spoiler visualizarRicardo 29/07/2011
Por que não?
Os Astronautas de Yaveh chegou até mim por puro acaso. Um dia desses, ao término de um dia de trabalho, vi o livro exposto em uma banca de jornais na Avenida Paulista. O título chamou minha atenção e o preço estava bastante convidativo para um livro editado em 16x23cm e com quase trezentas páginas. Pensei: O que será isso? Uma espécie de “teoria de conspiração”? Depois de ler a sinopse, achei que valia a pena arriscar. E lá se foram R$ 16,90... bem gastos!
Para fundamentar sua tese e expor seu pensamento, o autor tece considerações sobre os evangelhos canônicos e [principalmente] acerca dos chamados “apócrifos”. Para quem não sabe, apócrifos são os escritos bíblicos que não foram escolhidos pela Igreja como “oficiais”, mas que contêm detalhamentos de fatos que teriam ocorrido desde centenas e centenas de anos antes do nascimento de Jesus até sua ressurreição. Fatos – vale ressaltar – muitas vezes ignorados, ou relatados de maneira um pouco diferente por Marcos, Mateus, Lucas e João.
A princípio, tudo me pareceu uma grande fantasia de Benítez, mas é visível que o autor pesquisou tanto – e nas mais diversas fontes – que é impossível não levar a sério sua versão para as aparições de anjos, da estrela de Belém e da chamada “nuvem” (ou "glória") de Yaveh, relatadas sobretudo durante os anos em que Moisés conduziu o povo hebreu até a “terra prometida”.
Resumindo o conteúdo deste ensaio literário, o autor espanhol faz longas considerações sobre diversas passagens bíblicas, citando [muitos] trechos dos evangelhos apócrifos, além de textos de vários estudiosos do assunto, tudo para tentar demonstrar sua teoria: nada de anjos, nada de “nuvem de Yaveh”, nada de estrela de Belém. Todas as aparições desta espécie ocorridas naqueles tempos remotos seriam, na verdade, de seres mais evoluídos que nós (porém não exatamente anjos, mas astronautas de outros mundos, ou de outras dimensões), que estariam cumprindo uma missão de “intermediários de Deus”, ajudando os seres humanos a acelerarem seu processo evolutivo, preparando-os para a chegada de um Ser Superior – Jesus Cristo – que muito nos ensinaria (e, de fato, ensinou). A nuvem de Yaveh, e outros termos correlatos, referir-se-iam às naves utilizadas por estes seres. A estrela de Belém, que teria “pousado” sobre a caverna onde Jesus nascera, seria igualmente uma espaçonave.
Parece loucura para você? Bem, talvez seja mesmo uma grande viagem, mas Benítez, como já disse, pesquisou exaustivamente e soube fundamentar bem (em alguns pontos, até exageradamente) suas teses. Ao término do livro, eu fiquei mesmo com a chamada “pulga atrás da orelha”. Tudo que é trazido em Os Astronautas de Yaveh certamente merece boas reflexões. Não é, de forma alguma, uma obra descartável.
Compartilho do inconformismo do autor com relação a certas passagens bíblicas, nas quais a atuação de um Ser Supremo (no caso, de seus “emissários”) teria causado a morte de inúmeras criaturas. Emblemática, nesse sentido, seria a abertura de um canal no Mar Vermelho para que o povo hebreu continuasse sua jornada em busca da “canaã”. Okay, talvez fosse necessário que algo fantástico acontecesse para que aquele povo pudesse fugir da escravidão à qual estariam submetidos e seguir o caminho proposto por Yaveh. Mas... por qual razão seres tão evoluídos precisariam causar a morte de tantos egípcios para realizar tal feito? Sempre me pergunto se isso aconteceu exatamente como descrito no Velho Testamento. Fico pensando: será que não haveria uma maneira mais “civilizada” para alcançar esse objetivo? Ora, considerando que os seres humanos matam até por motivos banais (inclusive hoje em dia), acredito que aquelas criaturas teriam perdido, naquele episódio, uma ótima oportunidade para nos deixar um exemplo pacífico diante de uma situação de conflito. Isto certamente teria influenciado positivamente as gerações que se seguiram.
Bem, o livro em si é uma experiência interessante. Você pode concordar ou não com o que o autor diz, mas, se tiver a mente aberta, certamente vai parar para refletir sobre os temas abordados. Afinal, depois de tantos séculos (milênios, até) desde aqueles acontecimentos, ainda procuramos por respostas sobre nossas origens e também por um contato mais “palpável” com nosso Criador. Tudo que nos foi passado até hoje (seja por religiosos, seja por cientistas) não esclareceu muitas coisas sobre esses temas tão polêmicos. Então.... por que não levar a sério a teoria de Benítez? Ela não é absurda. Enquanto houver tantas dúvidas e divergências sobre a existência de um Deus e acerca de sua possível interferência no rumo das coisas no pequeno planeta em que vivemos, o que o autor diz não me parece menos crível do que as interpretações tradicionais sobre os supostos milagres que teriam ocorrido naqueles tempos.