar. Em todo caso, expressar-se através das emoções. De maneira geral, o discurso que recebemos é um discurso infantilizante. E a dificuldade está em construir um discurso de contra-informação que apresente também características de sedução, ou seja, que não se dirija a uma pequena minoria, mas que possa dirigir-se também às massas, sem ser, definitivamente, um discurso doutrinário, dogmático, um discurso de pura retórica, artificial. Portanto, enquanto o nível educacional sobe, o nível midiático desce.

Todos sabem que o Le Monde Diplomatique é feito por 10 pessoas.. Pouco a pouco, mediante uma política de respeito ao cidadão, conseguimos que o número de leitores se multiplicasse e não apenas em nossa edição francesa, pois existem umas 15 edições em várias línguas. Temo hoje mais de um milhão de pessoas que lêem a cada mês alguns desses jornais em suas diferentes edições. É um pequeno e modesto exemplo diante de um grupo como a Time Warner, mas este modesto indica que há uma demanda, hoje em escala internacional.

O intolerável é que nossa liberdade de cidadãos se veja constantemente limitada por esta agressão publicitária que sofremos quando estamos em contato com qualquer meio de comunicação ou simplesmente quando circulamos pela cidade, onde resta cada vez menos espaço público. Penso que é preciso desenvolver o que chegamos de ecologia da informação. É preciso defender a idéia de que, assim com o meio ambiente está contaminado pelo uso de metais pesados e porque existe uma hiperindustrialização que produziu o desastre ambiental que conhecemos neste ou naquele aspecto, assim também a informação está contaminada essencialmente por uma série de mentiras que podem ser factualmente demonstradas.
--------------------------------------------------------------------

INTERNET E SOCIEDADE EM REDE
Manuel Castells, sociólogo, lecionou na University of California.

Concretamente, a idéia de que iríamos trabalhar em casa está sendo desmentida empiricamente. O que a Internet permite é algo distinto: facilita trabalhar em qualquer lugar - não é o teletrabalho que está se desenvolvendo.

Foi dito aqui que a Internet aliena, isola, leva à depressão, ao suicídio, a toda espécie de coisas horríveis ou, pelo contrário, que a Internet é um mundo extraordinário de liberdade, de desenvolvimento, onde todo mundo se quer bem, onde todos estão em comunidade. Sabemos que, por exemplo, por um estudo que a Britsh Telecom acabou de fazer, sabemos que não muda nada. Vale dizer que aquilo que as pessoas faziam, elas continuam fazendo com a Internet: para quem as coisas andavam bem, ficaram ainda melhores, e para quem elas iam mal, continuam igualmente ruins. Quem tinha amigos, também os tem na Internet e quem não os tinha, tampouco os tem na Internet. A Internet é um instrumento que desenvolve, mas que não muda comportamentos. Muito pelo contrário, os comportamentos apropriam-se da Internet, amplificam-se e potencializam-se a partir de então. É algo que podemos chamar de quanto mais, mais. Ou seja, quanto mais rede social física se tem, mais se utiliza a Internet. Quanto mais se usa a Internet, mais se reforça a rede física que se tem.
Segundo a corte suprema americana, os cidadãos têm um direito constitucional ao caos.
A Internet não é simplesmente uma tecnologia, é o meio de comunicação que constitui a forma organizativa de nossas sociedades, é o equivalente ao que foi a fábrica ou a grande corporação na era industrial. A Internet é coração de um novo paradigma sociotécnico, que constitui na realidade a base material de nossas vidas e de nossas formas de relação , de trabalho e de comunicação. O que a Internet faz é processar a virtualidade e transformá-la em nossa realidade, constituindo a sociedade em rede, que é a sociedade em que vivemos.
--------------------------------------------------------------------

O FUTURO DA TECNOSFERA DE REDE
Franco Berardi (Bifo),professor da Universidade da Bolonha, Itália.

