Mary Manzolli 10/07/2021
Necessário
Tratam-se de 9 ensaios publicados em diversos veículos de informação, entre 2008 e 2014, abordando o tema dos direitos das mulheres com o objetivo de provocar discussões sobre as mais variadas formas de violências contra as mulheres, desde as mais violentas, como assassinatos, estupros e espancamentos até o mais sutil ato de silenciar como forma de "proteção".
No primeiro texto, "Os Homens Explicam Tudo Para Mim", o mesmo nome do livro, Solnit conta, de forma bem humorada a história de quando foi a uma festa acompanhada de uma amiga e em um determinado momento, um homem lhe perguntou sobre seus livros e ao citar um deles, foi interrompida para receber a indicação de um "outro" livro "muito interessante" sobre o mesmo assunto, no entanto o livro do qual ele falava e sequer havia lido, tratava-se, justamente, da obra de Solnit. O "senhor importante" discorreu por longos minutos sobre esse trabalho tão importante, sem dar oportunidade para que Solnit se identificasse como a autora.
Nesse primeiro ensaio o que a autora narra é a situação de ter um homem explicando a ela algo que ele não sabe, sobre um assunto que ela domina. Praticamente, todas as mulheres já passaram por algo parecido e por esse motivo o ensaio teve grande repercussão e acabou por cunhar o termo mansplaining (man+explain), mas mais do que isso Solnit observa que, em razão de terem seus conhecimentos muitas vezes questionados e até mesmo silenciados por essa suposta "sabedoria masculina", mesmo nos dias de hoje, muitas mulheres ainda apresentam dificuldades de assumirem suas vozes e seus conhecimentos de forma confiante.
A partir desta primeira reflexão, o livro segue, através dos outros ensaios, construindo a narrativa acerca da importância de se nomear as violências contra as mulheres a fim de que elas sejam reconhecidas facilmente e deixem de ser consideradas fatos isolados para serem encaradas como um padrão persistente de uma cultura patriarcal.
Não é nenhum pouco confortável para mim, dizer aqui que gostei de um livro repleto de informações e estatísticas assustadoras em que nós, mulheres, somos sempre violentadas, humilhadas, diminuídas, silenciadas e apagadas da história, simplesmente por sermos mulheres, mas é uma discussão que precisa acontecer e precisamos estar sempre prontas a lutar contra esta força que nos anula e nos oprime.
Embora, nos dias de hoje, já seja possível encontrar homens que acreditem e estejam dispostos a fortalecer a nossa luta, ainda percebemos mesmo nestes homens, uma incrível disposição em falar mais do que nos ouvir. Penso que a única chance de mudarmos esse comportamento impositivo da parte dos homens seja investindo na educação desta nova geração, ensinando os meninos a não silenciarem as meninas e ao mesmo tempo ensinarmos as meninas que podem e devem falar, participar e opinar sobre qualquer assunto.
Um livro que, sem sombra de dúvida, precisa ser lido, refletido de forma a despertar a consciência de que devemos estar sempre prontas a confrontar o sistema e mostrar que sabemos reconhecer os abusos e violências por mais disfarçadas que elas estejam.
Sigam-me no Instagram para mais resenhas.
@marymanzolli