jota 08/11/2013Entre Havana e Miami...Mundos Sujos foi publicado originalmente em 1999 nos EUA e no Brasil somente em 2005, mas a situação de Cuba (onde grande parte da ação se passa) mudou muito pouco nesse tempo. Graças ao governo repressivo e controlador que os irmãos Castro continuam impondo à ilha (e por isso são muito admirados por esquerdopatas brasileiros).
Cubanos assistem às telenovelas brasileiras em velhos aparelhos de tevê russos (em preto-e-branco, ainda por cima); falta tudo ou os produtos são racionados – se você compra desodorante não pode comprar creme dental da mesma vez, etc. Situação muito parecida com a que ocorre com vários produtos na atual Venezuela de Maduro (o lunático que conversa com passarinhos e vê o rosto de Chávez num muro de metrô). Mas falta nesses países especialmente liberdade para se dizer e fazer as coisas que somente as verdadeiras democracias permitem.
Apesar de ter sido catalogado como policial pela editora Record, é melhor acreditar no que o New York Times escreveu sobre Mundos Sujos: “Um romance bom demais para ser encerrado dentro de um gênero.” E outros importantes órgãos de imprensa se manifestaram favoravelmente sobre a obra de Latour: The Times, Washington Post, The Los Angeles Times, Revista VEJA, etc. Lawrence Block, autor de livros policiais igualmente elogia a obra na última capa.
Pois Latour, ao mesmo tempo em que faz a ação dramática evoluir e com isso nosso interesse por essa história aumentar (que é basicamente sobre uma vingança), vai nos mostrando ou falando dos costumes cubanos mas sobretudo das mazelas do país. E também das mazelas americanas, já que há pouca gente inocente nesta história. Nem mesmo o protagonista, o injustiçado professor Elliot Steil, pode ser considerado um ser humano isento de falhas e incapaz de cair em tentação, claro.
O que tem tudo a ver com os mundos sujos do título: eles têm nome e sobrenome: Havana (ou Cuba, por extensão) e Miami (ou os EUA, idem). A dimensão humana e política que o livro encerra é que o tornam diferente de outras obras meramente policialescas que pululam por aí.
E também tem anedotas, especialmente sobre Fidel e a repressão. Tudo que tem de errado ou problemático na ilha, a culpa é do presidente dos EUA, no caso, Bill Clinton (a ação se passa especialmente durante os anos 1990). Uma das anedotas da época:
“Uma professora do primário mostra para seus alunos uma foto de Bill Clinton e diz: “Por causa deste homem, não temos comida nem remédio. Por causa deste homem, não temos combustível suficiente para nossas usinas de força, trens e ônibus. Por causa deste homem, sofremos apagões quase todas as noites.” Depois de olhar atentamente para a foto, Pepito levanta a mão. “Que coisa engraçada, tia. Como ele fica diferente depois que faz a barba!””
Em Cuba não dava (ou dá) para por a culpa na oposição nem na imprensa (ambas sob o jugo da própria ditadura castrista) como aqui na nossa república sindicalista, então sobra tudo para os americanos e para os cubanos que fugiram do país em busca de liberdade e uma vida melhor.
Bem, nos últimos capítulos o livro se torna acentuadamente policial e aí você o lê velozmente para chegar ao final, quando tudo se explica ou se encaixa, como num bom exemplar de um thriller. Com a diferença de que este é um thriller sofisticado. Se não, bastante original.
Lido em 06 e 07/11/2013.