Paulo Silas 08/07/2018"Como se faz uma Tese" é um livro fantástico. Umberto Eco acerta em cheio no tom que utiliza para elaborar uma obra com conselhos e sugestões para todo aquele que está na fase da elaboração de uma tese. E por 'tese' aqui deve se considerar algo mais amplo do que o termo pode levar a se entender. Diz-se, conforme pontua o autor, de tese de compilação, de tese de pesquisa, de tese de licenciatura ou de tese doutoral. Enfim, por mais que algumas das abordagens sejam mais específicas para determinados trabalhos acadêmicos, tem-se que o livro pode (e deve) ser utilizado por qualquer pessoa que esteja a elaborar um trabalho de conclusão de curso. Dicas, críticas, sugestões e apontamentos fundamentais permeiam a obra, tratando-se de um livro rico em seu conteúdo. É, portanto, um livro voltado para a academia.
O tom que se adota no livro é objetivo e direto. Não se trata de uma obra revolucionária que promete fornecer todos os elementos necessários para a elaboração de uma tese. Não fala o passo a passo para a pesquisa e escrita de um trabalho acadêmico. Na realidade, o que se tem é algo que está envolto a tudo isso. É como se o autor sentasse para tomar um café com o leitor e, a partir de uma diálogo sério, mas sem deixar de se despretensioso, fornecesse ensinamentos valiosos sobre as etapas para a elaboração de uma tese. Muito é dito - e não apenas no plano abstrato, pois além das palavras de confiança e incentivo que estão presentes no livro, há diversas passagens em que o autor explica concretamente sobre como deve se proceder em determinadas etapas da pesquisa. Por exemplo, ao reconhecer que o pesquisador desprovido de um bom aporte financeiro (que em muito contribui para uma boa pesquisa) sofre muito mais para a elaboração de tua tese, Umberto Eco constrói exemplos concretos para demonstrar que mesmo o não endinheirado pode realizar uma pesquisa louvável e concluir o seu trabalho com rigor.
O livro é dividido de maneira certeira. No primeiro capítulo, "Que é uma tese e para que serve", o autor fornece os elementos mínimos para se compreender do que está a falar, direcionando-se ao seu público alvo, além de estabelecer aquilo que chama de "as quatro regras óbvias" que devem guiar a pesquisa: que o tema responda aos interesses do candidato, que as fontes de consulta sejam acessíveis, que as fontes de consulta sejam manejáveis e que o quadro metodológico da pesquisa esteja ao alcance da experiência do candidato.
No segundo capítulo, "A escolha do tema", as dificuldades que permeiam a definição do tema da pesquisa são expostas e explanadas pelo autor, abordando-se tudo aquilo que deve ser levado em conta nessa etapa do trabalho: tempo, possibilidades, o que já se sabe sobre aquilo, afinidade do orientador com o objeto da pesquisa e as questões científicas (se) presentes no tema a ser abordado.
"A pesquisa do material" é trabalhada no terceiro capítulo, apresentando-se todas as questões que se fazem presentes nessa fase: a leitura, como se usar uma biblioteca, o acesso à determinadas fontes de pesquisa, formas de citação e métodos de abordagem do material consultado.
"O plano de trabalho e o fichamento" é o tema do capítulo seguinte, no qual são explicadas as formas de se ler e fichar os objetos de pesquisa que irão compor o referencial bibliográfico da pesquisa.
O tema "A redação" recebe um capítulo próprio, trabalhando-se nesse a linguagem a ser utilizada no trabalho, ter em mente o público para o qual se volta ao escrever, as citações que compõem a escrita e as formas de se faze-las, enfim, toda a parte de se colocar no papel aquilo que se está pesquisando é abordada nessa parte do livro, a qual é seguida do capítulo "A redação definitiva", onde se abordam os critérios gráficos do trabalho (parágrafo, margens, espaçamento...).
O livro atinge com êxito notável a sua finalidade. As palavras de Eco que são dirigidas ao leitor ressoam durante toda a fase de elaboração da tese. Além dos aspectos formais que são fornecidos enquanto dicas ao leitor, há também toda uma mágica perceptível nas linhas do livro - no sentido de facilmente se perceber a paixão do autor em falar sobre como se faz uma tese. O incentivo é visível, assim como a fala aberta sobre as dificuldades inerentes da pesquisa: não é fácil, exigindo-se uma dose alta de comprometimento e responsabilidade do pesquisador em todas as fases da elaboração de seu trabalho. Algumas passagens merecem ser contextualizadas pelo leitor, tanto no fator tempo (considerando a tecnologia atual que acaba por facilitar certas fases da pesquisa) como na questão espaço (ambiente geográfico no qual se situa o leitor, uma vez que Umberto Eco, por mais que leve em conta e comente sobre as particularidades de diferentes países, escreve a partir da academia italiana), permitindo assim um aproveitamento máximo do conteúdo da obra.
"Como se faz um Tese" é uma leitura fundamental para todos aqueles que se situam na academia - seja em qual fase for. Certamente os conselhos presentes na obra auxiliarão o pesquisador no trilhar do seu projeto. Recomendo!