Khêder Henrique 08/10/2010
Sex And The City
Demorei muito para ler esta obra. Interrompi sua leitura diversas vezes antes de chegar ao seu fim para fazer coisas mais interessantes. Passadas as 352 páginas, só tenho uma coisa a dizer: perdi muito tempo com Sex and the city... à toa.
É importante destacar que este tomo não é um romance, mas uma coletânea de histórias que revelam o que acontece debaixo dos lençóis dos nova-iorquinos. São revelados seus fetiches, fantasias, medos e...hã... até suas posições preferidas.
Diferente da (muito superior) série de televisão, que traz como protagonistas quatro divertidas mulheres na casa dos 30 anos bem sucedidas profissionalmente e “disponíveis”, o livro apresenta personagens inconsistentes e nem um pouco cativantes. Há desde o homossexual que nega veemente sua opção sexual e as mulheres fúteis que se sustentam com as pensões de seus casamentos que chegaram ao fim até os “modelengos”, ou seja, homens que saem apenas com modelos e uma jornalista que escreve uma coluna sobre sexo e está atrás de todas estas histórias. Essa personagem é a Carrie da TV, mas aqui ela vive um dramalhão no melhor (ou seria pior?) estilo de novelas mexicanas com Mr. Big.
O livro aborda uma sociedade tão distante da realidade da maioria das pessoas que a identificação é muito improvável. O que sobra é o fator de curiosidade. Curiosidade sobre um estilo de vida tão sem sentido, tão fútil que dá até imaginar porque aquele astro famoso trilhou o caminho das drogas ou determinado playboy foi à ruína.
E é este estilo de vida que cansa a leitura, pois permeia todo o livro. Estamos falando de pessoas que passam os fins de semana em Aspen para esquiar ou resolvem não trabalhar na manhã seguinte porque estão “curtindo” uma ressaca terrível. Pessoas que vivem em badaladas festas e saem em colunas sociais fazendo de tudo para manter as aparências. Pessoas que não possuem problemas financeiros. E quando dinheiro não é problema, quais seriam os obstáculos da vida? Os subterfúgios criados por estas mesmas pessoas que buscam significados para suas vidas medíocres. Daí tantos personagens que nunca sabem o que querem, não conseguem sustentar um relacionamento, pois sofrem constantemente de “apaixonites” por todos os seres humanos interessantes que aparecem pela frente ou mulheres interessadas mais no tamanho do pênis do que do cérebro de seus parceiros.
O livro, logicamente, não é apenas ruim. Do contrário, só a loucura explicaria esta obra inspirar a criação de uma badala série de TV homônima. A principal diferença entre livro e série televisiva é a ausência do quarteto feminino no qual se centram as histórias apresentadas na TV. No livro, a constante mudança de personagens prejudica o ritmo da leitura. Quando passamos a gostar de certo personagem sua história termina e ele não volta a aparecer, mesmo quando a obra continua a falar do mesmo grupo de pessoas de uma mesma cidade: a elite de Nova York.
As partes legais sãos as anedotas sobre esta ou aquela transa e alguns diálogos inspiradíssimos sobre algo tão trivial na vida de todos nós, mas um assunto tabu discutido apenas entre os mais íntimos amigos: o sexo.
Apresentar a visão feminina sobre o sexo com inteligência, elegância e bom humor é o grande charme da série de TV e, ao mesmo tempo, a maior ausência do livro. Este é um dos poucos casos em que a obra derivada é bem superior a original.