Os Cus de Judas

Os Cus de Judas António Lobo Antunes




Resenhas - Os Cus de Judas


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*Carina* 11/10/2010

“O que seria de nós, não é, se fôssemos de facto felizes?”
Vou começar dizendo, antes de qualquer coisa, que acho que "Os Cus de Judas" é uma obra-prima.

A escrita de Lobo Antunes realmente não é fácil, não é algo que seja possível ler em qualquer lugar, de qualquer jeito. É preciso degustar o que ele escreve. E ainda assim, o gosto que fica é amargo. Em vários momentos durante a leitura a palavra "cru" era a que me vinha para definir o que estava lendo.

É um livro que fala de guerra, morte, amor, tudo com a mesma dureza. É impressionante como Lobo Antunes escreve de modo tão poético e ao mesmo tempo tão seco. As palavras não acolchoam a dureza dos sentimentos do protagonista. A sensação que tive o livro todo foi da busca por um conforto que não chegava nunca. E não é isso a vida? Não é o que a maioria de nós faz, diariamente? Nesse ponto fiz um paralelo com “Jerusalém”, do Gonçalo M. Tavares. O protagonista de “Os Cus de Judas” me parece igualmente encalacrado em seu desespero, ao mesmo tempo achando que o problema é que lhe faltam certas coisas, que algum dia as possuirá, seja um amor, o fim da guerra, outra personalidade, e enquanto isso a vida lhe passa e tudo que acontece de possivelmente bom é negligenciado. Como diz genialmente Lobo Antunes:

“Não é em si que não acredito, é em mim, na minha repugnância em me dar, no meu pânico de que me queiram, na minha inexplicável necessidade de destruir os fugazes instantes agradáveis do quotidiano, triturando-os de acidez e ironia até os transformar no Cerelac da chata amargura habitual.”

Nesse momento, que já é depois da metade do livro, Lobo Antunes, através do protagonista pergunta:

“O que seria de nós, não é, se fôssemos de facto felizes?”

É uma pergunta que me tocou muito porque não sei respondê-la. A teoria dele é que não sabemos lidar com isso, com momentos felizes e fugazes, com um amor que nos é dado sem nada pedir em troca, que isso nos confunde. Minha tendência, por mais que eu não goste, é de concordar com ele. Termino aqui na esperança de que algum dia alguém me convença do contrário.
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Marcos Bassini 26/01/2009

Ao contrário do título, o estilo é lindo.
Se existe um exagero, no seu país natal, de se considerar Lobo Antunes como o melhor escritor em língua portuguesa depois do Eça, não é exagero nenhum dizer que ele é dono de uma obra ímpar em que o estilo é tão próximo à poesia que a história deixa de ser importante e o deleite passa a ser a forma.
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Felipe 18/08/2009

