Guia Afetivo da Periferia

Guia Afetivo da Periferia Marcus Vinícius Faustini




Resenhas - Guia Afetivo da Periferia


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Egeu 13/12/2009

Guia Afetivo da Periferia: Todos somos Centros
"Saber perder-se numa cidade não significa muito. Requer ignorancia, nada mais.
No entanto, perder-se numa cidade, como alguém se perde numa floresta, requer um aprendizado especial".
Walter Benjamim



As narrativas sobre as ruas do Rio, sempre despertaram meu interesse – pois me ajudam a re-construir permanentemente o meu Rio de Janeiro. Minha Autoviação que contem nomes como Radial Oeste, Piumbí e Piancó, Taylor e Moraes e Vale, Rezende e Gomes Freire. Ruas que comecei a trilhar (sim, andar é a melhor maneira de pensar) quando o autor do Guia Afetivo da Periferia tinha um ano de idade.

Mas, com algumas poucas e boas exceções, as narrativas que conheço são aquilo que se diz das viagens com guias turísticos: um jogo de cartas marcadas. Mesmo um Antonio Fraga, no seu Desabrigo, de 1945, elogiado por Oswald de Andrade, me parece uma apropriacão da linguagem das ruas para a sua literatura mas sem a fluencia da lingua de quem fala (quem viveu nas ruas percebe uma gíria usada fora do exato sentido ou contexto).

O Guia Afetivo da Periferia, de Marcus Vinicius Faustini, no entanto, mais que mostrar um vivido Rio “periférico” revela um rio interior e portanto “central”: os sentidos do próprio autor e por essa janela aquilo que, pelo jeito só os alemães conseguiram reduzir a uma palavra: weltanschaaung (a “visão de mundo” na falta de outra palavra).

Mas é interessante como, através de sua visão extremamente pessoal, descobrimos um Rio de Janeiro (e posso dizer um Brasil) moderno, que foi sendo construído da década de 1980 para cá. Um Rio sem políticas públicas mas com sons, cheiros, ruídos, visões, sobrevivências, desfoques, encontros, tramas, conexões, enfim construcões de toda sorte à margem dos poucos programas públicos mas contendo aquilo que Jane Jacobs considera essencial para a vida de qualquer cidade: a diversidade das pessoas com suas vontades.

Portanto, além de muito saborosa, é generosa a narrativa. Ela nos permite, ao olhar para o que fi(a)zemos, pensar sobre o que somos e quem sabe, nos ajudar a construir o que queremos. Algumas das bússolas deste século 21, vislumbradas neste Guia, já aparecem apontar alguns dos caminhos: A noção e a presença do Território como foco prioritário das ações urgentes para o desenvolvimento sustentável – parece ser um deles.

Faustini nos entrega, como presente, uma caixa natalina contendo um kit com um jogo de lentes que aproximam/distanciam (cinema, talvez?), além de cartas para embaralhar num moderno Jogo da Memória onde o objetivo é juntar pares por oposição e não semelhança, acompanhado de uma Fita com uma Trilha Sonora de Sons e Sentidos. Mas, repare: olhando bem você vai notar que no fundo da caixa está escrito Tupperware.

Egeu Laus

P.S. 1: Também gosto muito de conversar com as Caixas de Supermercado.
P.S. 2: Se puder, (para o seu Jogo da Memória) leia esse guia tendo ao lado Guimbaustrilho e outros mistérios suburbanos, de Nei Lopes, lançado em 2001.
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Rapudo 30/12/2014

Vá lá...
A idéia de cartografia afetiva é interessante, a paixão pela RUA e a cidade são contagiantes, mas ficou devendo.

Um excessivo apego a memórias e valorização de signos que - vamos combinar - só tem importância para o autor, me incomodaram.

É um apanhado de particularidades da formação do autor que não me dizem muita coisa.

Acho que meu signo é muito terra e não dou a menor importância para os correspondentes da minha vida. Não perderia meu tempo escrevendo algo assim sobre a minha vida.

Mas é uma voz, e é curtinho, então até dá pra ler sem perder a paciência.

Também não curti o estilo em que foi escrito, rolam umas papagaiadas de referências culturais meio fora de contexto. Talvez seja - mais uma vez - a diferença entre a visão e interpretação das coisas entre mim e o Autor.

