Ruan.Campello 21/09/2021
Adotando a miséria
É muito comum lermos clássicos e querermos visitar ou Paris, com seus cheiros e pães formidáveis; ou Londres, com seu povo educado e inegavelmente intelectual. Nunca pensamos como é ou foi a classe baixa nesses capitais cosmopolitas, principalmente na mais baixa de todas: os mendigos.
?? Ousadia orwelliana ??
Antes de aderir a seu pseudônimo que o fez conhecido por "A fazenda dos animais" ou "1984", Goerge Orwell ainda era Eric Arthur Blair, e, com uma ousadia jornalista mais tarde imitada por uma americana, decidiu embarcar por livre vontade na miséria parisiense.
Sua experiência com a malandragem e podridão francesa, certamente rendeu bons trechos sobre as ruas extremamente pobres na Londres de "1984".
?Os bairros pobres de Paris são ponto de encontro de pessoas excêntricas ? gente que caiu em trilhas solitárias e meio malucas da vida e desistiu de tentar ser normal ou decente.? (Capítulo 1).
?Diante de tanta comida, uma lamurienta autocomiseração o invade. Você planeja pegar um pão, sair correndo e engoli-lo antes que o alcancem; e só não o faz por pura covardia.? (Capítulo 3).
Ou então, fica completamente desalojado e sem chão ? quase literalmente ? para deitar na Inglaterra por conta de suas leis contra mendicância. Não se podia, por exemplo, ser pego pedindo dinheiro ou deitado no chão, bancos de praça e et cetera. Ou ia-se para algum alojamento barato ? que eram sujos e as camas tão coladas que não se tinha mais de algumas poucas horas de sono ? ou para algum "hotel para mendigos", onde se deitava no chão, pois não haviam camas nas celas, e só se podia visitar cada uma por mês, sendo obrigado a percorrer todo o condado em busca de onde dormir.
?O dinheiro se transformou na grande prova de virtude. Nessa prova, os mendigos são reprovados e, por isso, são desprezados.? (Capítulo 31).
? Conclusão ?
Temos aqui, uma peça de como fazer jornalismo, que até um completo ignorante do assunto (eu), consegue ver o mérito. A narrativa de Orwell é crua ? até um pouco demais pro meu gosto ? e pura; é fluída e sem perdão a fazer críticas ácidas; sinta-se bem vindo ao inferno.
?Pelo menos posso dizer: eis o mundo que o espera, se alguma vez você ficar sem dinheiro.? (Capítulo 38).