spoiler visualizarManuela Marques Tchoe 03/03/2018
Surpreendente
A obra vencedora do Prêmio relata o percurso de um escritor que retorna à cidade natal para enterrar o inquilino de seu imóvel. Identificado como irlandês – a única coisa que se sabe sobre o morto – e sem família ou amigos, ele deixa uma carta endereçada ao seu escritor favorito. Sem opções de que conhecidos o enterrem, as autoridades entram em contato com o escritor – que não mais escreve – para que ele providencie o enterro, que depende de um obituário para ser registrado no Livro Tombo dos Mortos. Caso não aceitasse, o destino do irlandês seria o desterro.
Com a promessa de herdar o barco à vela do morto (que depois descobre-se é um barquinho sem-vergonha), o escritor que permanece anônimo retorna à cidade natal e confronta seus fantasmas. Com a missão impossível de encontrar pistas de quem era o irlandês, eventualmente ele falha em sua missão. Mas um novo amigo resolve ajudá-lo na nobre tarefa de roubar o corpo do irlandês do necrotério e levá-lo para uma ilha deserta, onde poderia descansar em paz.
Nessa loucura, eles embarcam no barquinho para uma ilha no Atlântico Sul, onde inevitavelmente o escritor retorma a antiga profissão e escreve o memorial do desterro.
Uma obra que aborda a fascinação da escrita e suas desilusões, não pude deixar de pensar naquele estudo da Universidade de Brasília que aponta as obras de escritores brasileiros como memórias de si mesmos. Mas uma obra sobre um escritor, pensei eu. Quantas mais?
Mas não é só disso que a obra trata, felizmente. A história do policial que torna-se amigo do escritor e embarca numa aventura sem volta se dá uma chance de viver plenamente pela primeira vez na vida. Esquece-se do dever e entrega-se ao desejo de fazer algo, qualquer coisa, que o tire do marasmo de sua rotina. O escritor desiludido com a escrita retoma o prazer das letras, dá uma segunda chance ao seu talento, algo que ele procurava enterrar o mais fundo possível.
Percebi então que, se na superfície a obra mostra as amarguras de um escritor, no fundo mostra a importância de seguirmos nossos talentos independentemente das desilusões assim como de nos entregarmos a cada sopro de vida, de não nos acomodarmos na rotina, de arriscarmos. É claro, quando arriscamos existem consequências, às vezes irreparáveis, como demonstra o final da história. Mas no final das contas, é a jornada, a viagem que conta.
Uma história cheia de imaginação com um fim inesperado; vale muito a pena ler essa obra e, mesmo não sendo minha predileta dentre as cinco, merecedora do prêmio!
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