Rebeca.lousz 11/02/2022
Ás vezes menos é mais
Eduardo Reina tem, com cativeiro sem fim, um mérito gigantesco por trazer a tona a questão até então mantida sob panos quentes a respeito do sequestro de crianças filhas de militantes políticos durante o regime ditatorial no Brasil. Admiro muito esse trabalho investigativo exaustivo. A atitude de Reina de realizar essa pesquisa e ir atrás de todas as provas o atribui um patriotismo admirável. Um patriotismo genuíno que o golpe de 64, por vias tortuosas, foi incapaz de alcançar.
E apesar de grande a minha admiração, acho que o resultado final do livro não é muito bacana.
A questão dos sequestros que nos é apresentada é uma parte da história cheia de lacunas. São documentos forjados. São relatórios queimados e sigilosos. São ex-militares com o seu silêncio ensurdecedor. E acho que o maior erro de Eduardo Reina foi de tentar preencher essas lacunas. Um livro de 300 páginas que daria facilmente pra ter 100. Acho que existe um medo em entregar história cruas e incompletas, então temos contextos que vão muito além do necessário. Por vezes até esquecemos a temática do livro.
Existe uma necessidade muito grande em delatar. Em dar nome e sobrenome. Em datar acontecimentos. Em numerar processos. Acho muito válida essa necessidade, ainda mais sob uma temática cercada de omissões. Porém, uma delação em excesso deixa de ser o que é e passa a ser uma série de nomes, números e datas sem razão de ser. E acho que Reina poderia ter se prendido mais às histórias exclusivas que ele tinha em mãos e menos nos movimentos que aconteciam ao redor.
Eu compreendo essa vontade de expor todos os absurdos da época. Mas acho que o impacto do livro teria sido muito mais elegante e certeiro com as lacunas das histórias tendo o seu espaço. Uma lacuna vergonhosa, porque a existência de uma lacuna nessa linha do tempo é gritante por si só.