Resenhas - Deuses Americanos

Andreia Santana 17/11/2010

O inverno enlouquece os deuses
Dizem que nossas leituras nos mudam. Talvez a mudança não dure para sempre. Só o tempo de viajar em outro livro. O que me fascina na leitura, desde criança, é essa capacidade de viver várias vidas dentro de uma só.

Lendo Deuses Americanos, me senti um pouco Shadow, o ex-presidiário que percorre as estradas dos EUA buscando a si mesmo; Laura, a esposa de Shadow, transformada em morta-viva por obra de uma magia antiga; Odin o pai de todos, o deus que não faz concessões; Czernobog, cinzento no inverno e dourado na primavera. Difícil não perceber cada um deles dentro de mim. Mais difícil ainda largar o livro após o ponto final, mesmo que tenha outro na fila.

Leitores compulsivos e dotados de muita imaginação, por mais que acumulem camadas de leitura por cima de camadas de leitura, como o gelo sobre o lago de Lakeside, sempre guardam resíduos. Estou impregnada por frases, por diálogos inteiros, por reflexões sobre esse mundo mitológico recriado por Gaiman, em que deuses são homens como nós, se arrependem (alguns pelo menos) e morrem.

Deuses tão antigos quanto a Terra duelam com os novos (a cultura pop, as drogas psicodélicas, a mídia, as celebridades de 15 minutos de fama). Vencedores e perdedores? Ora um lado, ora o outro. A balança precisa se manter equilibrada.

No fim das contas, a conclusão é que não somos o brinquedo dos deuses, eles não interferem no nosso destino. Nós os criamos, eles existem porque nós queremos. Somos nós os deuses. Não é á toa que os gregos atribuiram a cada criatura mágica do seu panteão uma fraqueza humana.

Paulo 14/09/2020

"Eu acho que os mistérios dão certa graça ao mundo"
Pode ser verdadeira a descrição dada ao livro aqui na página do Skoob, este é um livro estranho (mas não mais estranho do que a série O Mochileiro das Galáxias). Ser estranho, porém, ao meu ver, é uma característica positiva, é o que dá a um livro originalidade. Ao fim e ao cabo, a literatura nos transporta aos mais diferentes mundos, com infinitas possibilidades. Então um livro estranho nada mais é do que um mundo que nunca pensaríamos concebível caso não tivéssemos viajado até ele.

Mas é curioso como agora, depois de terminado o livro, eu não sinta mais essa estranheza que eu senti no começo; talvez naquele momento eu ainda não estava com a mente aberta para absorver essa história. Depois de acompanhar Shadow em toda sua jornada, eu entendi tudo e não a vejo mais como os olhos de antes; como Shadow mesmo disse no começo: "eu sinto como se estivesse em um mundo com uma lógica própria. Com suas próprias regras", agora sei a lógica.

Gostei muito desse livro, demais; gostei mesmo nos momentos de descrições ou conversas que aparentemente não acrescentavam nada na história, que foram muitas. Em todo caso, eu li esses relatos de viagem como se eu mesmo estivesse acompanhando o heroi da história, participando de cada conversa e observando cada ambiente. Gostei dos personagens, de cada um deles, gostei dos mistérios, e, claro, amei a temática, ou as temáticas do livro.

Entre outras coisas, é um livro sobre ideias, crenças. "A questão não é o que é. A questão é o que as pessoas acham que é. De todo modo tudo é imaginário. Por isso que é importante. As pessoas só brigam por coisas imaginárias." Este livro, então, é o que acontece quando coisas imaginárias de antigamente vão minguando, e no lugar surgindo novas coisas imaginárias, pois "no fim das contas, ideias também podem morrer".

É um livro que vai me deixar pensando por alguns dias.

Rahrt 28/08/2023

Bom, mas perdi 60% da experiência
Se você tem o mínimo de entendimento acerca de mitologia, certamente vai se divertir muito mais. Gosto dos livros de Neil Gaiman porque a escrita dele é única, mas fiquei perdidíssima na leitura em grande parte do tempo porque (ah! referências!) eu não ~acompanhava~.

Queria uma versão que explicasse entre parênteses algo como ?esse cara aqui que ele tá falando agora é o Deus Tal?

Enfim, valeu (boas frases de efeito, boas reflexões etc). Mas não é meu favorito.

