Manoela 13/07/2012Coisas frágeisNeil Gaiman chegou em minhas mãos por acaso, por promoção, e foi a primeira obra dele que li, apesar de já ter ouvido falar de Coraline e Sandman, suas obras mais conhecidas. Já tinha também lido alguma coisa criticando Coisas Frágeis, mas me aventurei mesmo assim. Não posso dizer que me arrependi, ao menos com o primeiro volume, mas também não foi total satisfação.
O primeiro conto, Um Estudo em Esmeralda, remete às histórias de Poe, alguma coisa bizarra tirada de Lovecraft junto com um pouco de loucura que agora estou certa que o Gaiman tem bastante. Um ‘consultor investigativo’ tão hábil quanto Holmes e seu amigo, narrador da história, tentam encontrar e capturar o assassino de um membro da família real britânica de uma Londres diferente do que se conhece. É um bom conto, instigante, mas, particularmente, esperei mais do final.
A Vez de Outubro, segundo conto, é uma delícia. Bem escrito, interessante, sendo que os personagens são os meses do ano, cada um peculiarmente caracterizado. Aquela é a vez de Outono contar uma história, e ele escolhe a de um garoto que por ser tão humilhado por sua família, foge de casa e encontra um amigo incomum. Leia com a mente aberta, e imagine todas as possibilidades após o final.
Comecei Lembranças e Tesouros empolgada, já que tinha gostado do conto anterior, mas a linguagem e a temática do conto me fizeram ir devagar. É um conto denso, sobre a “sordidez humana” e tudo que se pode fazer para satisfazer os desejos da carne, mesmo que seja algo imoral ou até ilegal. É interessante considerar o lado critico, sobre as atitudes humanas e que dinheiro às vezes pode conseguir o que se quer, mas não tudo.
Os Fatos no Caso da Partida da Srta. Finch poderia ser mais interessante. Um casal convida um amigo para acompanha-los em uma saída com uma mulher pouco simpática com a qual não querem se ver sozinhos, constrangidos com seus comentários e atitudes. Vão a um circo em salas subterrâneas, com apresentações visivelmente falsas, até que a Srta. Finch, que não é seu nome verdadeiro, é escolhida para ter um sonho realizado. Relevar a história, devido às circunstancias curiosas da situação e também a profissão dos protagonistas, é algo inútil, pois seriam desacreditados. Ao final, tive a impressão de que foi a libertação da moça, não outra encenação.
Alguma coisa no conto O Problema de Susan me incomoda e talvez seja a incerteza da realidade. Somos apresentados a uma professora aposentada e uma jovem repórter que acham injusto o fim de Susan, uma das protagonistas de Nárnia, que não pode ir para o Paraíso com seus irmãos. Ao fim, fiquei na duvida, é ou não é?
Golias está entre os contos de destaque do livro. Aqui lemos a história de um homem muito alto, diferente de todos e que acredita que o mundo que vê não é real. Relacionou com Matrix? Não está enganado, pois o conto foi escrito com base no roteiro do filme e divulgado uma semana antes de sua estreia. Ao descobrir que tem vivido em uma espécie de loop temporal, ele é enviado em uma missão, que só poderia ser designada a ele. É um conto bem escrito, bem pensado, com boa história e não deixa a desejar.
Depois de uma masterpiece vem um conto não tão bom, Como Conversar com Garotas em Festas. Enn e seu amigo procuram a casa onde está tendo uma festa, mas acabam indo para o lugar errado. O inicio é bom, sim. Mas aí começa a loucura, já normal nesse ponto do livro. A única conclusão que cheguei é que Enn não entende as mulheres, definitivamente. Fiquei esperando mais do final, esperando algo que nunca veio.
Deixaram os outros dos melhores contos para o fim do livro. O Pássaro do Sol começa despretensioso, com uma linguagem quase infantil, mas se desenvolve tão bem e criativamente que não parece tão estranho ou maluco quanto os outros contos, apesar dos comentários ou situação até engraçadas. Cinco pessoas reúnem-se ocasionalmente para degustar comidas incomuns para nós, humanos “normais”, até que acreditam já ter comido tudo que se podia ser comido. Não até o pássaro do sol ser citado pelo personagem mais bizarro do conto e empreenderem uma busca até o Egito para capturar a ave. Considero este meu conto favorito.
Fechando do primeiro volume, temos O Monarca do Vale. Pode parecer um nome pomposo e até instigante, mas não acrescenta muito a história. Posso estar errada, já que não conheço a história de onde o conto foi tirado, Deuses Americanos. Shadow, nome pelo qual o protagonista prefere ser chamado, viaja pela Escócia e é recrutado para ser segurança em um festa. Ele conhece Jennie, uma mulher muito bonita e também estranha (o que não é incomum agora no final do livro). Temos aqui o Sr. Smith e o Sr. Alice, do conto Lembranças e Tesouros, que são os organizadores dessa festa. Gostei desse conto no início, afinal parecia promissor sendo bem escrito e com uma trama que parecia de desenrolar bem. Aí, depois da metade, na festa, a coisa começou a ficar estranha, mais estranha que a estranheza do próprio livro todo. Acabou com um final apressado, pouco desenvolvido em relação ao resto do conto, deixando a desejar.
No geral, é um livro de contos razoável, com alguns poucos ótimos contos, muitos outros nem tanto. E discordo completamente com a contracapa, que diz que são “contos brilhantes” ou que Gaiman é “um dos mais inteligentes e ímpares escritores de sua geração”.