Cada vez mais informação significa ter sempre menos informações, porque os operadores humanos devem fazer um crivo de uma massa crescente de dados em um tempo que não pode ser esticado até o infinito.
A utopia da tecnologia faliu porque, enquanto mais complexos são os sistemas, mais fluxos de comunicação fogem a qualquer controle.

Nas sociedades pós-industriais, a atenção se torna uma moeda corrente.
---------------------------------------------------------------------

CIDADANIA, MÍDIA DIGITAL E GLOBALIZAÇÃO
Mark Poster, Professor da University of California.

Marx prossegue para mostrar como a propriedade privada, a relação econômica, estrutura a relação política, tornando "homem" não o "ser humano", mas o burguês.

O discurso crítico atual localiza um antagonismo enter globalização e cidadania. Esta posição sustenta que o aprofundamento dos processos de globalização despe o poder do cidadão.

Não estou sugerindo que o espaço político que se abre ou que pode abrir-se na Internet seja um reino utópico de igualdade e liberdade. Longe disso, cada área da Internet, de e-mail, de salas de bate-papo, etc, contém suas próprias formas de hierarquia e controle, manipulações e riscos.
--------------------------------------------------------------------
MOVIMENTOS EM REDE, SOBERANIA NACIONAL E GLOBALIZAÇÃO ALTERNATIVA
Michael Hardt, professor de Literatura da Duke University.

A posição da globalização alternativa e não soberana, pelo contrário, é minoritária no Fórum, não em termos quantitativos, mas em termos de representação.
---------------------------------------------------------------------
UMA MUNDIALIZAÇÃO PLURAL
Edgar Morin, professor emérito da Escola de Altos Estudos Sociais, de Paris.

A globalização, que começa em 1990 é a etapa atual de uma era planetária que se inaugurou no século XVI com a conquista das Américas e a expansão das potências ocidentais da Europa sobre o mundo. Esse processo é marcado pela depredação,pela escravidão, pela colonização.

Gary Davis foi o precursor que, depois da Segunda Guerra Mundial, criou a Associação Internacional dos Cidadãos do Mundo, que, embora marginalizada, preservou a aspiração à unidade planetária.

Em março de 2001 foi criada, por iniciativa de Federico Mayor, antigo diretor da Unesco, uma rede de redes da sociedade civil denominada Ubuntu (palavra africana que designa a humanidade).

O 11 de setembro de 2001 constituiu um eletrochoque decisivo para o devir da sociedade-mundo. Espalhou pelo globo, a partir da desintegração das torres gêmeas, o sentimento de uma ameaça planetária. Desejando desintegrar a globalização, Al Qaeda estimulou a formação de uma polícia mundial.

Proponho o que chamei de antropolítica (política da humanidade em escala planetária) e de política de civilização. Isso deve fazer com que nos desfaçamos, já de início, do termo desenvolvimento, mesmo emendado ou edulcorado como desenvolvimento durável, sustentável ou humano. A idéia de desenvolvimento sempre comportou uma base tecnoeconômica, mensurável pelos indicadores do crescimento e de renda. Ela supõe de maneira implícita que o desenvolvimento tecnoeconômico é a locomotiva que arrasta atrás de si, naturalmente, um desenvolvimento humano cujo modelo completo e bem-sucedido é aquele dos países renomados e desenvolvidos ou, em outras palavras, ocidentais.
O desenvolvimento, noção aparentemente universalista, também constitui um mito típico do sociocentrismo ocidental, um motor de ocidentalização forçada, um instrumento de colonização de subdesenvolvidos (do Sul) pelo Norte. Como justamente diz Serge Latouche, esses valores ocidentais (de desenvolvimento) são precisamente aqueles que é preciso por em causa para encontrar solução para os problemas do mundo contemporâneo.
O desenvolvimento ignora aquilo que não é calculável nem mensurável, isto é, a vida, o sofrimento, a alegria, o amor. Sua unica medida de satisfação está no crescimento (da produção, da produtividade, da renda monetária). Concebido unicamente em termos quantitativos, ignora as qualidades da existência, da solidariedade, do meio, a qualidade da vida, as riquezas humanas não calculáveis e não monetarizáveis. Ele ignora a doação, a magnanimidade, a honra, a consciência. Sua abordagem varre os tesouros culturais e os conhecimentos das civilizações arcaicas e tradicionais, o conceito cego e grosseiro de subdesenvolvimento desintegra as artes de vida e sabedorias de culturas milenares.
O termo desenvolvimento durável ou sustentável pode atenuar ou tornar mais lento, mas não modificar esse curso destruidor. Trata-se desde agora, não tanto de atenuar ou tornar mais lento, mas de conceber um novo ponto de partida. Nós precisamos não de continuar, mas de recomeçar.
São estes princípios que permitiriam substituir a noção de desenvolvimento por aquelas de uma política da humanidade (antropolítica).

