@tayrequiao 04/03/2024Saramago atualizando Tolstói.Foi quase impossível não pensar em "A morte de
Ivan Ilitch" do Tolstói ao terminar a leitura de "As intermitências da morte", do Saramago.
Claro, em ambos os casos, estamos diante do evento-morte como propulsor de uma necessária reflexão sobre a nossa própria existência.
De que forma temos vívido? Com o que preenchemos nossos dias? Somos felizes com as nossas escolhas? Valorizamos aquilo que deveríamos? São várias as perguntas propostas pela morte, assim como são inúmeras as desculpas que encontramos para não respondê-las.
Mas, enquanto Tolstói explora as convenções sociais em torno da morte e como a sociedade muitas vezes evita enfrentar a realidade da finitude, Saramago aborda a morte como uma entidade consciente e foca a sua narrativa no impacto social, econômico e ético da total ausência do fim da vida.
Percebe?
É como se Saramago atualizasse, em 2005, o que Tolstói nos apresentava em 1886, nos dizendo:
"Você, que tanto evita pensar na própria finitude, que encara a morte como castigo divino ou algo a ser evitado a qualquer custo, veja então como será a sua realidade se a morte não lhe for mais uma possibilidade!"
Recomendo demais a leitura combinada dessas duas obras! Duvido que a sua visão sobre o fim da vida não seja transformada!