Lorena Miyuki 07/03/2018
Distopia nacional
[A RESENHA COMPLETA ESTÁ NO LINK]
A sinopse conta basicamente tudo, né? Então comecei a leitura sem qualquer expectativa. A única coisa que eu sabia era que tinha sci-fi no meio de romance gay. O encontro dos dois é literalmente nas duas primeiras páginas, então o enredo inteiro vai se desenvolver na aproximação (ou não) de Ícaro e Hunter, e no mistério que envolve esse último, mas também na curiosidade inesperada de Hunter na chegada desse cara. E a maneira como o mistério é construído é muito interessante porque te deixa preso, sabe? Eu li metade do livro numa sentada porque queria saber o que tava acontecendo de uma vez... E pontos pro Aurélio: ele conseguiu manter a expectativa da experiência lá em cima, sem perder o pique, porque as poucas respostas só vêm no final da trama, então você é basicamente obrigado a ler o livro todo pra saber alguma coisa.
A ambientação de modo geral, porém, é bem falha. [...] Muita coisa passou batida nesse sentido e eu não sei se foi de propósito ou não, porque infelizmente esse é só o primeiro livro e eu não sabia. [...]
Por outro lado, há diversos detalhes que poderiam ser cortados sem afetar a trama em si, e seriam substituídos por alguma explicação dessas coisas que faltaram. [...]
Os personagens são legais e até certo ponto verossímeis, alguns mais bem construídos que outros - e um adendo: o Hunter, infelizmente, é o que menos foi aprofundado, não sei se por causa da primeira pessoa, algumas coisas sobre ele passam batido, e outras parecem não se encaixar de forma geral (a coisa toda do teatro, por exemplo, me pareceu muito forçada/fora da realidade deles). Além do Ícaro, que é uma incógnita instigante e sensual (se é que posso dizer isso assim), somos apresentados ao Alejandro, peça chave na história toda, e ao Caio, seu companheiro de quarto. Os dois são muito visíveis e mais empáticos que o próprio protagonista, inclusive arrisco dizer que o Caio é o melhor personagem do livro todo por inúmeros motivos. Fiquei incomodada, porém, com os estereótipos incutidos no Alejandro, por exemplo. Acho que poderiam muito bem ser evitados, e em certo momento me passou a impressão de que uma parte dele, da construção do personagem mesmo, foi alterada só para que ficasse mais "inclusivo" e diversificado, sabe? (spoiler pra quem leu: Alma).
[...]
No mais, foi uma surpresa boa encontrar uma história prazerosa, que não foca exatamente no romance entre Ícaro e Hunter (porque isso é o menos importante na história como um todo, eu acho), e que traz uma distopia nacional bem empolgante de se ler.
site: http://www.marcadocomletras.com/2018/03/review-teia-de-vidro.html