Gregory 05/02/2019
Realmente inspirador...
Assim como o título, o conteúdo desse livro foi completamente inesperado. O livro de Marcelo Gleiser se tornou para mim, uma das melhores (se não a melhor) surpresas deste ano. A classe das palavras, o cuidado com as expressões e o detalhismo (não exacerbado) do autor, de fato, é capaz de inspirar até os homens mais duros espiritualmente.
?A Simples Beleza do Inesperado? se trata da autobiografia de um físico filósofo natural brasileiro, residente no exterior e habitante do mundo, apaixonado pela ?pesca fly? (uma modalidade alternativa da pesca) e em conflito com a Natureza que o rodeia, com o Universo que o acolhe e com o seu senso de humanidade.
A obra de Gleiser inicia sua trama na infância do pequeno Marcelo, um menino órfão de mãe e cujos irmãos e pai não punham fé em seu otimismo com relação à Natureza do Universo, otimismo esse, representado pelo autor como sua paixão pela pesca; até o momento em que o nanico menino Marcelo pesca uma majestosa criatura cheia de escamas, pesando mais de 3kg por sua própria conta, no lugar mais improvável de todos: na praia de Copacabana ? RJ.
Eis que, naquele momento, nascia a figura emblemática do filósofo natural Marcelo Gleiser, em busca do entendimento de sua própria Natureza.
A trama se passa, a todo momento, dividida em dois momentos paralelos: o físico e agnóstico Marcelo tentado justificar o seu entendimento científico do que o rodeia; e o praticante amador de ?pesca fly?, tentando justificar o seu entendimento humano do ambiente à sua volta.
Nos primeiros capítulos, vê-se uma distinção clara entre ambos os ?Marcelos?: o físico que se explica por meio de teorias muito bem elaboradas sobre a origem do Universo e das Leis da Natureza; e pescador perdido em uma Natureza selvagem e indomável, que, mesmo assim, o atrai em todos os sentidos.
O conflito entre o catedrático e o explorador é marcado por muito confronto interno, entre o lazer e o dever. Como conciliar ambos em um homem que já esquecera de olhar para si mesmo há tanto tempo, sobrepujado pelas responsabilidades de um pós-doutor conceituado mundialmente?
Eis que o acaso (destino/coincidência/ação e reação ou qualquer outra crença acerca dos fatos inesperados) encontra Marcelo em uma de suas viagens ao redor do mundo, onde ele reencontra com o seu antigo ?eu?, o menino que presenciara o inacreditável naquela praia no Rio de Janeiro e toda a sua percepção da Origem de tudo passa a confrontá-lo com argumentos que ele jamais antes pensaria ter de refletir sobre.
Os capítulos do físico são marcados por uma linguagem rebuscada, dotada de muitos termos técnicos (muito bem explicados, no entanto), e teorias científicas das mais diversas. Há que se ter uma certa atenção aos detalhes para que se possa entender o todo, visto que nem sempre o próximo capítulo explicará o capítulo atual. Pode ser que aquele capítulo só venha a tomar sequências tempos depois.
Os capítulos do praticante de ?pesca fly? tem outro tipo de linha a seguir. As palavras são mais simples e o pensamento é completamente humano, logo veraz a qualquer um que leia, embora tenha a sua complexidade particular, uma vez que o Marcelo pescador é marcado por um conflito interno massacrante.
O personagem vive de histórias e experiências, e de teorias e conceitos. Sua trajetória se inventa e se reinventa a todo momento. O conflito interno e externo dos ?Marcelos? é o nosso real conflito interno entre ciência e crença; realidade e idealidade; e no, final, o inesperado se revela.
Este é um livro para ser lido com a mente aberta e com a alma receptiva. Os preconceituosos julgarão o conflito de forma errada e repetirão suas próprias mentiras. Demorei uma semana para ler esta obra-prima, e não me arrependo de ter tido a decisão de não pular uma linha se quer.
?A Simples Beleza do Inesperado? tem que estar na sua lista de livros para ler antes de partir!