Ler e Escrever

Ler e Escrever V. S. Naipaul




Resenhas - Ler e escrever


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Samara 13/05/2024

Quando fui fazer a análise dos livros que li ano passado, percebi que não havia lido nenhum asiático ou africano, então este ano decidi me desafiar a ler livros de todos os continentes, conhecendo mais o mundo através da leitura.

Foi assim que conheci V.S. Naipaul, autor que até já ganhou o Nobel. Pesquisei listas de autores caribenhos/da América Central e lá estava seu nome. Depois procurei por ele no Biblion e encontrei o "Ler e escrever".

Neste livro, Naipaul apresenta três relatos de sua relação com a leitura e a escrita. Um deles, inclusive, é seu discurso da cerimônia do Nobel. O que achei mais interessante é que a perspectiva do autor é muito diferente da de diversos autores que já escreveram sobre sua lida. Naipaul não gostava de ler quando era criança, e isso se dava porque os livros que eram apresentados a ele na escola se passavam em realidades completamente diferentes da dele.

O autor nasceu em Trindade e Tobago, na ilha de Trinidad, pois seus avós imigraram da Índia por conta da promessa da Inglaterra, que na época colonizava (explorava) ambos os países e prometia terras futuras para quem ocupasse Trinidad. Assim, Naipaul cresceu em uma família indiana que aos poucos se esquecia de seus costumes, sendo vizinho de muçulmanos, descendentes de africanos escravizados e venezuelanos, tendo que estudar numa escola britânica que queria que ele lesse (e se envolvesse com) livros escritos em países muito distantes geográfica e culturalmente, livros europeus. Ainda assim, o autor gostava de histórias, gostava de filmes, e seu pai o estimulava lendo trechos para ele.

"Ler e Escrever" é um livro que provoca não só reflexões sobre a escrita e a leitura, mas também sobre a colonização cultural que países europeus tentavam fazer com suas colônias e sobre o sentimento de pertencimento quando vamos atrás de nossas origens.
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Luiz Pereira Júnior 13/04/2023

A letra e (é) a vida...
Trazendo três textos curtos (“Ler e escrever”, “O escritor e a Índia” e “Dois mundos”, esse último o discurso para o Prêmio Nobel recebido pelo escritor), esse opúsculo é um bom relato das experiências pessoais da descoberta do autor pela literatura, enfocando a enorme mistura de raças, origens e nacionalidades que o levaram a construir seu estilo literário, ao mesmo tempo refletindo com maior ou menor profundidade sobre outros aspectos de sua vida: o sistema de ensino em que muito se decora e pouco se aprende foi um desses supostos desvios (mas imprescindíveis para que a figura de Naipaul ganhe o relevo – ou relevância - se preferir) que mais me chamaram a atenção.

Enfim, mais uma obra da Editora Âyiné, que prima pela impressão de livros com, no mínimo, bom conteúdo e preços, no mínimo, bem elevados (chegando em alguns casos a altíssimos, estratosféricos e além-da-imaginação) e com belas capas (algumas tão bonitas que cheguei a acreditar terem sido tiradas de algum renascentista famoso).

Vale a pena? Caso você ame livros sobre livros e encontre essa edição a um preço camarada (mesmo sabendo que é uma obra curta, 119 páginas, e em formato de bolso), com certeza, sim, vale a pena viajar no tempo e no espaço com esse merecido ganhador do Nobel.
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Paulo Sousa 13/01/2024

