MauricioTiso 12/10/2020
Resenha para os dois livros do Vol.II
O Caminho de Guermantes: Por detrás das cortinas
O segundo volume começa com este livro, que faz também a transição na vida do narrador. Suas bases romantizadas começam a ruir diante da dureza da realidade.
Vê-se isso na morte de sua avó, que inicia por cortar sua relação como alguém que precisa de proteção e tira de cena sua saúde frágil.
Na sua relação de amizade com Saint-Loup e o uso que ele mesmo faz dessa amizade.
Na relação de sua paixão pela Duquesa de Guermantes, e seu choque de realidade no reencontro com uma antiga paixão idealizada.
Na sua relação com as pessoas da sociedade que de admiração se transformam em indiferença, e com outras de indiferença em suposta admiração.
Fica claro a forma cíclica que se da o amadurecimento da personagem narradora, como ele avança na crueza da realidade e retrocede de beleza idealizada, fazendo o tempo o papel de martelo e bigorna que molda a personagem.
A crítica ao comportamento da alta sociedade se torna mais ácida e ferrenha, sem perder a delicadeza na forma de como é exposta pelos olhos de incredulidade da personagem narradora.
Outro ponto de destaque é a manutenção do cuidado no detalhes e na beleza da simplicidade
que o autor mantém neste terceiro livro.
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Sodoma e Gomorra: A cegueira da paixão independe de gênero
O segundo volume termina com este livro. O que mais se encontra sobre ele são sua ligação com as narrativas homossexuais, mas ele é muito mais do que isso.
Neste livro o autor faz uma análise moral sobre as mentiras de um desejo que se tem vergonha em assumir, sentimento ainda mais forte em uma época onde o ajuste à um modelo idealizado de ética se impõe de maneira mais forte contra a natureza humana.
E esse contraposição não se da somente nas relações homoafetivas, se dá em todas as relações. O desejo de todos os espectros é maior do que a necessidade de aparência e todos vivem sob a mesma mentira, disfarçando o seu Eu e impondo a tirania de seu Ego, julgando e punindo o comportamento não-conforme do outro enquanto lutam desesperadamente para esconder o seu próprio.
A crítica social de Proust se toda nessa arena, aprofundando ainda mais o que foi indicado no livro anterior.
Outro ponto marcante da obra é o sofrimento causado pela afecção da paixão, é a materialização dos conceitos estudados no Ética de Spinoza. Todos as idealizações da paixão que corrompem os fatos e levam personagens inteligentíssimos à uma submissão e degradação pela migalha de um prazer fugaz.
Na personagem do narrador, mergulha-se ainda mais na possessividade da paixão, na negação de si pela fantasia do que seria uma vida projetada no outro.
Uma Obra singular, profunda e muita acima de qualquer discussão ideológica.
Boa leitura!!!