Lidi 29/08/2014
O longo adeus de Raymond Chandler
Existe – sempre existiu – um grande preconceito em relação à literatura policial, considerada por alguns críticos como menor, servindo apenas para entretenimento. No entanto, um bom leitor sabe que livros de escritores como Raymond Chandler não podem ser vistos como baixa literatura. Obras boas e ruins são escritas em qualquer modalidade. E o policial tem os seus grandes mestres e as suas grandes histórias. O longo adeus, romance de Raymond Chandler, é um dos melhores do policial noir e da literatura americana. Philip Marlowe, um “detetive barato” - que cobra 25 dólares por dia mais despesas – é um romântico, embora carregue a casca de durão. E, acima de tudo, é um homem “dolorosamente íntegro”, um solitário, que embora não acredite totalmente no ser humano, quase sempre se deixa guiar pelos sentimentos e se decepciona. Em O longo adeus – como em tantos outros livros policiais – o crime é apenas um pretexto, um pano de fundo para reflexões maiores. Assassinatos e suicídios, por exemplo, fazem parte do cotidiano de uma cidade como Los Angeles, no período pós-guerra: suja, corrupta, regada a álcool, cigarro, suor, mulheres fatais e dinheiro. Talvez, apenas Marlowe não se venda por uma nota de cinco mil dólares. Mas as mortes nessa história não são apenas as banhadas pelo sangue, afinal “dizer adeus é morrer um pouco”. E além de nos apresentar um instigante quebra-cabeça, O longo adeus nos presenteia com uma belíssima história sobre solidão e amizade, sobre pessoas feridas e vazias, sobre lealdade e despedida. Não se limitando ao enredo policial, Chandler consegue, com sua linguagem precisa e sugestiva, com humor e ironia, mergulhar no psicológico dos personagens e adentrar o cerne da condição humana, criando mais do que uma memorável narrativa noir, uma genuína obra de arte.