O problema da pobreza é mal estimado em termos de renda. É sobretudo o da injustiça que sofrem os indigentes, os miseráveis, necessitados, os subalternos, os proletários, não apenas diante da subnutrição ou da doença, mas em todos os aspectos da existência, nos quais se veem desprovidos de respeito e de consideração. O problema dos despossuídos é sua impotência diante do desprezo, da ignorância, dos goles da sorte.

A nave espacial Terra é impulsionada por quatro motores associados e ao mesmo tempo incontrolados: ciência, técnica, indústria, capitalismo (lucro).

É possível, portanto, manter a esperança na desesperança. Acrescentamos a isso o apelo à vontade em face da grandeza do desafio. Embora quase ninguém ainda tenha consciência, nunca houve uma causa tão grande, tão nobre, tão necessária quanto a causa da humanidade para, ao mesmo tempo e inseparavelmente, sobreviver, viver e humanizar-se.
---------------------------------------------------------------------
PELA CIBERDEMOCRACIA
Pierre Lévy, prof. Universidade de Ottawa, Canadá

As mídias interativas e as comunidades virtuais desterritorializadas abrem uma nova esfera pública em que floresce a liberdade de expressão.
O desenvolvimento do ciberespaço já suscitou novas práticas políticas. São os primeiros passos da ciberdemocracia.

A libertação da palavra na Internet

As trancas do acesso à esfera pública rompem-se umas depois das outras. Nem os editores, nem os redatores-chefes de revistas ou jornais, nem os produtores de rádio ou televisão, nem os responsáveis por museus, nem professores, nem os Estados, nem os grandes grupos de comunicação podem mais controlar as informações e mensagens de todos os tipos que circulam na nova esfera pública. Com a previsível perda de influência dos mediadores culturais tradicionais, esta nova situação anuncia um salto sem precedentes na liberdade de expressão.
Batizei de omnivisão, o regime de visibilidade que se estabelece no novo espaço público.

A nova esfera pública tem 3 características essenciais, importantes de perceber se quisermos tirar todas as conclusões referentes às nova formas de governança: a inclusão, a transparência e a universalidade. O ciberespaço é mais inclusivo do que todos os outros meios de comunicação anteriores.

Os cidadãos que assim o desejarem podem doravante deixar de lado jornalistas, médicos, advogados, professores ou homens políticos e chegar diretamente à informação política, médica, científica ou jurídica original, inclusive associando-se on line a outras pessoas decididas a compreender juntas o que está em jugo.

O desenvolvimento econômico (e o business), a manutenção do laço social on line, os avanços da administração eletrônica municipal e as inovações em matéria de democracia participativa em escala local são dificilmente separáveis. De fato, todos participam de uma mesma melhoria da inteligência coletiva em um quadro territorial.

Recentes pesquisas norte-americanas mostram que os internautas são mais interessados pela atualidade política e votam mais que os cidadãos não conectados.

