Karin né? 19/01/2023
Os capirotos da vida mundana
??para abalar sistematicamente os alicerces, para decompor sistematicamente a sociedade e todos os princípios; para desencorajar todos e transformar tudo num mingau, e depois, quando a sociedade ficasse, dessa maneira, desengonçada, esmorecida e doentia, cínica e descrente, mas com alguma cede infinita de alguma ideia norteadora e de sua autopreservação, para dominá-la de supetão, hasteando a bandeira da rebelião??
Essa não é uma resenha sobre a perspectiva geral do livro, até porque eu acredito que mesmo que tentasse, não conseguiria analisar todos os pontos relevantes dessa narrativa, bem como a sua construção em si. É só um comentário sobre um ponto específico que me chamou atenção já nas últimas páginas:
Você já ouviu o ditado ?cachorro que ladra não morde?? Então, esse é um ótimo exemplo do que aconteceu aqui, ao longo da história nós percebemos a dinâmica desse grupo secreto, suas conversas e aspirações, a teor sempre foi duvidoso mas no final eles se veem na precisão de bolar algo extremo, algo que exigiria que eles saíssem do teórico e sujassem as próprias mãos. É interessante perceber que durante o encafifar da peripécia todos se mostravam dispostos, falando do futuro morto com tanta impessoalidade que parecia até que estavam falando sobre como matariam um peru de natal, mas quando acontece de fato eles perdem totalmente o fio da meada pois dão de cara com a realidade terrível do que estavam fazendo, e isso é o suficiente para enlouquece-los, ou pelo menos a maioria deles.
A verdade é que cada personagem do livro carrega um demônio dentro de sua própria história, que os engole aos poucos, matando-os por fim, tirando qualquer traço de sanidade que poderiam ter, ou qualquer vestígio de paz que poderiam desejar.
É um livro denso, mas isso não é novidade, no começo pode gerar desconforto pra o tipo de leitor que ainda não é habituado, mas logo você se acostuma e passa a esperar por esse exagero de detalhes, e no meu caso, foi justamente isso que me deu certa frustração em relação ao final, pois não é um final altamente descritivo, ele é suficiente para o entendimento e fechamento da história, mas nem de longe é descritivo como as partes anteriores.
Como é o meu primeiro livro do autor, não sei se é um costume dele, se é algo intencional pra trazer a tona algum sentimento? mas de todo modo, não estraga a experiência, e com certeza não tira o mérito dessa obra incrivelmente crítica e visionária.