Linguagem e conteúdo
Confesso que a fama do autor que me levou a ler esta obra, pois Lobo Antunes é considerado por muitos o melhor autor vivo em nosso idioma, lembrando que ainda está vivo um escritor em português ganhador do Nobel, José Saramago. Optei por ler “Os cus de Judas” por muitos considerarem sua obra-prima, tinha enormes expectativas, todas positivas.
A obra trata da guerra de independência de Angola, mas para aqueles que querem ter um relato fiel da guerra, o livro decepciona. Ele é quase uma autobiografia ou talvez uma visão egocêntrica da guerra. Os relatos dizem respeito à angústia e experiência de uma pessoa no campo de batalha, em nenhum momento existe uma reflexão sobre o outro lado ou as causas colonialistas que levaram o exército português a Angola. É a visão do colonizador sobre a estranheza da colônia rebelde que não aceita a invasão de um povo estrangeiro. Com certeza o livro não atingiu sua fama pelo conteúdo que deixa um leitor crítico irritado com a falta de sensibilidade do autor-personagem.
O grande mérito de Lobo Antunes está na forma, para mim não existe ninguém que escreveu da mesma maneira antes dele. Ele é totalmente original, o que explica sua fama e a devoção que causa em seus leitores. Se existe algo entre prosa e poesia, ninguém fez melhor que o autor português. Seu texto é denso, extremamente denso, cada página é vencida a muito custo. Eu pensei em abandonar o livro por diversas vezes. Poderia considerar que o texto de Antunes intimida e desafia o leitor a continuar até o próximo capítulo. O ponto anedótico para o leitor brasileiro são alguns termos portugueses que só podemos especular sobre a que se referem, como gelado de pauzinho (picolé?) e agência de caixões (funerária?).
A linguagem de Lobo Antunes é ácida, não poupa ninguém, tampouco ele mesmo. É não linear, o leitor nunca sabe o que será narrado, quando ocorreu e principalmente onde. O tema da sexualidade permeia todo o livro, com descrições dignas de Jorge Amado. Não se pode considerar que o texto de Lobo Antunes seja uma leitura divertida, é um texto para se apreciar. Um trecho escolhido ao acaso que sintetiza a narrativa de Lobo Antunes com sua acidez e densidade “Compreenda-me: pertencemos a uma terra em que a vivacidade faz às vezes do talento e onde a destreza ocupa o lugar da capacidade criadora, e creio com frequência que não passamos de facto de débeis mentais habilidosos consertando os fusíveis da alma à custa de expedientes de arame”.
Quase não há falas e os diálogos inexistem. Poucos parágrafos, a narrativa é contínua e sem pausas, o que às vezes deixa o leitor tonto e confuso sobre o que está lendo. Cada frase é bem construída, e elas se sucedem sem refresco.
O que eu realmente não gostei, além do conteúdo, é o não respeito a várias regras gramaticais da língua portuguesa. Eu não acho que por mais famoso e importante que seja um escritor ele seja maior que nossa língua. Ao escrever sem respeitar as regras, o escritor dificulta a leitura e nos faz perguntar se as regras do português são feitas apenas para nós mortais, se grandes escritores não devam respeitá-las. Minha opinião é que certamente as regras gramáticas devem ser respeitadas por todos, inclusive para grandes escritores como António Lobo Antunes.
Roger 23/11/2009minha estante
Felipe, gostei de sua resenha. É preciso atentar, porém, que o grande "pulo do gato" de Lobo Antunes é justamente o "desrespeito" às regras gramaticais do português. Pelo que conheço de sua obra, o "desrespeito" é motivado: forma e conteúdo unem-se para inserir leitor no drama das paixões da narrativa. Lembro de "O esplendor de Portugal" quando, entre a descrição do narrador, havia cortes nessa narrativa que então entravam os pensamentos do narrador [fluxo de consciência], ao melhor estilo joyciano. O diálogo com a ruptura então torna-se evidente aqui.


Claire Scorzi 09/06/2010minha estante
Hum, acho que a dificuldade -o desejo que voce sentiu de abandonar a leitura - tem relação com a dificuldade em adentrar o universo construído por ele; também achei o início difícil; precisei 'entrar' na dele. Depois, o texto fluiu.


Simone 09/02/2016minha estante
Sinceramente, eu esperava mais, principalmente por se tratar de um livro ganhador de prêmios. De fato, a forma de escrever é linda. Ele brinca com o idioma, da mesma forma que o faz José Eduardo Agualusa e que o fazia Saramago, porém a leitura se torna monótona. Ele descreve sentimentos repetitivos e óbvios para quem vive a situação de uma guerra. Não gostei muito.




Claire Scorzi 08/06/2010

Intimismo inesperado
É um olhar intimista sobre a guerra de independência de Angola, o que eu não esperava; pensei que seria um desses romances-painel sobre um acontecimento grandioso.
Narrando a uma desconhecida encontrada num bar em Lisboa aquilo que vivenciou como médico em Angola - em espaços isolados, às vezes desérticos, com freqüência tensos - um homem vai desvelando não só sua esperiência, como também suas lembranças da infância, das mulheres - do que ele era 'antes', enfim. Ninguém sai de uma coisa como essa sendo a mesma pessoa, se sabe. Mas é talento do escritor explorar isso, e o modo como Lobo Antunes o faz fascina, choca, nos agarra à sua narrativa. Lido num jato só, "Os cus de Judas" consegue ser olhar atento na sua aparente espontaneidade/ ligeireza: as confissões do médico vão e vem, se expandindo e se recolhendo. Um retrato pequeno, talvez; porém forte.
Priscila856 05/05/2018minha estante
Claire, estou com alguns livros do Antunes aqui mas dizem que a escrita é difícil. O que vc achou?


