Milena 14/09/2020
O programa de televisão Sítio do Pica-Pau Amarelo fez parte da minha infância inteira. Era inexplicável a sensação de viajar para o Sítio e viver tantas aventuras junto dos personagens que tanto amo. Mas ainda não havia lido, então resolvi conhecer o sítio real, criação de Monteiro Lobato.
Primeiramente, gostaria de falar sobre o racismo escancarado que há nessas histórias. Cada vez que eu lia uma expressão racista, eu precisava parar, respirar pra ter forças e concluir o livro. Me dói muito ler qualquer coisa do tipo. Mas mantive a paciência, afinal, precisamos levar em conta também a época em que foi escrito, a época de um Brasil que ainda saía da escravidão. É doloroso pensar que para a maioria das pessoas aquele racismo tão absurdo era normal. Mas não posso mentir: meu estômago embrulhou várias vezes durante a leitura.
Se um dia eu tiver filhos, não permitirei que eles leiam a obra de Monteiro Lobato. O motivo? Jamais permitirei racismo, e sendo uma mulher branca, meu papel nesse movimento é ouvir, respeitar e principalmente jamais permitir qualquer forma de preconceito. Além disso, temos uma Emília, uma Narizinho e um Pedrinho bem irritantes, que aprontam e são desrespeitosos, sem contar a violência aos animais.
Vale lembrar que essa edição da Nova Fronteira não traz a obra completa - algumas histórias estão pela metade. Indico para pessoas que como eu, queiram apenas relembrar um pouquinho a infância.
Esquecendo todos esses pontos citados, foi muito bom voltar ao Sítio, me senti em casa, pude reviver momentos únicos do meu tempo de criança e acredito que valeu a pena por esse motivo. Pude até sentir o cheiro do bolinho de chuva, da terra, do cafezinho novo na casa de vó. Apesar de tudo, foi sim, uma boa leitura!