laauraisa 02/06/2024
"- Mas os olhos são cegos. Devemos procurar com o coração."
Eu estou encantada com este livro. Que trama maravilhosa!
Todos deveriam ler a obra. É incrível como palavras simples são capazes de fazer-nos refletir sobre quem somos. O livro possui uma linguagem tão leve e fluida que dá um gosto de se ler e, sinceramente, veio a se tornar um de meus favoritos.
" [...] Adultos nunca percebem nada sozinhos e uma criança se cansa de ter que sempre explicar tudo."
Logo no início, esta frase se faz presente, trazendo consigo um peso enorme. Afinal, a maneira que uma criança vê o mundo é bela e rica em detalhes inexplicáveis, mas diversos adultos - que já foram crianças um dia - se mantêm focados em superficialidades e esquecem das coisas bonitas da vida. Somos moldados àquilo que é considerado eficaz e útil, nos deixando escapar a simplicidade e a beleza de concretizar nossos pequenos e grandes sonhos.
"Não vale a pena nos zangarmos com eles. As crianças precisam ter muita paciência com os adultos."
"Naquela época, o cientista apresentou uma grande exposição da sua descoberta a um congresso internacional de astronomia. Mas ninguém o levou a sério por causa da maneira como estava vestido.
Adultos são assim. Ainda bem que, para a sorte do Asteroide B 612, um ditador turco ordenou ao seu povo, sob pena de morte, que passasse a se vestir como os europeus. O astrônomo voltou a fazer sua demonstração em 1920, com uma roupa elegante. Aí todo mundo aceitou."
Tantas frases carregadas de verdades têm um impacto inexplicável, mesmo que o livro seja dado como infantil. A maneira com que o autor descarrega suas frustrações em frases dispostas no livro mostra a decepção que a sociedade o proporciona, a mesma que se diz evoluída, mas apenas regride. Do que nos favorece abandonar a imaginação e risadas bobas por um padrão vazio?
"- Para que servem os espinhos?
O pequeno príncipe nunca desistia de uma pergunta. Eu estava irritado com o parafuso e só respondi para ver se ele se calava:
- Não servem para nada... São uma pura manifestação de maldade!
- Oh!
Ficou calado. Depois, com um ar quase ressentido, disse:
- Não acredito! As flores são fracas. São muitos ingênuas. Agarram-se ao que podem para se sentirem seguras. Pensam que todo mundo tem medo delas por causa dos espinhos..."
No fim, somos frágeis como a flor. Pensamos que não podemos ser apreciados por conta de nossas falhas e particularidades. Às vezes aceitamos pouco demais por não termos consciência do quão valiosos somos. Nos prendemos demais ao que podemos, mesmo que aquilo apenas nos afete.
"- Amar uma flor da qual só há um exemplar em milhões e milhões de estrelas, basta para uma pessoa se sentir feliz quando olha para ela. Porque pensa: "Ali está ela, lá no alto, a minha flor..." Mas se a ovelha comer a flor, para essa pessoa é como se as estrelas se apagassem todas de uma vez! Mas isso também não tem importância nenhuma, não é?"
"Nunca devemos dar ouvidos às flores. Só podemos olhar para elas e cheirá-las. A minha perfumava-me o planeta todo, mas eu não fui capaz de dar valor para isso. E aquela conversa sobre as garras me irritou tanto. Deveria era ter-me enternecido..."
"E disse, ainda: Não fui capaz de entender nada. Devia tê-la avaliado não pelas suas palavras, mas pelos seus atos. Ela era perfumada e dava-me luz! Eu nuca devia ter fugido! Devia ter sido capaz de perceber toda a ternura escondida naquelas suas pobres manhas. As flores são tão contraditórias! Mas eu era novo demais para saber amar."
"- Não fica parado aí que me irrita! Não tinha resolvido ir embora? Pois então vá logo!
Era porque ela não queria que ele a visse chorar. Era uma flor tão orgulhosa..."
É impressionante como este livro expressa a realidade, por mais que não trate especificamente de pessoas. Os sentimentos são incríveis, às vezes dolorosos e, quando a dor é apresentada, criamos uma camada de espinhos difíceis de penetrar. O ego, o orgulho... São apenas mecanismos de defesa que adquirimos para ocultar a mágoa. São importantes, mas se blindar falsamente só traz prejuízo, ainda mais quando você sente de maneira isolada e se priva de realmente ser humano. De sentir intensamente.
"- Pois seria. Só se pode exigir de uma pessoa o que essa pessoa pode dar. A autoridade baseia-se no bom senso."
"- Então você será juiz de si mesmo. É o mais difícil de tudo. Se conseguir julgar a si mesmo, será um sábio dos autênticos - respondeu o rei."
Julgar os outros é fácil, mas reconhecer seus próprios erros e analisar suas ações é ainda mais complicado do que parece. Há momentos em que não queremos admitir o erro, pois somos vaidosos e orgulhosos demais para aceitar críticas e notar que, em alguns casos, elas podem ser reais.
"Este seria alvo do desprezo de todos os outros: do rei, do vaidoso, do bêbado, do homem de negócios. E, no entanto, é o único que eu não acho ridículo. Talvez por se interessar por mais alguma coisa além de si próprio. [...]"
"- Você também pode se sentir solitário no meio de muita gente - disse a serpente."
A fala da serpente me deixou, de certa forma, desconcertada. Sabe quando estamos rodeados de pessoas e, mesmo acompanhados, nos sentimos sozinhos por sentir que não nos encaixamos no ambiente? O desconforto vem e leva consigo o bom humor e a sensação de acolhimento, nos deixando nus no que somos, em nossa própria singularidade.
"- Sim, laços. Por enquanto, para mim, você é só um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso e você. E você também não precisa de mim. Por enquanto, para você, eu sou só uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se você me cativar, passamos a precisar um do outro. Passa a ser único no mundo para mim. E, para você, eu também passo a ser única no mundo..."
"- Por favor, me cativa! - disse, finalmente."
Cativar os outros é reconfortante, ainda mais quando também somos cativados por aquele alguém. Laços são criados e, quando se fortificam e tornam-se reais, são difíceis de romper. Se bem que às vezes somos apenas cativados, mas não cativamos aquele que admiramos e queremos ter por perto.
"- Vocês são bonitas, mas vazias - completou o pequeno príncipe."
Beleza não é sinônimo de autossuficiência e muito menos de uma certeza de felicidade. Tantas pessoas vazias residem e se prendem a única certeza - talvez nem isso - que têm: sua estética. Afinal, o vazio vem de dentro, daquilo que somos de maneira solo.
"[...] - Vou contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos..."
"- Mas você não deve se esquecer dela. Você se torna responsável por aquilo que cativa. Você é responsável pela sua rosa..."
Uma pena saber que muitos não assumem a responsabilidade por cativar outrem.
"- Nunca se está bem onde se está - disse o despachante."
"- As estrelas são bonitas por causa de uma flor invisível aos olhos..."
"- Mas os olhos são cegos. Devemos procurar com o coração."
"- É como com a flor. Quando se ama uma flor que está plantada em uma estrela, é bom olhar para o céu, à noite. É que todas as estrelas ficam floridas."
"Quando nos deixamos cativar por alguém, arriscamo-nos a chorar de vez em quando..."
Eu não podia não dar a quantia máxima de estrelas para esta obra. É tão adulta quanto infantil, pois, bem lá no fundo, todos carregam a criança que foram um dia.