Claire Scorzi 05/05/2018minha estante
Achei um pouco difícil - ele vai seguindo um raciocínio, um fluxo de palavras que é preciso prestar muita atenção. Mas acho que o Thomas Pynchon foi pior. rs


Priscila856 05/05/2018minha estante
Nossa....acabo de co orar O contra o dia do Pynchon e ja estou com medo. Rs.obrigada Claire. Bj


Claire Scorzi 05/05/2018minha estante
Kkkk Mas, veja, não achei o Pynchon ruim não. Difícil. Mas não me deu raiva, inclusive ainda pretendo ler mais coisas dele assim que tiver oportunidade. Se for comparar com a raiva que me deram Karl Ove, Afonso Cruz & cia... Esses, sim, me deixaram furiosa, com vontade de descer o barraco. rs Ah, de nada! rs :)




Leila 12/08/2023

Os Cus de Judas, do autor português António Lobo Antunes, é uma obra literária que mergulha os leitores em uma experiência única e intrigante. Publicado em 1979, o livro se destaca não apenas por sua prosa magistral, mas também por sua narrativa singular e cativante que desafia as convenções tradicionais da escrita.

A história é narrada pelo protagonista, um médico que se vê envolvido na Guerra Colonial Portuguesa, travada nas ex-colônias africanas. Através de uma narrativa não linear e fragmentada, o autor nos leva a uma jornada íntima e psicológica pela mente do personagem, explorando suas memórias, pensamentos e angústias. O título "Os Cus de Judas" é uma expressão coloquial portuguesa que significa um lugar distante e isolado, e essa metáfora é habilmente empregada pelo autor para evocar a sensação de isolamento e alienação que o protagonista experimenta em meio ao cenário de guerra.

O estilo de escrita de Lobo Antunes é desafiador, muitas vezes beirando o experimentalismo literário. Sua prosa é densa, repleta de monólogos interiores, pensamentos fragmentados e uma multiplicidade de vozes. O uso frequente de fluxo de consciência e a ausência de pontuação tradicional podem, inicialmente, desconcertar o leitor, mas também criam uma imersão profunda na mente do protagonista e na atmosfera opressiva da guerra.

O romance não busca entregar uma trama convencional, mas sim uma experiência sensorial e emocional que faz com que o leitor reflita sobre questões universais, como a identidade, a solidão, a brutalidade da guerra e a natureza efêmera da vida. A metáfora dos "cus de Judas" pode ser interpretada como uma jornada de autodescoberta e uma exploração dos limites da experiência humana.

Eu me surpreendi positivamente com a leitura, mesmo sem ter conhecido a sinopse com antecedência. Isso ilustra a capacidade do autor de prender a atenção do leitor e criar uma conexão emocional profunda por meio de sua narrativa arrojada. Ter explorado a obra sem preconceitos pode ter contribuído para essa experiência enriquecedora. Enfim, gostei muito e já quero ler outros títulos do autor.
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Luiz Ribeiro 09/07/2011

olhos vazios
Acabei de ler Os cus de Judas. Digo que não gosto de narrativas a partir de fluxos de consciência, nem da associação caótica de idéias. Sinto-me geralmente que se entrega ao acaso a criação artística, algo que, pra mim, precisa de uma mão forte e um alto investimento de controle da mão do autor.
Lobo Antunes é obviamente um homem que domina a linguagem poética, mas pra mim, esbarra às vezes nas imagens óbvias, na tentativa desesperada de poetizar tudo. O contraste entre linguagem poética e experiência seca, ressaltado por todas as resenhas aqui lidas, é interessante, mas em alguns momentos resulta em palavrórios que não rumam a lugar nenhum.
A constante repetição de termos e imagens em determinado momento me cansou e, a partir daí, me tornei blindado às experiências que ele queria transmitir. Seu pênis ficava duro em cada capítulo e se pensava em mijar, cagar e em sangue, assim como em pedaços de feridos e copos de whisky. É o clichê da experiência poética da guerra. Há quem diga: "mas ele fala examente disso, da banalização da mutilação e da morte." Eu digo que a banalização só pode vir com a linguagem banal, que a linguagem poética eleva o acidente, dando-lhe tonalidades heróicas.
Enfim, é um livro interessante de ser lido, mas não é algo que me venha a encher os olhos...
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Marina 03/04/2021

Tão bom quanto Matadouro-Cinco
Os Cus de Judas é um livro escrito por Antonio Lobo Antunes, um dos maiores escritores portugueses contemporaneos. O título faz referência ao que, aqui no Brasil, chamaríamos de "onde Judas perdeu as botas", ou seja, um lugar longe, no fim do mundo. Mas o autor coloca um título mais chocante, e até grotesco, para ornar com o tema do qual o livro vai tratar: que é a guerra.