Elcimar.Matos 27/01/2022

Poderia ser muito melhor...
O livro traz uma premissa muito boa, mas o acontecimento principal (o que passa todo o livro dizendo que ia acontecer) não foi lá essas coisas. Não quero dizer que o livro é ruim, mas considero um tanto decepcionante que o autor não consiga criar um ritmo mais fluído na trama, já que essa tentativa de construir o universo toma a primeira metade do livro inteiro, deixando a trama lenta. Adicionando isso ao fato do personagem principal ser apático, é possível que surja a vontade de deixar o livro de lado por algum tempo, como eu pensei em deixá-lo algumas vezes.

amandafffdo 22/04/2022

A vida é um cabernet
Esse livro me proporcionou uma leitura agradável, alegria por finalmente conhecer Neil Gaiman, estranheza na primeira parte, sentimento misto de curiosidade e mistério em todas as partes e um pouco de conhecimento sobre deuses, mitos, lendas e religiões de diversas crenças e culturas.

A premissa foi o que definitivamente me atraiu apesar da narrativa não se desenvolver como pensei que poderia. Talvez pela quantidade de abstratações ou pelo protagonismo apático, nada me incomodou ou empolgou demais... até chegar nas últimas páginas. O final é uma quebra de expectativa surpreendente e percebemos uma história sutil, perfeitamente sutil.

Fico com a lembrança da seguinte interpretação: os deuses são mais sobre o que nós mesmos acreditamos. Nós os inventamos, nomeamos e mantemos vivos. Nossos deuses por vezes têm os mesmos nomes em vários lugares diferentes, mas é a soma dos nossos credos que os constroem de formas distintas e até opostas.
Isso me faz querer relê-lo em algum momento da vida.

E, por fim, com certeza vale a pena comprar o livro físico; a edição é lindíssima e várias vezes fiquei com dó até de pegá-la.

Fenrir 11/06/2022

Estupendo!
Que livro sensacional! Que história temos aqui e que saga do Shadow! Não tem como não torcer pelo nosso amigo e os personagens são cativantes ! Misturar mitologia com o mundo contemporâneo foi genial!

Lydi 06/08/2021

Deuses americanos, o livro que me deixou apaixonada pelo Neil Gaiman
Ler deuses americanos é uma verdadeira experiência. Apesar dos mistérios e aventuras envolvendo o Shadow, o livro nos remete a diversas reflexões sobre nossas crenças. O próprio protagonista hesita em acreditar que está lidando com deuses, e nós mesmos desconfiamos, frente a tal humanização dos deuses na história.

Mas não será esse o ponto? Os deuses são feitos deuses pelas crenças humanas, que não passam de uma própria tentativa de aproximação do homem com um ser divino que ele cultua e espera que sua devoção seja revertida em bênçãos. É genial a forma minuciosa como o Gaiman nos apresentam os deuses que chegaram à América, e como estes chegaram. Como leitores, ficamos constantemente em contato com a ideia de que a América não é um bom lugar para os deuses, o que acredito que seja justamente por esse aspecto do novo continente ter como característica o recebimento de tantos povos, que trouxeram consigo suas diversas crenças, seus deuses. Estes que não são mais os mesmos de sua terra de origem, nem os mesmos de quando chegaram, que foram mortificados numa região que, na tentativa de englobar tudo, passa por constantes transformações.

Por fim, vemos a fragilidade dos deuses, sua dependência com a crença humana, sua imortalidade sendo desfeita com o esquecimento. É livro que trata de tantas questões que sinto a necessidade de uma releitura. Mas é sem dúvida uma obra prima do Neil Gaiman.

Kadu Castro 10/01/2009

"Road Trip" Mitológica!
Sou um grande fã de Neil Gaiman, portanto minha resenha tende a ser um bocado parcial.

Quando Neil Gaiman pegou a série Sandman para escrever, o editor da DC Comics deu a ele liberdade total com a personagem, tendo em vista as baixas vendas e que não importava o que ele fizesse, contanto que vendesse. Gaiman então reformulou completamente a personagem e apresentou um novo Sandman, em cima de toda uma base mitológica, mágica e religiosa. Foi aí que eu o conheci.

