Victoria 16/06/2021SurpreendenteA Trégua, do escritor Mário Benedetti, foi o livro escolhido para representar Uruguai na minha missão de ler um livro de cada país do mundo, sendo considerado uma das obras mais importantes da literatura latino-americana contemporânea.
O romance foi publicado em 1960 e tem um enredo muito simples: sob o formato de diário, conta a história de Martín Santomé, um homem viúvo, prestes a completar 50 anos e se aposentar. Ele mora com seus três filhos, mas não se relaciona profundamente com nenhum deles, vivendo uma vida monótona e sem grandes entusiasmos. Até o momento em que se apaixona por sua funcionária Laura Avellaneda, uma jovem de 24 anos. A partir dessa ocasião, sua vida, antes tão cinzenta e triste, começa a se colorir e Martín volta a enxergar algum sentido em seus dias.
Apesar do enredo despretensioso, A Trégua é narrado de maneira muito bonita, que nos aproxima de Martín e nos ajuda a entender o que ele sente. A história, portanto, se torna muito profunda ao penetrar os sentimentos do narrador, que, antes tão apático, passa a conhecer sensações intensas e as transmite ao leitor de maneira muito viva. A narrativa, além de profunda, também é em muitos momentos irônica e engraçada. Martín ainda discorre sobre temas como envelhecimento (e, nesse momento, preciso falar que o começo do romance me lembrou um pouco a máquina de fazer espanhóis, de valter hugo mãe, um livro que amo), monotonia cotidiana, anedonia e amor.
É importante deixar claro que o livro se passa no final da década de 1950 e Martín é um homem de seu tempo, nada além disso. Portanto, o personagem não está isento de preconceitos e em alguns momentos se mostra machista e homofóbico. Não conheço profundamente o autor para saber se essas eram suas opniões também, mas, por se tratar de um diário, o narrador expressar seus posicionamentos e preconceitos livremente no livro. Apesar de me incomodar com suas posições, acho que foi verossimilhante e fez sentido para o personagem.
De modo geral, essa leitura foi uma experiência incrível. No começo não achava que me envolveria muito com a história, mas me enganei: o romance conseguiu me fazer sentir perfeitamente as emoções de Martín e o final me pegou completamente desprevenida. Pra não dar muitos spoilers, a única coisa que digo é que esse foi um dos únicos livros que me fez chorar nesse ano até agora, e eu já li diversos livros com grande dose emocional.
A Trégua é uma história sensível e tocante. Recomendo demais.
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