Mara Vanessa Torres 27/12/2009
Obrigatório aos visionários.
Marshall McLuhan era um visionário. Amado ou criticado, o futurista ostenta extremos. Na obra ''Os meios de comunicação como extensões do homem'' essa visão é corroborada. Excelente. Acho até que McLuhan influenciou Frank Herbert (qual mente 'normal' teria a façanha de escrever 'Duna'?
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Leia a resenha completa neste endereço - http://ceutagecomceut.blogspot.com/2009_06_28_archive.html .
“Hoje, o tirano governa não pelo cacetete e pelo punho; mas, disfarçado-se de pesquisador, ele conduz seu rebanho pelos caminhos da utilidade e do conforto.”
Marshall McLuhan
Se o início do século XX ainda fosse vítima da sangria disseminada pelo Tribunal do Santo Ofício (Inquisição), Marshall McLuhan estaria fadado a uma morte exemplar: cremação em praça pública. Suas idéias, revolucionárias e proféticas, seriam consideradas frutos da “maquinação funesta de Satã”.
Mas, apesar de viver em meados do século passado e cercado de relativa modernidade, McLuhan gerou incômodo e angariou desafetos por conta de suas teorias futuristas. Segundo ele, o avanço tecnológico recria o espaço humano, tornando o ‘passado’ uma espécie de “antiambiente”, que fornece os meios para perceber o próprio ambiente (presente). Conceitos como aldeia global, o meio é a mensagem e impacto sensorial assumiram um caráter fixo para o filósofo.
Em uma de suas obras mais famosas, ''Os meios de comunicação como extensões do homem'' (Understanding Media), Marshall McLuhan delineou o resultado das implicações tecnológicas na sociedade humana e o plano de fundo dessa rede de comunicações. Dividido em duas partes e trinta e três capítulos, o livro atua como uma espécie de “Bíblia da Era Eletrônica”. Em um primeiro momento, o autor aborda as novas maneiras de conceber a informação e que diferenças práticas ela tem provocado nas relações humanas. Os próprios meios seriam “a causa e o motivo das estruturas sociais.” O meio torna-se a mensagem à medida que ele se transforma em argumento irrefutável para a aquisição da mesma. Ou seja: “o próprio meio passou a ser a principal atração, a informação”. Há uma consciência, cada vez crescente, da ação dos meios na vida do homem.
Um dos paradigmas defendidos por McLuhan consiste na teoria da Aldeia Global. Dentro desse conceito, o mundo estaria completamente interligado, interdependente e conectado, proporcionando a diminuição das distâncias e o uso dos meios de comunicação para unir sociedades inteiras, por maiores que sejam as diferenças. A televisão é idealizada como peça-chave desse processo, sendo, à época, o maior meio de comunicação de massa de nível internacional.
A concepção linear e mecanizada do “mundo antigo” (Primeira Revolução Industrial) torna-se obsoleta frente a um mundo tribalizado e autônomo da Era Eletrônica. Os meios passam a ser extensões do homem, complementos dos seus sentidos. Assim como vestuário passa a ser extensão da pele, a roda do pé, o machado da mão, e assim por diante. Os objetos que, outrora, eram vistos apenas como auxiliadores (facilitadores) das atividades humanas passam a ser os próprios realizadores.
Marshall McLuhan apresenta um mundo não mais constituído de fragmentos, mas de configurações e estruturas. Tudo se altera constantemente. Não sobra tempo para a morosidade, para a espera paciente. O tempo-relógio impera. Ele é assessorado pela fluidez, pela rapidez. A compreensão humana está envolvida em uma espécie de narcose, de sonambulismo generalizado. Em Understanding Media, McLuhan faz uma citação brilhante ao mestre T. S Eliot, e sua prima-dona The Waste Land (A Terra Desolada). T. S Eliot apresenta uma cidade que segue os horários mecânicos, mas parece um conglomerado de zombies:
“Cidade irreal,
Sob a fulva neblina de uma aurora de inverno,
Fluía a multidão pela Ponte de Londres, eram tantos,
Jamais pensei que a morte a tantos destruíra.
Breves e entrecortados, os suspiros exalavam,
E cada homem fincava o olhar adiante de seus pés.
Galgava a colina e percorria a King William Street,
Até onde Saint Mary Woolnoth marcava as horas
Com um dobre surdo ao fim da nona badalada.”
(Tradução de Ivan Junqueira)
Outra grande abordagem do autor futurista é a idéia de que a tradição oral tem sido abandonada, dia após dia, dando lugar à escrita, ao visual. Os conhecimentos foram reduzidos a uma única forma. Começaram a ser vistos apenas em sua dimensão visual. Por um lado, a sociedade tornou-se dinâmica. Por outro, perdeu-se a oralidade, a ação, o “observar e repetir”. O simples fato de armazenar conhecimento já implica em sua transmissão, pois o que “está armazenado é mais acessível do que o que ainda vai ser colhido”.
A Era da Informação obrigou o homem a fazer uso de todas as suas faculdades, sem distinção ou dissociações do que é puramente entretenimento e do que é, essencialmente, conhecimento. Lazer e aprendizagem passam a estar associados. As particularidades passam a ser o todo. A “sinestesia” aparece como nova guia de formação e educação.
Marshall McLuhan, profeta do futuro, é a personificação de um universo tecnológico ilimitado. Seus registros são a prova de que há disposições multidimensionais ainda incompreendidas e prontas para serem descobertas.