Kaddish

Kaddish Ana Castro




Resenhas - Kaddish


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Toni 03/11/2020

Kaddish: prece por uma desaparecida [2018]
Ana Castro
Letramento, 2018, 200p.

A lei nº 9.140, de 4 de dezembro de 1995, reconheceu como mortas “pessoas desaparecidas em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades políticas”, entre 1961 e 1988, “e que, por esse motivo, tenham sido detidas por agentes públicos, achando-se, desde então, desaparecidas, sem que delas haja notícias”. Ana Rosa Kucinski, irmã do jornalista e escritor Bernardo Kucinski (K. Relato de uma busca), foi uma dessas vítimas, sequestrada pelas forças da ditadura em São Paulo, junto com o marido Wilson Silva, em abril de 1974.

Como nos lembra a historiadora Janaína Teles, “o silêncio e o esquecimento introduzidos pelo terror do desaparecido criam uma situação sem fim, perpetuando a tortura que é vivenciar a ausência dos corpos e de informações a respeito de parentes queridos". O desaparecimento impossibilita o trabalho de luto e impede familiares de exercer aquele mesmo direito pelo qual morreu Antígona, o enterro dos corpos. Quarenta anos depois, mesmo após uma Comissão Nacional da Verdade (2012-2014) e outra Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (1995-2004), além das comissões estaduais, não sabemos com exatidão o que aconteceu com a professora de Química da USP e militante da ALN (Ação Libertadora Nacional), nem para onde foi levada, nem como morreu.

Tampouco a biografia escrita pela jornalista Ana Castro é capaz de dar conta das circunstâncias de desaparecimento, tortura e assassinato praticados pelo Estado. O esforço, aqui, se volta à contar e celebrar a vida de Ana Rosa, construída a partir de cartas e depoimentos de amigos e familiares. Um percurso narrativo que relata os momentos mais cruciais do estado de exceção brasileiro iniciado em 1964 e, ao mesmo tempo, cumpre também a função de Kaddish, uma prece-ritual judaica em memória dos falecidos. Muito bom material para quem quiser pesquisar sobre atuação de mulheres na luta armada, memória da ditadura e/ou, claro, a produção ficcional Bernardo Kucinski.
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