vagnerrg_ 01/01/2022
“Não-lugar
O poeta sofre de ataque de existência continuado. Ele caminha erguidamente sobre a própria ruína. Ele escuta solidão, mas não há ninguém ao lado. Ele vê o crepúsculo e estremece porque não há ancestrais nem descendentes”.
O livro tem uma potência enorme. Trata de vários temas e eu poderia dizer que é um trágico passeio entre a filosofia, psicanálise e poesia. Juliano Pessanha (JP) trata de temas caros à pesquisa filosófica como o nascimento e a intimidade. O nascimento de si mesmo, não o nascimento do outro; a intimidade de si, não a intimidade compartilhada. Quando nascemos vivenciamos um nascimento para fora, para a exterioridade; contudo, há um momento na vida em que nascemos verdadeiramente e isso ocorre quando nascemos para dentro de si mesmo. É estranho olhar para si e se reconhecer. Você sabe quem você é de fato? Você já passou pelo processo de nascer para dentro?
A princípio pode parecer que ao nascermos para dentro morremos para fora e isso não é uma verdade. O lance é que na esfera da intimidade há um olhar focado para dentro e é aí, nesse contato íntimo que percebemos quem de fato somos. O fora continua existindo, mas de forma diferente, pois passa a existir como limite. É um limite intransponível: a existência. Porque funciona como uma esfera que abarca todas as coisas que existem e, de forma muito intuitiva, concluímos que nada pode existir fora da esfera da existência. Obviedade sempre ignorada.
O passeio conduzido por JP me fez relembra de Nietzsche, me explicou coisas até então incompreendidas em Sloterdijk e Winnicott e me propôs um respiro mais profundo para além de Freud e Lacan. JP me fez lembrar de Parmênides e perceber como as coisas complexas são, na verdade, muito simples. JP me lembrou novamente que na crise há crítica e é na crítica que nos aproximamos novamente do mundo.