Juro que não o conheço. Ainda.
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Marise 08/08/2016

um passeio pelo subúrbio
Numa tentativa de ficcionalização de suas memórias ambientadas no Rio de Janeiro, Marcus Vinícius Faustini, em seu livro “Guia afetivo da periferia”, nos introduz num cenário típico do subúrbio promovendo uma espécie de passeio pela cidade onde tudo acontece, principalmente, nos dizeres do autor, entre “Santa Cruz e Ipanema”, rompendo assim, com a dicotomia entre o centro e a periferia, tomando para sua obra a cidade como um todo, apresentando um lado até então desconhecido.
O livro, que traz o prefácio de Luiz Eduardo Soares, coloca diante da tradição literária esse realismo urbano, no qual, o cotidiano marginal e periférico é apresentado, servindo de pano de fundo para uma experiência literária que nos permite ver a cidade sobre outra ótica, até então, pouco explorada. Trazer Luiz Eduardo Soares em seu prefácio faz com este promova a legitimação de um lugar que é reclamado pela obra no cenário da literatura contemporânea, servindo de alicerce para abrir as portas do universo literário para seu livro.
Por possuir uma narrativa simples, feita como uma espécie de mapeamento da memória afetiva do autor, a leitura nos é dada como diálogos urbanos, relatos de acontecimentos, ou como a leitura de um diário. Isso faz com que esteticamente o livro forme uma espécie de colagem de lembranças selecionadas pelo autor, e nos pareça despretensioso e ousado ao mesmo tempo, visto que foge de gêneros textuais convencionais.
Faustini se coloca como narrador, e ao longo da leitura percebemos o Rio de Janeiro como personagem principal de sua obra. No que diz respeito a sua construção de sentido, percebemos que embora seu enredo não seja linear, cada relato é único e suficiente para fixação do conteúdo afetivo do livro, e no todo, se forma a nossa identificação, ao passo que nos debruçamos, a cada aforismo, na realidade apresentada pelo autor.
Todas as referências feitas fazem com que busquemos certa identidade com a obra, reconhecendo em cada relato, dado de forma ingênua, um pouco de nós e da cidade em que vivemos.
Tendo em vista que “O guia afetivo da periferia” nos coloca diante de uma realidade singular e ao mesmo tempo comum, a leitura que iremos fazer deste livro, mostrará qual o vínculo afetivo que temos com o espaço em que vivemos, construindo uma conexão e empatia com a história narrada, servindo como afirmação idiossincrática de nossa percepção sobre a metrópole.
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Thay_Jordao 16/03/2022

A proposta deste Guia é bastante original, foge dos romances que normalmente costumamos encontrar ou das autobiografias padronizadas. No decorrer da obra, percebemos os elementos que remetem a esse material que direciona alguém a algo. Neste caso, o leitor é levado para a periferia, inserido em cada canto, em cada beco, em cada costume, em cada miséria.

As histórias são aparentemente desconectadas, independentes, não seguem uma linearidade temática ou temporal; são tópicos distribuídos de modo ?aleatório?. Em um momento, fala-se sobre sardinhas, em seguida, sobre o fumacê... Esse tipo de construção confere dinamismo à proposta literária e promove uma leitura mais leve, descontraída, fluida. O movimento do salto de um tópico para o outro remete à própria movimentação típica da periferia. Aqueles que nela estão alocados certamente têm muito a dizer, e de forma nem um pouco linear.
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lua 26/04/2024

A zona oeste por um olhar de carinho
Pra quem também vive nesse movimento de pêndulo da periferia pras partes centrais da cidade, acho que rola uma identificação. apesar de ser uma história muito marcada pelas características pessoais da infância do autor, alguns sentimentos e referências são comuns entre nós da zona oeste até hoje.
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bella 30/04/2024

O plano era dar um tiro para o alto. no dia seguinte, rezei o pai-nosso matinal.
Que deleite essa obra! projeto gráfico lindíssimo e a temática mais ainda. sobre os cantinhos de afeto do lugar em que crescemos mas da forma não tradicional. sobre esses pequenos prazeres cotidianos como ver o sol refletir num azulejo. confortável demais
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