É fato que o movimento antiglobalização inova mais por suas formas de organização do que por suas idéias. Suas manifestações planetárias, suas estruturas flexíveis e descentralizadas, com suas redes de informação, utilizam ao máximo as possibilidades do ciberespaço e os fluxos rápidos internacionais. Entre todas as formas de ativismo online que hoje se experimentam, deve-se notar particularmente a rede de sites Indymedia.org. Constitui uma espécie de agência de notícias militante, descentralizada, embora inteiramente conectada, autorizando qualquer pessoa a enviar seus textos, gravações de áudio e vídeo, sem qualquer tipo de censura.
-------------------------------------------------------------------
UMA OUTRA COMUNICAÇÃO É POSSÍVEL (E NECESSÁRIA)
José Arbex Jr,editor da Caros Amigos, professor da Cásper Líbero

O jornalista Daniel Herz, editor da revista eletrônica www.acessocom.com.br (não existe mais) enumera várias evidências públicas e notórias de relações promiscuas entre os grupos que monopolizam a mídia e o estado brasileiro.


A edição de 2002 do jornal laboratório Esquinas de São Paulo da Cásper Líbero foi censurada pela imprensa oficial do estado, que rodava o jornal em troca de anúncios. Motivo - capa do Esquinas mostrava a foto de um casal homossexual, formado por dois homens, se beijando, um era negro e outro branco, com discretos brincos um crucifixo e o outro com estrela de David. Alegaram que o material era polêmico e de mal gosto.
---------------------------------------------------------------------
PARA UMA AGENDA SOCIAL EM COMUNICAÇÃO
Osvaldo León, jornalista, diretor da Agência Latinoamericana de Informacion (Alai), Equador.

A nova espiral de violência e mentiras que explodiu no mundo na esteira dos atentados registrados nos EUA em 11 de setembro de 2001 veio, bruscamente, configurar um cenário adverso às lutas democráticas.

A democratização da comunicação é antes de tudo uma questão de cidadania e justiça social, que se demarca no direito humano a informação e à comunicação.

Hoje em dia são 7 as corporações que dominam o mercado mundial da comunicação (Disney, AOL-Time Warner, Sony, News Corporation, Viacom e Bertelsman).
Como se trata de um projeto global, este processo se fez acompanhar da imposição tanto de políticas de liberalização e desregulação (sobre tudo em matéria de telecomunicações, para eliminar qualquer regulação ou espaço estatal que pudesse constituir obstáculo para a expansão transnacional) quanto de normas (como é o caso da nova interpretação de direitos de propriedade intelectual) oriundas para salvaguardar seus interesses e conseguir que, de uma vez por todas, a informação e a produção sejam consideradas simples mercadorias.
Não é surpreendente, portanto, que a promessa de futuro se delineie como abundante informação gratuita, mas banal - embora espetacularizada pelos meios de comunicação -, sendo que só quem puder pagar terá acesso a uma informação de qualidade.
Ou seja, um mundo onde a liberdade se mede pela ausência de obstáculos para o s participantes do mercado. Nesse marco, recuperou espaço o discurso da liberdade de imprensa, transmutado em liberdade de empresa.

E a mídia comercial mede seus Êxitos em termos dos lucros que realiza em dois sentidos: os que resultam da venda de produtos às audiências e os que resultam da venda de audiência aos anunciantes, o que nada tem a ver com o interesse público.

Entre os prejudicados com tais evoluções encontra-se o jornalismo, pois seu ofício - com a concentração operada no setor - viu-se deslocado pela lógica do entretenimento que se pauta pela frivolidade e pelo light. Tanto é que manda hoje em dia a fórmula "vencedora" dos 3 "s": sexo, sensacionalismo e sangue.

Ou seja, cuidar do ambiente informativo e cultural tanto quanto do ambiente natural, como garantia de futuro, tornou-se imperativo.

Outro setor com o qual é importante criar alianças são os movimentos de consumidores, para fortalecer movimentos de pressão sobre os meios e sistemas de comunicação, os quais tratam seus consumidores de maneira isolada, deixando-lhes como único poder aquele de comprar ou não comprar, de assistir ou desligar. Este poder seria maior se exercido de forma coletiva.

Seria ingênuo esperar que aconteça uma mudança a partir do interior do sistema. Só nos resta apostar em uma grande mobilização cidadã para modificar o curso dos acontecimentos.



comentários(0)comente



1 encontrados | exibindo 1 a 1


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR