Catrine Vieira 01/03/2017
Dramaticamente fantástico!
Alexander vive há três anos em um hospital, pois, apesar dessa não ser sua escolha, era isso morar na rua, onde não ofereceriam sessões de quimioterapia para controlar seu câncer e suas metástases. Sem muita expectativa de vida, ele só aguarda a morte vir buscá-lo; mas sem abandonar seus únicos companheiros, o ódio e o péssimo humor, que vivem ao seu lado desde sua infância cruel e sofrida.
“O quarto de um hospital não precisa ser bonito, nem aconchegante. Ele não precisa ser um lar. Não deve parecer um lar. Ele precisa passar a sensação de que precisamos fugir dele, de que precisamos ter medo dele. [...] Porém, essa regra não se aplicava a mim. Aquele era o meu lar.”.
Porém, tudo muda quando surge uma jovem de olhos azuis gentis, cabelos dourados e asas negras em seu quarto, dizendo ser sua guardiã e que veio com o intuído de ajudá-lo a se redimir. Seria uma alucinação causada pelos remédios, ele estava ficando louco depois de tanto tempo no hospital, ou, realmente, ela era o que dizia ser?
Ele não tem certeza sobre nada, mas a ouve. Aliás, sem família ou amigos, o fruto de sua loucura pelo menos faria-lhe companhia...
“— Você é o Anjo da Morte? [...]
— Não, não sou o Anjo da Morte, Alexander.
— Então o que você é? [...]
— Sou a sua Guardiã e estou aqui para ajudar.”
Raya continua frequentando o quarto de Alexander, o que faz com que ele, aos poucos, passe a acreditar na sua existência. Contudo, com a proximidade dos dois, o jovem começa a perceber que a Guardiã possui muitos segredos, e após algumas experiências não muito boas, ele acha mais seguro não confiar totalmente nela Além disso, há uma mancha de sangue em seu quarto, a qual não deixa-o em paz. O que era aquela mancha, e porque ela vivia se movendo, como se estivesse o atraindo?
“— Sabe qual a melhor maneira de dobrar uma pessoa? Enlouquecendo-a.”
Entretanto, em meio a tantos problemas, mistério, desconfiança e dor, Alexander põe-se a repensar sobre seu comportamento e refletir sobre sua vida, deixando que a barreira que criara ao seu redor vá se fragmentando pouco a pouco. Algumas outras pessoas entram em sua vida, provando-lhe que nem todas as pessoas são terríveis como ele acreditava há pouco tempo, e que a bondade existe.
“Você precisa olhar ao seu redor, nem todos são ruins como pensa. Ainda existem seres humanos decentes andando sobre a Terra.”
Enquanto isso, as duas forças, o bem e o mal, lutam por sua lealdade. Mas após tantos anos vivendo sob o ódio, potencializando o mal, Alexander teria forças – e tempo – para mudar?
Em Guardião do Medo, Michelle Pereira nos apresenta um novo mundo, seres e mitologias, repletos de originalidade e mistério.
Os personagens criados pela autora são muito marcantes. Poderia falar o que gostei e o que não gostei em cada um, mas para não tornar isso aqui maior do que já está, vamos focar no protagonista – me perdoem Lúcia (maravilhosa), Mateus, Marcela e dona Cecília (uma senhorinha muito importante)...
Alexander é um cara muito difícil. Inicialmente, a autora nos mostra o quanto ele odeia o mundo por só tê-lo feito tanto mal desde criança, mas isso contribuiu muito para que o desenvolvimento e evolução do personagem fossem ainda melhor. Mesmo com a metamorfose do protagonista, não houve superficialidade, pois a Michelle soube caminhar antes de correr. Inclusive, um ponto muito bom foi o fato de Alexander não aceitar a existência de Raya logo de cara; a relutância dele deixou tudo mais real.
A escrita da autora é ótima! Além de fluída e envolvente, ela consegui muito bem passar ao leitor as emoções e sensações das cenas e dos personagens. Esse ponto é bastante notável quando se tratava da dor que o Alexandre sentia, tanto física quanto emocionalmente. As descrições do que ele sente deixa o leitor aflito – como se estivesse sentindo o mesmo – e, ao mesmo tempo, completamente submerso na leitura.
“A morte é uma amiga apenas quando dá uma festa surpresa particular para você. Quando ela não deixa você sofrer. Do contrário...”
Guardião do Medo traz um prólogo sensacional e instigante, apresentando a história sobre os Guardiões da Criação, as Filhas de Daemon e os Vórtices. Ele está bastante explicativo e envolvente. Apesar desses seres já terem aquela base “anjos e demônios”, há um ar
totalmente novo, por conta da história por traz deles e a aplicação na trama do livro.
Essa foi uma ótima leitura, para mim. A Michelle arrasou na escrita, na criação dos personagens e da mitologia... Com bastante drama, fantasia e mistério, ela fez de um livro que se passa – quase que 100% do tempo – em um hospital, algo envolvente e interessante, e que também passa ótimas mensagens sobre a vida e "o viver".
Indico o livro para quem gosta de um bom drama e fantasia.
E, minha nossa! Essa capa está maravilhosaaa!
“Quanto tempo será que falta para meu corpo definhar e ninguém ganhar essa disputa sobre mim? Nem Bem nem Mal? Embora eu ache que apenas o Mal estava trabalhado para me pegar.”
site: http://estantemineira.blogspot.com/2017/02/resenha-guardiao-do-medo-michelle-pereira.html