From Bacteria to Bach and Back

From Bacteria to Bach and Back Daniel Dennett




Resenhas - From Bacteria to Bach and Back


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Lauro Edison 20/04/2017

Teologia Ultra-Materialista Destilada 50 Anos
Então o velho Daniel Dennett teve fôlego para mais uma vez se pôr a explicar suas ideias, sempre muito difíceis de acreditar, sobre “a evolução das mentes”. E durante o primeiro terço do livro eu estava positivamente surpreso: com nova eloquência e leveza, as argumentações e explicações cuidadosas de Dennett sobre questões darwinianas, computacionais e relacionadas à teoria da informação pareciam mesmo aquilo que deveriam ser: o resultado destilado de 50 anos do pensamento de um intelectual brilhante. Como é costume em seus livros, Dennett sempre adia as questões difíceis sobre a consciência subjetiva (que, você sabe, parece inexplicável em bases puramente físicas) para o final, insistindo que todo um arcabouço teórico precisa ser muito bem compreendido antes. Aqui ele faz o mesmo, mas desta vez ele começou tão bem que eu ao menos tive alguma esperança que dessa vez ele pudesse conseguir (embora eu jamais fizesse ideia de como!). Infelizmente, não foi por aí...

No segundo terço do livro, desgraçadamente, Dennett volta com a história implausível dos memes: que a cultura evolui, de forma análoga a seleção natural de genes, por via da seleção natural de “memes”, ou unidades de transmissão cultural. E para o meu choque, não há absolutamente melhora ou diferença nenhuma em sua nova defesa dessas ideias: é tudo a mesma velha coleção de afirmações vagas, suposições no vazio e argumentos fracos no sentido de algo como a teoria dos memes “precisa” ser verdade — do contrário, supõe Dennett, estaremos às voltas com explicações mágicas. Eu apenas não entendo como ele espera ser minimamente convincente com essa frágil colcha de retalhos intelectual. E aqui as coisas são piores: agora ᴘᴀʟᴀᴠʀᴀs, essas entidades que sequer possuem estrutura interna para receberem mutações deletérias ou favoráveis, são o exemplo preferido de “memes” que Dennett tem em mente. E ele realmente acredita, de um modo que continua pouco claro, que essa chuva de informação tentando se copiar é o que está por trás de nossas capacidades intencionais e conscientes. Esse é o pior da filosofia de Dennett, e aqui aparece na sua pior versão.

E então vem o terceiro terço do livro, onde Dennett outra vez vem atacar de frente a ideia — obviamente incompatível com sua visão — de que a consciência é a exata esfera virtual, qualitativa e imaterial que parece ser. Mas desta vez há uma diferença chocante: pela primeira vez ᴄᴏᴍ ᴛᴏᴅᴀs ᴀs ʟᴇᴛʀᴀs ᴇ ᴘɪɴɢᴏs ɴᴏs ɪs, Dennett afirma claramente e sem rodeios que os qualia subjetivos sɪᴍᴘʟᴇs, ᴄᴏᴍᴘʟᴇᴛᴀ ᴇ ᴀʙsᴏʟᴜᴛᴀᴍᴇɴᴛᴇ ɴᴀ̃ᴏ ᴇxɪsᴛᴇᴍ. Agora não há ressalvas ou qualificações: você vê uma pós-imagem vermelha e azul da bandeira dos Estados Unidos; a pós-imagem não está fora de você, nem na sua retina, nem em seu córtex visual; então onde ela está? Em lugar nenhum, Dennett responde. Ela não existe, simples assim. Então como a vejo? Não a vejo! Só ᴘᴀʀᴇᴄᴇ que a vejo, seja lá o que isso quiser dizer... Dennett antecipa que essa afirmação parece (é!) a simples negação de um fato dado, óbvio e inegável, e o que ele tem a dizer é apenas isso: se você não consegue acreditar que a pós-imagem (que você vê!) não existe, “tente com mais força”! Como disse Thomas Nagel em uma resenha do New York Review of Books, isso é apenas Dennett levando uma teoria às últimas consequências, custe o que custar. Ao menos agora não resta qualquer dúvida ou ambiguidade sobre o que está em jogo nessa discordância fundamental: penso que Dennett nega um fato inegável e, portanto, é obrigado a erigir todo um sistema de sabor teológico fundado nessa negação. Tudo o que importa realmente, aqui, é se a pós-imagem, ou os qualia em geral, realmente existem ou não. Se eles existem, toda a filosofia da mente de Dennett está perdida, simples assim. E o que vou fazer? Eᴜ sᴇɪ ǫᴜᴇ ᴏs ǫᴜᴀʟɪᴀ ᴇxɪsᴛᴇᴍ!
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