Leiliane 02/08/2013
Marx: A História do Homem que Desnudou o Sistema Capitalista
O livro Marx Vida e Obra, de Leandro Konder, retrata os caminhos traçados por um dos mais brilhantes filósofos da história: Karl Marx. Konder opta por contar aos leitores um pouco dos acontecimentos que levaram esse grande revolucionário socialista a se tornar um dos mais célebres nomes na retratação e compreensão de sua sociedade e das mazelas econômicas feitas pelo homem ao próprio homem.
Nada mais interessante ao estudar a obra de alguma figura importante do que saber o que pode ter levado a mesma a seguir determinado sistema, por isso o autor do livro inicia com algumas informações básicas da vida de Marx, como onde nasceu, sua infância, o relacionamento com Jenny, formação acadêmica entre outros fatos. O livro vem justamente com o cunho de sanar qualquer dúvida a respeito desse filósofo, economista, historiador, jornalista, teórico político, enfim, só aí já se percebe a genialidade de Marx. O autor nos releva um Marx “real”, que assim como qualquer humano, teve diversas barreiras em sua trajetória.
Marx tinha descendência judaica, seus avós maternos e paternos eram judeus, mas seus pais se afastaram dessa religião se tornando protestantes. Ainda pequeno ele perdeu dois de seus oito irmãos: Moritz-David e Eduardo. Mais tarde morre seu irmão Hermann, aos vinte e três anos. A época que Marx vivia era aquela da Revolução Francesa e da Era Napoleônica, período caracterizado pela estagnação e conservadorismo da sociedade. Na sua adolescência, além de se destacar por sua inteligência, o pensador já se mostrava contra o autoritarismo do governo absolutista. Apaixonou-se por Jenny que mais tarde, após Marx se formar e concluir sua tese de doutorado, torna-se sua esposa.
Embora desejasse ser professor universitário, Marx foi impedido pelo governo que não queria nenhum hegelianista de esquerda lecionando em suas universidades. Com a morte do pai de sua noiva Jenny, o filósofo percebeu a necessidade de encontrar outro meio de sobrevivência. Tendo em vista a impossibilidade de ser professor, Marx resolve disseminar suas ideias através do jornal Anais Alemães, mas o artigo enviado para o jornal mencionado não foi aceito devido se tratar de uma crítica à censura. Logo depois este mesmo artigo foi publicado pela revista Anedota, de Zurique. Depois Marx começou a escrever para a Gazeta Renana, aonde mais tarde viria a conhecer seu amigo e parceiro Engels. Mas sua estadia na revista foi interrompida devido a publicação de uma artigo contra o absolutismo russo. Com isso, o governo prussiano fechou o jornal a pedido do czar Nicolau I.
Konder disserta sobre o que fez Marx se aprofundar na doutrina comunista: a ignorância da própria população sobre aquilo que era denominado comunismo. Marx viu a necessidade de fundamentar essa doutrina que luta pelos direitos da população agrária, dos operários e pelos direitos daqueles esquecidos por uma sociedade capitalista e autoritária. Karl foi um dos pioneiros no apoio à luta do proletariado, arquitetando teorias que asseguravam os direitos à dignidade destas pessoas. Era defensor ferrenho da teoria de que a religião não era a única responsável pela alienação da população, mas a própria conjuntura econômica da produção era quem ditava isso. A alienação era uma arma utilizada pela classe dominante para conseguir controlar a população por meio do trabalho. O autor ainda comenta que esse filósofo alemão ao falar sobre a situação dos judeus na antiga Prússia e no mundo, e de sua condição de prisioneiros em seu próprio país, não dizia respeito apenas às questões políticas, mas que a emancipação humana só seria possível “quando todos os homens puderem desenvolver uma atividade criadora que não esteja sujeita às pressões deformadores da propriedade privada e do dinheiro.” (KONDER, p.29)
Impossível escrever sobre Marx e não mencionar Friedrich Engels, afinal os dois escreveram aquele que se tornou um dos principais livros da doutrina comunista e do pensamento marxista, e Engels também ajudou financeiramente a família de Marx nos períodos mais difíceis, oferecendo inclusive sua casa como morada para eles. Desde que se encontraram pela primeira vez na Gazeta Renana até a morte de Marx, os dois cultivaram uma amizade não só fortalecida pela empatia nos mesmos conhecimentos e doutrina, mas pela fidelidade de seus atos.
Após anos de dedicação às suas teorias, várias viagens, várias decepções, exílio e julgamentos errôneos sobre aquilo que defendia, Marx passou o final de sua vida na miséria. Apesar da perda de dois filhos, cada um com um ano de vida mais ou menos e em um curto período de tempo, decorrentes da situação drástica que a família passava, Marx se mantinha aparentemente forte, escrevia sobre economia política para alguns jornais. Porém a morte, até então, que veio a abalar Karl, foi a de seu filho de nove anos, Edgar. Ele também já não era um homem saudável, dois anos após a morte de seu filho (1957), estava doente do fígado, resultado provavelmente das noites de bebedeiras características na juventude de vários intelectuais e boêmios.
Com o tempo, a situação financeira melhorou um pouco devido a vários acontecimentos e também ao noivado de sua filha Laura com um escritor cubano. Esse período - anos de 1860 onde o capitalismo ainda estava efervescente- foi o qual gerou a magnum opus O capital. Neste livro Marx mostra ao mundo seus principais conceitos, como a distinção entre valor de uso e valor de troca, mais valia, salário, modos de produção capitalista etc. Marx padece dois anos após sua esposa Jenny, ela com câncer no fígado, ele com abscesso no pulmão. Antes de sua morte, ele ainda escreve o segundo e terceiro volumes de O capital. Como a doença e o cansaço já o dominavam, ele escreveu pouco no período anterior a sua morte.
A contribuição de Marx para a modernidade e contemporaneidade é incontestável. O livro Marx Vida e Obra vem justamente sublinhar isso. Konder mostra ao leitor facetas desse grande filósofo que tanto contribuiu para o entendimento do sistema que ainda hoje massacra populações e destrói sonhos que não puderam nem ser cultivados. Esta obra é indicada tanto para aqueles ligados às áreas humanas tão bem para aqueles que se mostram curiosos a respeito deste, que foi diversas vezes dito como sonhador e disseminador de utopias. Não é preciso ser comunista para perceber que o sistema capitalista é um dos responsáveis pelas barbáries cometidas pelo homem à sua própria humanidade. Marx ousou em sua época e ainda ousa, conquistando simpatizantes e inimigos, sendo assunto entre as pessoas que assim como ele acreditam que o homem pode ser bem melhor que isso que ele é, e também sendo interrogado por aqueles que ainda dominam: os burgueses.