sabrina sexton 24/05/2010
Constance Goodwin acaba de passar com louvor em um exame de admissão, e precisa encontrar alguma fonte primária e surpreendente para ser tema de sua dissertação no mestrado em Harvard, para com isso obter prestígio e reconhecimento na área de pesquisa acadêmica.
Essa busca se inicia de uma forma um tanto peculiar: órfã de pai, Connie não tem um relacionamento exatamente afetuoso com a mãe, Grace, que mora no Novo México.
Um tanto "hippie" em suas concepções, Grace falava de auras e energia vital... enquanto Connie é bem mais conservadora, mas o laço que as une é indiscutível. Incapaz de negar algo à sua mãe, Connie se incumbe de colocar a antiga e abandonada casa da avó Sophie em ordem, para que pudessem vendê-la.
A aparência sinistra da casa já é por si só muito reveladora. Connie se vê perguntando quais segredos aquelas paredes centenárias podem esconder, quem poderia ter vivido dentro daquelas paredes; e nesse exato momento de divagação ela segura uma bíblia da qual cai uma chave e uma tira de papel com um nome: Deliverance Dane. Pesquisadora por natureza, Connie passa a se interessar por essa pessoa sem rosto, sem vestígios, sem passado... Aos poucos, e sem volta, vai caindo numa história fantástica que remonta a um período crítico da história colonial, em qual muitos inocentes foram executados sob acusação de bruxaria.
Em meio às suas pesquisas Connie se encontra com Sam, restaurador de igrejas antigas. A empatia imediata eleva Sam ao patamar de amigo e confidente em suas descobertas, e logo essa relação evolui romanticamente. As pesquisas não páram, e junto com Connie descobrimos que Deliverance Dane pode ter sido de fato uma bruxa, e que possuiu um livro sombrio no qual estavam compilados segredos de cura milenares.
Então, eis aqui: a fonte primária que Connie tanto desejava.
Resolvida fazer do livro seu tema de dissertação, ela se propõe a encontrá-lo e conta com o apoio de Chilton, seu orientador e consagrado pesquisador, que passa a demonstrar interesse excessivo no livro...
A busca por essa raridade atravessa gerações, e dessa forma Connie descobre as mulheres descendentes de Deliverance, todas versadas na arte da cura, e com nomes de virtudes: Deliverance (Libertação), Mercy (Piedade), Prudence (Prudência), Pattiente (Paciência), etc... As histórias de vida dessas mulheres são contadas no decorrer do livro, paralelamente à busca desenfreada de Connie pelo livro, que se torna muito mais que uma pesquisa: se torna o único meio de salvar a vida da pessoa a quem ela ama.
"O livro Perdido das Bruxas de Salem" de Katherine Howe é uma ótima e instigante leitura, que eu gostei muito, especialmente dos trechos em que Connie começa a descobrir os rastros de Deliverance e nem percebe que esses rastros levam a um lugar comum...
Alma romântica, sou da firme opinião que o romance entre Connie e Sam deveria ser mais abordado, uma vez que é maior impulso na procura desesperada de Connie pelo livro: algo de grande importância tanto para sua vida pessoal, quanto em seu trabalho, e também para a humanidade.
Devo ressaltar excelente pesquisa, pois houve momentos em que eu, leiga, não consegui separar a criação da autora dos fatos reais,a correlação ficção-realidade caminhavam numa mesma e tênue linha.
O livro é extremamente detalhista e até mesmo didático, uma vez que a personagem principal é uma pesquisadora. Ele elucida vários pensamentos e concepções sobre bruxas, e a vida cotidiana dos colonos, além de nos contar como se deu o “Caso Salem”. Ao mesmo tempo nos faz refletir sobre a arte da cura, na condenação injusta de uma "bruxa boa", que sempre usou de seus dons para ajudar ao próximo. Inúmeras atrocidades foram cometidas "em nome de Deus" no decorrer da história mundial, mas a intolerância e o pensamento arcaico dos detentores do poder cristão, os "exterminando o mal" iludiram toda uma comunidade, no caso específico de Salem.
Quem de nós não tem um pouco de bruxa dentro de si? Quem nunca teve um pressentimento de algo que realmente se concretizou? Quem não tem uma receita de família, um chá infalível?
A grande verdade é que, num tempo onde a medicina não era evoluída, via-se no demônio a causa de todos os males e as pessoas tinham a firme crença de que suas doenças eram causadas por seus pecados. E o fato que simples e humildes mulheres podiam curar de forma eficaz os malefícios assustava à mentalidade tacanha daquela época sombria...
O Livro Perdido das Bruxas de Salem, com todo bom livro, de final surpreendente, merece virar um filme! Eu já me peguei imaginando qual ator lindão de olhos verdes e cabelos cumpridos faria o eclético Sam, e qual atriz daria vida à certinha Constance... ( risos)
Recomendo
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