Raissa 26/12/2021
Embora tenha pouquíssimas páginas, o livro de Paulo Freire é de uma densidade absurda. O autor aborda alguns conceitos e ideias acerca do papel do educador e do educando na construção e transformação do saber e da prática educativa. Com uma posição política muito forte (o que incomoda a muitos que acreditam que a educação deve ser neutra), o autor nos mostra a importância de se posicionar no mundo, nos mostra que ensinar vai muito além de apreender o conteúdo ou transferir conhecimento. Ensinar exige rigor metódico, pesquisa, respeito, crítica, curiosidade, comprometimento, liberdade e risco. E é a respeito dessas qualidades que o autor se aprofunda em cada capítulo. Um livro excelente, que nos mostra uma prática tão possível e mais humana para lidarmos com as questões tão urgentes sobre a educação no nosso país.
“ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção.”
“quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. (...) Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa.”
“nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo.”
“E uma das condições necessárias a pensar certo é não estarmos demasiado certos de nossas certezas.”
“uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto.”
“Afinal, minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da história.”
“É precisamente por causa desta habilidade de apreender a substantividade do objeto que nos é possível reconstruir um mal aprendizado, o em que o aprendiz foi puro paciente da transferência do conhecimento feita pelo educador.”
“Constatando, nos tornamos capazes de intervir na realidade, tarefa incomparavelmente mais complexa e geradora de novos saberes do que simplesmente a de nos adaptar a ela. (...) Ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os outros de forma neutra.”
“Não é na resignação mas na rebeldia em face das injustiças que nos afirmamos.”
“A construção ou a produção do conhecimento do objeto implica o exercício da curiosidade, sua capacidade crítica de “tomar distância” do objeto, de observá-lo, de delimitá-lo, de cindi-lo, de “cercar” o objeto ou fazer sua aproximação metódica, sua capacidade de comparar, de perguntar.”
“Creio que nunca precisou o professor progressista estar tão advertido quanto hoje em face da esperteza com que a ideologia dominante insinua a neutralidade da educação. Desse ponto de vista, que é reacionário, o espaço pedagógico, neutro por excelência, é aquele em que se treinam os alunos para práticas apolíticas, como se a maneira humana de estar no mundo fosse ou pudesse ser uma maneira neutra.”
“Como experiência especificamente humana, a educação é uma forma de intervenção no mundo.”
“Ninguém é autônomo primeiro para depois decidir. A autonomia vai se constituindo na experiência de várias, inúmeras decisões que vão sendo tomadas.”
“Minha segurança se alicerça no saber confirmado pela própria experiência de que, se minha inconclusão, de que sou consciente, atesta, de um lado, minha ignorância, me abre, de outro, o caminho para conhecer.”