Cris Compagnoni 02/12/2011
Este é mais um livro do Moacyr Scliar, um dos meus autores preferidos; é uma história bíblica assim como A MULHER QUE ESCREVEU A BÍBLIA. Porém isso não quer dizer que seja uma história religiosa ou que tenha a ver com religião, muito pelo contrário, é uma história pra lá de divertida, com personagens bíblicos.
Shela é o narrador desta história, ele é o filho caçula do patriarca Judá; acho que o que mais gosto nas histórias de Scliar é o modo como ele chega no narrador da história, em A MULHER QUE ESCREVEU A BÍBLIA foi através de uma seção de regreção; já em MANUAL DA PAIXÃO SOLITÁRIA acontece um congresso bíblico onde um famoso professor fará uma palestra sobre um manuscrito recentemente descoberto, esse manuscrito teve Shela como seu autor, e o professor “encarna” este autor como personagem e apresenta um monólogo em primeira pessoa dando vida à Shela.
Mas vamos à história. Judá teve três filhos: Er, Onam e Shela, o mais velho Er fez um grande casamento com a linda filha do sacerdote, Tamar; só que ele não era muito interessado em mulheres, e a sua nunca engravidava como todos esperavam; até que um dia Er moreu.
Como era tradição na época, Onam casou-se com Tamar, pois tinha a obrigação de engravidar a cunhada, já que seu irmão não o fez, mas como ele achava que ela era a culpada pela morte de Er, queria vinga-lo, e todas as vezes que mantinha relações com Tamar ejaculava na terra, praticava o coito interrompido, não daria a mulher o filho tão esperado por todos da aldeia. Aconece que Onam de repente adoece e morre.
Tamar vai cobrar de Judá o marido a que têm direito, exigindo se casar com Shela, mas o patriarca com receio e medo de perder o seu agora único filho, pede que Tamar espere, alegando que Shelá não é um homem ainda. Mas Tamar depois de três anos esperando resolveu agir, ficou sabendo que Judá faria uma viagem, se disfarçou de prostituta e seduziu o sogro, deitou-se com ele, mas ele estava despreparado financeiramente, prometeu que enviaria o pagamento depois. Tamar exigiu garantias, pediu que o sogro deixasse o seu cajado, o sinete e o cordão, símbolos de sua condição de patriarca, que seriam devolvidos quando o pagamento fosse efetuado. Mas quando Judá mandou alguém pagar a prostituta, ela não foi encontrada, ninguém sabia dela.
Poucos meses depois o patriarca ficou sabendo que Tamar estava grávida, e como era tradição daquele povo, ela seria condenada a morte pois deveria se manter fiel a memória dos maridos falecidos, e Judá foi busca-la a fim de executar a pena. Só que Tamar revelou quem era o pai de seu filho, mostrou-lhe o cajado, o sinete e o cordão como prova e foi perdoada.
Shela assiste todos estes acontecimentos, sofre sozinho e em silêncio em sua caverna, onde faz figurinhas de barro, escreve, dá asas a sua imaginação; e, principalmente, deixa explodir a sua secreta paixão por Tamar, cria um método para isso, algo inovador, que lhe permite ter prazer sem ao menos estar junto da cunhada, Shela é o provável “inventor” da masturbação; e o seu manuscrito é um verdadeiro manual, no sentido literal da palavra.
Apesar de ter a impressão de que já contei toda a história, ela não termina aí, têm um desfecho surpreendente, que a mim, deixou de ‘queixo caído’, tudo bem que sou muito suspeita para falar isso, mas, Moacyr Scliar é genial. Sobre o final, eu não vou contar, se não perde a graça!
http://criscompagnoni.blogspot.com/2010/10/manual-da-paixao-solitaria.html