Fabio Martins 30/07/2015
Murilo Rubião - Obra completa
Desde que fui apresentado ao realismo mágico de Gabriel García Márquez, autor de Cem anos de solidão e O amor nos tempos do cólera, me encantei pelo gênero. A habilidade de narrativa e o tato em misturar as histórias verossímeis aos acontecimentos fantásticos capturam o leitor desde o início da trama. Decidi procurar mais escritores com a mesma proposta e, por surpresa, descobri que um brasileiro está entre os pioneiros deste estilo.
O mineiro Murilo Rubião, além de escritor de exímia qualidade e trato no texto, foi também jornalista e chefe de gabinete do então presidente Juscelino Kubitscheck, em 1951. Sua obra é pouco extensa – cerca de 50 contos. A semelhança com os livros de Franz Kafka (autor de A Metamorfose) chamava a atenção na época, mas ele garantia que não havia lido nada do escritor tcheco antes de publicar seus textos.
O escritor primava pela palavra perfeita, a língua em sua forma mais nobre e limpa. Por isso, ao invés de escrever mais, reescrevia incessantemente os que já estavam publicados, tentando melhorá-los sempre.
O resultado é uma coleção curta, mas de alto valor literário, daquele que foi o pioneiro brasileiro no gênero de realismo fantástico. Alguns contos, entretanto, por possuírem linguagem tão elaborada, confundem o leitor – neste caso, as histórias fantásticas não ajudam – e são de difícil compreensão. Mas a maioria contém narrativas deliciosas de ler, que retratam tão bem o cotidiano brasileiro dos anos 1950 e 1960 aliados a acontecimentos estranhos.
É o exemplo do conto O Ex-Mágico da Taberna Minhota, que conta a história de um mágico já cansado de seus poderes, pois o atrapalham no dia a dia. Após uma tentativa fracassada de suicídio, vai trabalhar como funcionário público, que para ele representa uma espécie de morte lenta. O tédio é tamanho que ele perde sua magia.
Tem também o meu texto preferido, Os Dragões, que narra a história de uma cidade que recebeu diversos exemplares desta espécie tão incomum. De início, o medo e a falta de informações de como lidar com eles, atrapalhou o convívio. Depois, contudo, os dragões se adaptaram aos humanos e aderiram aos costumes.
Murilo Rubião poderia ter sido mais conhecido por sua obra se ela fosse maior, porém não deixa de ser o pioneiro – e um dos únicos nomes – no Brasil de um estilo literário que dominou a América do Sul em décadas recentes. A leitura é aprazível e rápida e vale a pena conhecer.
site: lisobreisso.wordpress.com