Resenhas - Homens invisíveis

Marcelo Marques 07/08/2020

Quando os humilhados serão exaltados?
Começando a leitura, tive a presunção de pensar que a tese trataria da visão de um playboy sobre os trabalhadores, coisa que estamos mais do que acostumados em ver. Ledo engano! Fernando foi capaz de ultrapassar a barreira de sua classe, sem nunca negar que ela de fato exista, para enxergar com profunda empatia e humanismo o "objeto" de sua pesquisa: os homens por baixo do trabalho subalterno.

Focando em cada aspecto que rodeia os garis, aprofunda-se em diversos questionamentos, nos levando também para uma reflexão sobre nossos papéis como agentes colaboradores para a humilhação e invisibilidade social dessa e outras classes de proletariados. No entanto, não aponta o dedo em nossa cara e nos chama de vilões, mas sim faz com que enxerguemos nossa contribuição, muitas vezes inconsciente, para esse ciclo vicioso. O contato prolongado dos trabalhadores com o mal da invisibilidade cria efeitos terríveis, quase como a radiação afeta o corpo, a invisibilidade pública corrói a alma.

" Aos poucos, o humilhado conforma-se; se é tratado com quem ninguém vê, aos poucos comporta-se como quem ninguém vê"

Um livro que não deve ser lido apenas por acadêmicos, já que trata sobre todos nós. Compartilhando relatos sensíveis e histórias emocionantes que vão se intercalando com o olhar aguçado de um estudante de psicologia, revelando complicadas camadas e problemas sociais, mas também beleza e humanidade vinda dos vulgarmente chamados de "gente pobre" que, paradoxalmente, são diversas vezes os mais ricos.

knaak 31/05/2011

Pobre animal é o homem
[...] eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu.

Você já se sentiu invisível? Numa festa, na escola, na universidade, na igreja no meio da rua ou no trabalho? Como se você fosse um poste, um obstáculo que as pessoas simplesmente desviam?

O tema do livro nasceu em 1994 quando o autor cursava Psicologia na USP. Como tarefa, ele precisou acompanhar durante uma semana o trabalho dos garis da Cidade Universitária como forma de investigar a humilhação social. A experiência se estendeu por mais dez anos e acabou virando tema da dissertação de mestrado do autor, agora publicada em livro. Fernando Braga varreu calçadas e ruas, limpou lixeiras, conversou com os verdadeiros garis e sofreu na pele a humilhação social a que estão expostos diariamente, relegados à condição de 'invisíveis' perante seus 'superiores'.

Vale a pena conferir, pois você terá uma visão diferente de ser humano e das pessoas.

knaak
http://umtiquin.blogspot.com

Locimar 26/08/2020

Li com um grupo de alunas do curso de Pedagogia do então Ceulji/Ulbra. Eu já olhava considerava os "invisíveis" na instituição onde trabalhava. Outros passaram a vê-los também depois da leitura e discussão do e sobre o livro.

Nayara 03/05/2011

Em agosto de 2009, vi uma palestra com Fernando Braga da Costa, autor do livro Homens Invisíveis: relatos de uma humilhação social. Como achei a palestra bem interessante, acabei comprando o livro. Pra ser sincera, não gostei tanto como pensei que ia gostar, mas a história merece ser lida e contada.


Fernando fez graduação em psicologia na USP. Uma das disciplinas cursadas propunha um trabalho de campo em que os estudantes deveriam assumir, por um dia, algum ofício que não exigisse qualificação escolar ou técnica. Ele escolheu ser gari (varredor de rua). A experiência despertou interesses de pesquisa e ele foi gari por 10 anos. E hoje ele é mestre e doutorando em psicologia social pela USP. Bom, o livro foi resultado dessa experiência. E ele conta vários casos da experiência dele, sempre colocando alguma análise de psicologia social.

Uma das histórias contadas e que marcou muito foi o episódio do café. Fernando contou que, para beber o café, os garis pegavam latinhas de refrigerante das lixeiras. Então, cortavam as latinhas ao meio e usavam-nas como copos. E ele contou como elas estavam grudentas e sujas. Não havia higiene. Não havia boas condições. Hoje, eu vejo garis carregando algumas canecas por aí, mas não duvido que ainda existam aqueles que bebem café nas latinhas achadas no lixo.

Eliane406 23/01/2024

A cegueira social
''Alguma consciência emergiu. Passei a ver coisas que não via. Passei a ouvir coisas que não ouvia. Passei a sofrer por coisas pelas quais não sofria. Pano de fundo tornou-se figura. O drama da luta de classes, já tão enraizado socialmente, contaminando a seiva que vitaliza nossas relações com o outro, transformando nossa visão em cegueira, escancarou-se"