Desativado 16/04/2011
As Crônicas do "Mais do Mesmo" - O Tigre, a Altruísta e o Casarão
Well, como começar essa resenha? É de uma dificuldade razoável, afinal, são tantas as coisas que penso ter a comentar que é capaz que nem todas sejam verdadeiramente abrangidas por aqui. E, me embriagando com uma boa dose do novo álbum dos sempre sensacionais rapazes do Foo Fighters, Wasting Light, inicio a escrita desta crítica.
Começando com a pergunta: Quantas histórias sobre deficientes, físicos ou mentais, você já lera ou assistira? Muito bem, responda mentalmente, nada de conversar com o computador. Agora, novamente, uma segunda questão: Quantas delas foram realmente convincentes? Caso seja você uma pessoa muito emotiva, não chegue a dar uma resposta.
Essa pequena introdução serve apenas como uma base para o que vem a seguir, então, atenção; falsos moralistas e espalhadores da paz parem de ler aqui.
Em minha singela opinião, uma obra, seja textual, cênica ou musical, deve, ao máximo que conseguir, ter traços inovadores e surpreendentes, do modo que extraia de seu público as reações de empolgação e a súbita vontade de presenciar o enredo todo novamente. É a magia do novo; o novo, em si, assim como mudanças, atraem a curiosidade humana - essa nossa raça adora isso, ora. Um livro de fantasia, em particular, deve estabelecer uma relação íntima e quase subjetiva com seus leitores, desde que não caia na mesmice. O pecado literário que acontecera nessas bandas imaginárias.
O Veleiro de Cristal não é nada mais do que um abusivo do clichê e das trivialidades do tema que aborda; e sem conseguir, ainda, uma narração, como já dita, ao menos convincente, para amenizar a dor que sentimos. Dor, que digo, não emotiva, devido ao grande caso de drama forçado que temos aqui - mas sim a dor de decepção, nos vendo, mais uma vez, em um fundo poço, banhado em lugar-comum.
Em que se desenvolve a narrativa? Um pobre jovenzinho com deficiência física, fora excluído do meio - não só da sociedade externa, mas até mesmo de sua própria família -, sendo apenas amparado por sua tia, a santa que o dá forças; e, por algum motivo, leva-o até uma luxuosa mansão ao litoral, que chega a ser irritante de tantas belezas descritas. Vocês podem descobrir o que vem depois - chororôs, aventuras mágicas e imaginativas do protagonista, "reviravoltas" extremamente previsíveis, personagens jogadas ao vento - espalhadas num plano de fundo, com aparições confusas e rápidas, em um desenvolvimento ridículo - e, claro, o desfecho típico de dramalhões como este; não contarei o final - seria, além de Spoiler, um comportamento típico de estraga prazeres, mas vocês podem adivinhar, e mantenho a certeza de que acertarão em cheio.
Sei que a intenção é das melhores; incentivar as pessoas a serem altruístas e garantir a felicidade das demais pessoas. Mas os tempos são outros; se nem quando o livro fora escrito as pessoas se importavam de verdade, agora, então, elas não conseguem nem disfarçar tão bem. Porque, veja bem; boa parte das pessoas que se propõem a ajudar, não o fazem pensando no bem que, por ventura, estariam ocasionando para os auxiliados. Mas sim, ah sim, no que o resto da sociedade comentará sobre esse "nobre gesto de compaixão". Além de que, agora, temos mais pessoas que já compreendem esse pseudo-humanitarismo, e obras que abrangem tal, sem nenhuma pitada de inovação ou criatividade, acabando caindo em desgosto e, posteriormente, em esquecimento.
O drama seco e largado, por si só, não ganha méritos.