Leituras de 2024
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Ler e escrever [2001/2020]
Orig. Reading and writing
V. S. Naipaul (??1932-2018)
Âyiné, 2017 e 2021, 124p.
Trad. Rogério Galindo e Sandra Dolinsky
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?Eu queria ser escritor. Mas junto com o desejo, viera a compreensão de que a literatura que me havia causado esse desejo era de outro mundo, muito distante do meu? (pág 15/iBooks).
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Ah, férias?somente este hiato de trabalho e demais afazeres compreendidos no ano útil, para me permitir poder ler com vagar as coisas que há tanto quero lê-las. E nada como a celebrada condição de estar, ainda que momentaneamente, desligado desses afazeres e poder viver o deleite de ler um livro atrás do outro nesses dias brejeiros...
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Sempre que posso, gosto de ler sobre livros, leitura e o ofício de escrever. É um universo instigante para mim o que pulula a cabeça do escritor, as gentes dos livros somos levados a crer num mar de palavras e ideias, uma mixórdia de temas que se misturam à própria vivência do escritor e que, uma vez deitados ao papel, se tornam arte, se tornam livros.
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Vidiadhar Surajprasad Naipaul, ou, para ficar mais fácil, V. S. Naipaul, nascido na idílica Trinidad & Tobago, é um escritor que ganhou o prêmio Nobel de literatura em 2001. Entre seus livros mais famoso estão ?Os mímicos?, ?Uma curva no rio? e ?Uma casa para o Sr. Biswas?, livros que aliás os possuo e que estão já há algum tempo relegados à espera e à falta de lepidez de seu dono, para lê-los. Paciência.
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Em ?Ler e escrever?, são juntados três textos do autor: este que dá título ao livro, ?O escritor e a Índia? (uma viagem que Naipaul fez em busca das suas raízes mais primárias) e o famoso ?Dois mundos?, que trata do seu discurso quando laureado com o Nobel pela Academia, em 2001.
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Bom, topei com este livro de bolso por acaso na loja de livros do iBooks, ainda enquanto lia o romance do Kawabata, minirresenhado ontem. Fiquei logo interessado em saber do universo criativo de um autor que tenho imensa vontade de ler algum de seus livros (quem sabe, não já emplaque um dos dele na próxima leitura?) e o que pude notar é que Naipaul teve lutas internas difíceis de lidar, já que, à medida em que foi amadurecendo seu estilo de escrita, concomitantemente, aumentava seu amadurecimento social.
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Uma vez que Naipaul olhou com olhos críticos toda a história por trás das bases literárias, às quais foi apresentado ainda quando estudante de Trinidad, uma vez já vivendo em Londres, ele pode perceber um imenso hiato na qualidade e eficácia do ensino escolar de ambos os países - compreensivelmente, já que estamos falando de colônia e colonizador. A disparidade percebida por Naipaul não era somente racial ou étnica. A própria literatura da ilha e outras que posteriormente analisou, não eram de fato coerentes com a própria história de vida ali. Naipaul escreveria ?Os mímicos? para justamente falar dessa falha, ?um sentimento de vergonha e fantasia colonial, de impotentes mentindo sobre si mesmos e para si mesmos?.
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O livro em si, de forma simples, muito entrega da vida intelectual de Naipaul e seu universo de criação literária. Vale a pena sua leitura principalmente por se debruçar sobre o problema da herança maldita relegada pelo processo colonizador, quando homens que se consideram superiores, invadem vidas e histórias e as tornam subalternas, danificando - por muito tempo, vê-se - aquela forma particular de se ver e de ver o mundo. Trágico, ainda que cômico.
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regifreitas 16/03/2018

Dois ensaios: "Ler e escrever" e "O escritor na Índia", mais o discurso "Dois mundos", proferido por ocasião do recebimento do Nobel de Literatura, em 2001, compõem esta obra.

De origem indiana, o autor é natural de Trinidade e Tobago, restaurando, nesses textos, suas memórias de infância, a partir do momento em que ele começa a se aproximar da leitura e é despertado para o desejo de se tornar um grande escritor. Também a relação de Naipaul com a Índia de seus ancestrais é abordada aqui, sempre do ponto de vista de um emigrante/colonizado vivendo na periferia do Império Britânico/colonizador, com todo o sentimento de deslocamento vivenciado nessa relação.

Vez ou outra o autor também se envolve em polêmicas, como em 2011, quando, em uma entrevista, afirmou que as obras de escritoras mulheres não estão à altura da produção dele mesmo, Naipaul, por conta da "sensibilidade e estreita visão de mundo das mulheres". Aqui nesses textos do LER E ESCREVER, pelo menos, ele não comete atos de arrogância como essa.

Certamente V.S. Naipaul não é uma unanimidade, como aliás muitos dos autores que já foram agraciados com o Nobel também não o são.
victoria.rebell 22/03/2019minha estante
Arrogância seria se fosse em relação a todos os outros escritores. Em se tratando apenas de mulheres, é misoginia mesmo. Fiquei bastante decepcionada com isso.


regifreitas 22/03/2019minha estante
você está absolutamente certa, Victoria!




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