Maria - Blog Pétalas de Liberdade 13/03/2019Resenha para o blog Pétalas de Liberdade A história é narrada por Red, um presidiário da Penitenciária Estadual de Shawshank que tem contatos e consegue praticamente tudo o que os outros detentos possam desejar: comidas, bebidas, livros... Ele só se recusa a fornecer armas ou drogas. Red vai nos contar sobre um novo prisioneiro: Andy Dufresne, um banqueiro acusado de matar a esposa e o amante, que foi preso mas se dizia inocente.
"Se vocês estiverem pensando sobre o assunto, deixe-me dizer que a administração sabe sobre o mercado negro. E claro que eles sabem. Provavelmente sabem quase tanto sobre meu negócio quanto eu. Eles aceitam porque sabem que uma prisão é como uma grande panela de pressão, e tem que haver válvulas de escape para deixar sair algum vapor. Eles dão batidas ocasionais, e já fui para a solitária umas três vezes nesses anos, mas quando se trata de posters eles fazem vista grossa. Viva e deixe viver. E quando uma grande Rita Hayworth aparecia na parede de alguma cela, presumia-se que tivesse vindo pelo correio, mandada por algum amigo ou parente. E claro que todos os pacotes de amigos e parentes são abertos e o conteúdo é relacionado, mas quem vai examinar e verificar a relação de conteúdo para uma coisa tão insignificante quanto um poster de Rita Hayworth ou de Ava Gardner? Quando você está numa panela de pressão, aprende a viver e deixar viver, ou alguém te abre uma nova boca bem acima do pomo-de-adão. Você aprende a ser tolerante." (páginas 25 e 26)
Andy e Red ficariam no mesmo presídio por mais de 20 anos e desenvolveriam uma amizade. Durante toda a leitura, o narrador nos mantém curiosos para descobrir onde essa história vai dar, se Andy é mesmo inocente e vai conseguir provar isso, ou se vai sucumbir aos conflitos com guardas e outros prisioneiros e perder seu jeito sereno e persistente, ou ainda se Red se enganou em seu julgamento e Andy vai causar problemas com seus excêntricos pedidos. Como a história de Andy e Red vai acabar? Em liberdade ou em morte?
"Tudo o que sei, com certeza, é que Andy Dufresne não era como eu ou como qualquer outra pessoa que já conheci desde que vim para cá. Ele trouxe 500 dólares enfiados nos traseiro, mas de alguma forma aquele filho da mãe conseguiu trazer uma outra coisa. Um senso de seu próprio valor, talvez, ou um sentimento de que, no fim, seria o vencedor... ou talvez até fosse um senso de liberdade, mesmo no interior desses malditos muros cinzentos. Era uma espécie de luz interior que carregava consigo. Eu só o vi perder essa luz uma única vez, e isso também é parte da minha história" (página 37)
Do Stephen King eu já havia lido o conto "O dedo semovente" e o livro "A Incendiária". "Primavera Eterna" é diferente das outras duas histórias que li, pois não traz nada de sobrenatural. O livro mostra o talento do autor também para escrever histórias que envolvam apenas pessoas comuns, sem nenhum poder especial. A trama tem sim muita tensão e suspense, além de algumas cenas pesadas que retratam a violência física e sexual que pode ser vivida dentro de uma prisão.
"Quando se tira a liberdade de um homem e se ensina a viver dentro de uma cela, ele parece perder a capacidade de pensar em dimensões. É como aquele coelho que falei, apavorado com os faróis do caminhão prestes a matá-lo. Freqüentemente o prisioneiro que acaba de fugir vai fazer alguma coisa idiota que não tem a menor chance de dar certo... e por quê? Porque isso vai trazê-lo de volta. De volta para onde compreende como as coisas funcionam.
Andy não era assim, mas eu era." (página 74)
Foi interessante poder observar alguns aspectos da escrita do King, como sua forma de apresentar detalhes sobre os personagens secundários que serão importantes para determinar o comportamento desses personagens em cenas futuras, algo que já havia chamado minha atenção em "A Incendiária".
"Acho que as coisas acontecem em três níveis principais na experiência humana: bom, ruim e terrível. E à medida que se desce na crescente escuridão em direção ao terrível, fica cada vez mais difícil fazer subdivisões." (página 58)
"Primavera Eterna" foi uma leitura da qual eu gostei muito, fui envolvida pela história logo de cara, torci pelos personagens e fiquei curiosa com o que aconteceria até o final que, por sinal, me deixou bem contente. É uma leitura que recomendo para quem quer conhecer a ótima escrita do King num livro mais curto e que pode ser lido rapidamente, sem risco de apavorar ninguém com acontecimentos sobrenaturais, mas reforço o aviso de que há alguns fatos violentos.
Pode ser difícil encontrar exemplares da mesma edição que tenho (que conta com páginas amareladas, boa revisão e diagramação), mas "Primavera Eterna" também pode ser lido no livro "As quatro estações", publicado mais recentemente pela Editora Suma, que reúne 4 histórias do King, cada uma relacionada à uma estação do ano. Também chamado de "Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank", "Primavera Eterna" é classificado como um conto na ficha catalográfica, mas como uma novela nas pesquisas do Google. Em 1994 foi lançada uma adaptação cinematográfica da história, o filme foi intitulado "Um Sonho de Liberdade" e traz Morgan Freeman e Tim Robbins nos papéis principais.
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