À la Recherche du Temps Perdu

À la Recherche du Temps Perdu Marcel Proust




Resenhas - À la Recherche du Temps Perdu


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Clio0 23/10/2021

Essa edição da Gallimar engloba os sete títulos que perfazem À la Recherche du Temps Perdu (em português: Em Busca do Tempo Perdido), considerada por muitos como uma das maiores obras da literatura mundial.

O livro é uma biografia ficcional onde o autor se senta para destrinchar suas memórias em uma tentativa de recuperá-las. O que torna a leitura especial é a proposta do autor, contudo. Sua ideia não apenas a formulação de uma crônica, mas de que uma memória - ou um tempo - só pode ser verdadeiramente relembrado através da emoção.

Assim, o grande trunfo, aquilo que torna essa obra ímpar, é a capacidade de Michel Proust de manipular a escrita para que ela simule sentimentos. Quando o protagonista fala de paixão, as palavras sobre seus sentimentos e ações remetem a onda, a uma corrente fluvial que arrasta o leitor. Se a passagem remete a raiva, então há uma cadência sincopada, como a batida de uma mão ou de um coração.

O quão isso pode ser reproduzido em uma tradução? Não sei dizer, mas ler a obra em sua forma original é uma experiência emocionalmente exaustiva. Há inúmeras digressões e a história não é linear, assim em um momento há uma forte discussão em torno do ciúme, para em sequência sermos arrebatados para um raciocínio em torno do desenvolvimento intelectual, por exemplo.

A escrita de Proust também é um caso a parte, pois no início do século XX (momento de publicação das primeiras edições) ele já se valia de recursos como capítulos compostos de um único parágrafo e pouca ou nenhuma pontuação.

Um dos pontos mais controversos dessa saga é a homossexualidade. Para quem não sabe, esse tema já era um dos enfoques da literatura francesa - mais como questão social do que religiosa. Em relação a grande pergunta: Era o protagonista homossexual? Não há uma resposta clara no texto. Quase todos os personagens tiveram experiências homo ou estiveram envolvidos indiretamente; isso cria uma dimensionalidade que rebate a moral burguesa da época e faz crer que a resposta pode ser sim.

As outras instâncias estão tão presentes quanto. A necessidade da presença materna, o terror e posteriormente o respeito pelo pai, o ciúme dos amigos, a obsessão por mulheres, a admiração e o luto pela avó. Todos os elementos podem confluir para uma argumentação.

Os três últimos títulos (La Prisionnière, Albertine Disparue, Le Temps Retrouvé) foram publicados post-mortem. Logo, não há como saber quais modificações teriam sido feitas no texto pelo punho do escritor; isso não significa um decaimento da qualidade.

De fato, o último volume em particular parece ganhar uma forma ainda mais expectante, como se exsudasse a pressa, o desespero do autor em terminá-lo.

Não tenho palavras para recomendá-lo. Deixo apenas o testemunho que essa pode ter sido a melhor obra que já li.
Pablo Paz 24/10/2021minha estante
Só li o primeiro volume, mas ainda vou terminar essa obra. Bela resenha.


Felipe.Camargo 24/10/2021minha estante
Você é incrível!


Lelouch_ph 25/10/2021minha estante
Mds. Esse livro gigante é bom assim? ?


Clio0 25/10/2021minha estante
Melhor.




Gabriel 23/10/2022

Cheguei ao fim. Foram dez meses de leitura incessante, por vezes difícil, arrastada, mas sempre desejosa das paginas finais desse romance. Romance desmesurado, que é mais que um romance, é a vida confundida tão fortemente com a literatura. Resenhar um livro dessa magnitude parece não apenas ultrapassar minhas capacidades, mas colocar a perder também a proposta de Proust. Não importa tanto o encadeamento de cenas, o enredo, a evolução dos personagens. O que ressai, ao final, é a necessidade da escrita para encontrar, de fato, o vivido. Tempo perdido a ser reencontrado.
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