Gaiman se dá muito bem neste tipo de... ambientação. Sonhos, Magias, viagens de descoberta. É tudo muito centrado, ele trabalha quase sempre com o mesmo tema quando escreve, mas é impressionante como ele consegue fazer algo diferente cada vez, mesmo utilizando os mesmos elementos.

"Deuses Americanos" foi o primeiro livro dele que eu li e, confesso, fiquei aturdito com a história de Shadow e suas reviravoltas. Só a idéia de "Entidades Antigas que ficaram sem 'emprego' e vieram tentar a vida na 'América'" (como um Deus indiano motorista de taxi, ou uma Súcubo Prostituta) já um grande avanço na literatura mundial. Mas ele não mostra apenas isso, com também apresenta os "Novos Deuses" da modernidade em busca de soberania. Uma guerra de entidades e no meio disso tudo, um cara comum.

Gaiman é assim. A magia transborda das suas páginas a medida em que você vai lendo. É o tipo de livro em que não se fica interessado em como vai acabar, mas no que vai acontecer!

Regina279 27/04/2021

Obrigada, Tio Neil, pelas coisas que captei;
pelas várias coisas que eu sei que deixei passar;
pelas outras tantas que sinto que deixei passar,
e também por aquelas que nem desconfio de que ali estão.

DeniseSC 23/07/2022

Os velhos e novos Deuses
A genialidade deste livro é extraordinária! Adorei ler sobre a vinda dos Deuses para esse novo continente, sobre como as pessoas os trouxeram junto com a esperança de melhorarem de vida.
Também gostei muito de saber sobre os novos Deuses e a rapidez com que também ficam ultrapassados.
Além disso a viagem de Shadow por toda a América e o seu crescimento também são ótimos.
Mais uma vez Neil Gaiman construiu uma obra prima! Se ele continuar escrevendo sobre os Deuses eu continuarei lendo!

Rayssa 29/02/2024

Mix de sentimentos
Tem livros grandes que tem uma prosa tão boa que aqueles personagens viram amigos. Aí você gosta de ouvir falar da vida deles um pouquinho todo dia.

Foi tipo isso pra mim.

Achei meio maluco e demorei pra me envolver, mas depois entrei na brincadeira.

Só o final que achei meio "só?", depois de um livro que passa muito do que considero um livro grande, sabe? Achei o final meio anticlímax ikkkkk

É um livro enorme.

Pra ser bem sincera a parte que mais gostei foi a nota do tradutor, as entrevistas e um pouco mais da vida do autor.

Não sei, porque é difícil dizer que não adorei kkkk

Marcianeysa 15/12/2020

Literatura fantástica
O livro poderia ter uns 40 páginas a menos, mas mesmo assim, vale a pena a leitura

Antonio Luiz 18/09/2011

O livro tem histórias dentro da história que são fascinantes em si mesmas, personagens secundários curiosos, ainda que pouco aprofundados e muitos retratos precisos e irônicos dos Estados Unidos e de sua cultura de massas. Como romance de um autor profissional deixa, porém, a desejar. A trama principal é uma história de conspiração mecânica e esquemática, apenas uma maneira de arrastar arbitrariamente o protagonista de um lado para o outro.

E o personagem principal, por sua vez, é genérico e desinteressante, sem vida (e o fato de o autor, já perto do final do livro, reconhecer isso explicitamente não o torna mais atraente). Porta-se quase até o final como mero fantoche do autor e de seus personagens secundários e, mesmo depois, sua autodescoberta e aparente transformação não convencem. Na maior parte do tempo, faz pensar num personagem de Kafka perdido num romance policial hardboiled.

Na minha opinião, o formato de romance foi imposto de maneira forçada à ideia central do livro. Esta teria se expressado melhor como uma antologia de contos em torno da mesma concepção, sem a obrigação de costurá-los numa trama artificial.

Marcos.Leste 04/06/2023

Uma história que mescla a realidade com uma fantasia de deuses
O enredo da história possui humor bem localizado. Tem uma pitada bem leve de suspense e amostras de ação.
O centro da narrativa de Deuses Americanos é o personagem Shadow Moon que passa a viajar pela estrada dos EUA prestando serviço para Wednesday, onde precisa recrutar aliados para uma guerra entre deuses.
Os diálogos são bem construídos, além de soarem muito naturais ao contar sobre crenças do passado e sobre cultos a deuses. Tudo parece como uma conversa entre amigos, como se deuses fossem pessoas normais.