Sombras e Nefastos

Sombras e Nefastos Ricardo Belíssimo




Resenhas - Sombras e Nefastos


2 encontrados | exibindo 1 a 2


Ben Oliveira 02/04/2014

Obscuro e intrigante
Sombras e Nefastos, do escritor Ricardo Bellissimo, é um romance epistolar (história desenvolvida através de cartas) de suspense, em que o leitor é tragado desde a primeira correspondência para um universo de chantagens, mistérios e mortes envolvendo a família Amaral. A obra de literatura nacional contém 120 páginas e foi publicada em 2003, pela Editora Via Lettera.
Tudo começa com uma carta enviada por José Marcos, na qual o personagem acusa sua irmã, Ana Carla, de ter assassinado a própria mãe e ficado com o dinheiro da herança. José Marcos escreve sem pudores e revela um segredo de sua família, o incesto cometido pelo pai e encoberto pela mãe. Ao final da sétima página do livro o autor já fisgou seus leitores, por exemplo, com o trecho: “Uma carta longa sempre é incômoda, principalmente se o remetente for uma pessoa a quem você preferia ver morto”.
À medida que as cartas vão sendo trocadas, o leitor vivencia confissões, chantagens e conhece um pouco mais da personalidade problemática de cada um dos irmãos. Além de José Marcos, descrito como um esquizofrênico e da acidez e sinceridade perturbadora de Ana Carla, a narrativa também envolve o irmão Pedro Henrique, um homossexual marcado pelas sombras de sua família.
As correspondências entre os irmãos narram a obscuridade e podridão de vidas marcadas pelo incesto e silêncio, pela luxúria e dinheiro, pelos desejos e prazeres, pela loucura e solidão, pelo imoral e fetichismo. O leitor fica intrigado e não sabe a que ponto pode confiar ou não no que está sendo narrado. Os conflitos crescem deliciosamente e os personagens expõem suas desconfianças, incertezas e ameaças.
Não é possível ler Sombras e Nefastos sem mergulhar na história, sem sair da própria inércia. Não é o tipo de livro que você consegue ler e ficar indiferente às tragédias contadas. O leitor é empurrado ladeira abaixo nesta confusão familiar, envolvendo questionamentos sobre as mortes de Edgar e Dona Carmem, os pais dos três personagens. Os acontecimentos do passado, as emoções do presente e as preocupações e ambições do futuro dão pistas sobre o que está acontecendo e o leitor se vê em frente aos pontos de vista dos correspondentes, que, aliás, só aumentam ao decorrer do livro.
Entre confusões e revelações, o leitor entra na dança até se ver em um ponto sem saída. É preciso descobrir o que está acontecendo. Personagens desaparecem, morrem, surtam, fogem, traem – e Ricardo Bellissimo consegue conduzir o leitor até o final surpreendente. Do começo ao fim é possível se surpreender com a brutalidade das palavras que ao mesmo tempo em que golpeiam o estômago, a mente e a alma de quem está lendo, provocam uma sensação de catarse.
Sobre o autor – Ricardo Bellissimo nasceu em 1969, na cidade de São Paulo. Escritor, jornalista e historiador. Livros publicados: a novela Libido Siamesa (vencedora do prêmio I Festival de Literatura Universitária, 1998), o romance Sombras e Nefastos (2003), o romance Sufoco (2008) e Negro Amor.


site: http://www.benoliveira.com/2014/04/resenha-sombras-e-nefastos-ricardo.html
comentários(0)comente



ricardo_22 04/08/2014

Resenha para o blog Over Shock
Sombras e Nefastos, Ricardo Bellissimo, 1ª edição, São Paulo-SP: Via Lettera, 2003, 120 páginas.

As poucas páginas de Sombras e Nefastos não passam a grandiosidade da envolvente trama criada por Ricardo Bellissimo. Considerado o Tarantino das Letras, Bellissimo nos apresenta, em seu romance epistolar, uma série de eventos perturbadores, que entram em conflito com a personalidade de todas as personagens envolvidas direta ou indiretamente com as sinistras cartas – ou com as quais estão ocultas.

A série de cartas tem início já revelando os podres de uma família rica, mas com muitas situações incomuns para a sociedade em geral. Escrita por José Marcos, um dos herdeiros da família Amaral, a carta não apenas revela o incesto cometido pelo patriarca, como também levanta a suspeita de que Ana Carla, a destinatária, pode ser responsável pela morte da própria mãe. Se na primeira carta o leitor já se envolve com a intrigante família, tudo se intensifica com as cartas posteriores, sempre repletas de acusações e revelações surpreendentes.

“Sabe, essas coisas de sexo marcam a gente, moldam profundamente o nosso caráter, e, apesar de tudo, sei que você nunca será capaz de me perdoar. Ou mesmo de me compreender. Pouco importa: não preciso do seu perdão para continuar a minha vida. O jogo da minha vida, se preferir” (pág. 09).
As cartas, no entanto, não se restringem a José Marcos e Ana Carla. O terceiro irmão, Pedro Henrique, é inserido na história, assim como outros correspondentes, para embaralhar a cabeça de quem ousar se aproximar da solução antes do momento ideal. Muitas verdades ainda precisam vir à tona e cada uma delas aumenta o mistério da morte da matriarca e do próprio patriarca, morto após um acontecimento suspeito.

Fato é que tudo se originou no passado, quando o pai abusou de seus filhos e a mãe foi omissa ao relevar, da mesma forma que muitas mães fazem na vida real. Mas engana-se quem pensa que todos os irmãos teriam motivos para estar envolvidos nos dois possíveis crimes. Em um ou em nenhum deles, é provável; nos dois é quase impossível.

Já que Ana amava o pai como o verdadeiro e único homem a satisfazer seus desejos sexuais, ela teria assassinado a mãe para se vingar de sua possível adversária, mesmo que o pai já estivesse morto? Ou um dos dois irmãos homens se aproveitaria da morte do pai para assassinar a mãe? Seria vingança ou apenas a briga pela herança revelando os instintos assassinos dos irmãos Amaral?

site: http://www.overshockblog.com.br/2014/08/resenha-264-sombras-e-nefastos.html
comentários(0)comente



2 encontrados | exibindo 1 a 2