Rodrigo | @muitacoisaescrita 02/03/2020
Essencial para se pensar a sociedade brasileira
Quando estudamos o movimento feminista e sua história (seja na escola, faculdade e/ou de forma autônoma), os materiais disponíveis, em sua maioria, são sobre os movimentos na Europa e nos EUA – isso Heloisa chama de colonização teórica –, como se não existisse um movimento feminista consolidado no Brasil e em outras partes do mundo. Aceitamos passivamente as elaborações vindas do Norte global, como se fossem verdades universais, e não refletimos criticamente sobre nossa realidade, ao menos não da forma como deveríamos. Além disso, grande parte dos materiais tratam unicamente dos debates sobre reivindicações políticas – o que entende-se por feminismo liberal –, ignorando feministas que discutem gênero considerando a classe e/ou raça, principalmente as que tecem críticas ao capitalismo a partir do marxismo.
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👉🏾 “Quais as especificidades do movimento feminista brasileiro?”, “Em qual contexto ele surgiu?”, “Foi fácil dialogar com os diversos setores da sociedade brasileira?”, “Quais são as diferenças e similaridades entre o movimento feminista brasileiro, estadunidense e europeu?” são algumas perguntas que devemos fazer, e que são respondidas nesse livro. Dividido em 4 partes, ele oferece um panorâma geral sobre o movimento. A primeira, “Algumas histórias sobre o movimento no Brasil”, possui 6 artigos que pretendem organizar a história do feminismo brasileiro ou destacar momentos importantes dele. Nessa primeira parte da resenha, falarei rapidamente sobre 3 deles.
Constância Lima Duarte, em seu artigo, propõe uma divisão do movimento feminista brasileiro em 4 momentos, com uma diferença de 50 anos mais ou menos entre cada um (em torno de 1830, 1870, 1920 e 1970). Isso porque, para ela, “o feminismo [...] deveria ser compreendido em um sentido mais amplo, como todo gesto ou ação que resulte em protesto contra a opressão e a discriminação da mulher, ou que exija a ampliação de seus direitos civis e políticos, por iniciativa individual ou de grupo”. Em sua divisão, Constância destaca em cada momento algumas escritoras feministas e as pautas principais. Ficaria da seguinte maneira: o primeiro, no início do século XIX, com mulheres querendo aprender a ler e escrever; o segundo, com a ampliação do direito à educação e as primeiras reivindicações pelo voto, com várias revistas divulgando ideias; o terceiro, no início do século XX, mais focado e organizado no direito ao voto, acesso ao curso superior e na ampliação do campo de trabalho – Constância caracteriza esse momento como o de “um feminismo burguês e bem comportado”, no entanto, ela nos conta, também havia um movimento anarcofeminista com reivindicações mais radicais –; e o quarto momento, nos anos 70, marcado principalmente pelo enfrentamento à ditadura.
[resenha publicada no meu Instagram Literário @muitacoisaescrita; confere lá a resenha completa e alguns trechos do livro: https://www.instagram.com/p/CHoa_P2j970/]
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