O Brasil tornou-se independente de Portugal há muito tempo, lá no comecinho do sec. XIX, em 1822, como todos nós brasileiros sabemos bem. Mas essa não foi a realidade de muitas outras colonias de Portugal, como a abordada neste livro. O personagem principal sai de seu berço, a cidade de Lisboa, para lutar na guerra de independencia da Angola, em Luanda. E viver frente a frente com todos os horrores de uma guerra.

O livro é narrado como fluxo da consciencia. Bebe da fonte de Matadouro-Cinco.
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Dio 27/01/2021

"A revolução se faz por dentro"
é a primeira vez que leio um romance histórico e fiquei fascinada com a capacidade do autor de ser franco, realista e crítico mesmo escrevendo num tom agonizante, ignorando o cronológico e seguindo um tempo psicológico.

a densidade dos pensamentos e quantidade exacerbada de locuções adverbiais podem tornar a leitura um pouco cansativa, mas com certeza é muito necessária para momentos de reflexão.
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Taiane Martins 30/11/2013

"O primeiro grande romance sobre a guerra da independência de Angola", é o que diz na capa do livro de Lobo Antunes.

De fato "Os cus de Judas" foi escrito a partir da experiência pessoal do escritor português Lobo Antunes como médico de campanha quando enviado para a Angola durante a guerra colonial. Mas este romance poderia falar a respeito de qualquer guerra.

Os cus de Judas não é um romance com o objetivo de narrar os eventos históricos ocorridos durante a luta de independência de Angola. Não existe uma história, com início, meio e fim a ser contada. Também não se trata de uma narrativa linear, coesa, repleta de ação.

Este é um romance de experiência, a narrativa bombardeia o leitor com as experiências, os sentimentos, as angustias de alguém que teve de servir durante uma guerra. Uma narrativa baseada no fluxo de consciência, quebrada, com pouca pontuação. Uma linguagem forte, pesada, várias vezes uma linguagem baixa, chula - como a guerra.

O livro de Lobo Antunes é de difícil leitura, é um desafio sair da primeira linha do romance e chegar no segundo capítulo e depois no segundo, no terceiro. Mas é um esforço que vale a pena.

É um livro que faz refletir. Refletir a respeito da inutilidade e da burrice que é uma guerra. Faz pensar em homens que matam e morrem nas trincheiras, nos campos, como se fossem peças de xadrez descartáveis. Pessoas que deixam suas vidas para traz para cumprir ordens de gente que nunca vai chegar perto de um campo de batalha, de gente cujos filhos estão seguros em casa.

Gente que sente medo, que perde parte de sua própria humanidade. Gente que sabe que é apenas um peão num jogo maior. E gente que sabe que depois de uma guerra não há mais para onde voltar. Porque depois de uma guerra nada mais faz sentido.

site: http://www.gavetaliteraria.com.br/2013/11/desafio-literario-2013-os-cus-de-judas.html
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Biblioteca Álvaro Guerra 08/08/2023

Logo depois de voltar da guerra em Angola, o autor escreve o romance sobre suas experiências naquele país. Os Cus de Judas se tornou um enorme sucesso, vindo a ser o primeiro grande romance sobre o conflito e a independência angolanos e uma referência histórica obrigatória. Relato genial da tragédia colonial, Os Cus de Judas evidencia a impotência do ser humano diante da violência que lhe retira as rédeas e o sentido da vida.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788573025217
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SilviaVF 03/08/2009

Os cus de Judas
Como sempre, é difícil mergulhar na narrativa de Lobo Antunes. Sempre me enrosco nas palavras que se enovelam e me confundem. Fico tensa, nervosa. Mas sigo adiante. Logo passa e, enfim, paro de resistir e me deixo levar por ele.

Uma história triste, violenta, dura. Sobretudo real. Não que a guerra pela libertação de Angola tenha sido assim. Não que se trate de um registro fidedigno da história de uma nação. Não é dessa realidade que falo. É da realidade humana.

(continua)

http://cafedas5.blogspot.com/2009/08/os-cus-de-judas.html
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Guilherme 17/01/2022

A tentativa de bestialização de um povo
Aos brasileiros, "os cus de Judas" parece um título obsceno. Ao contrário disso, o título remete às expressões populares que dão nome aos lugares remotos e distantes. Ainda assim, no livro narra-se a maior das obscenidades: a Guerra.

Tratando da Guerra Colonial em Angola, António Lobo Antunes denuncia o absurdo do sonho imperialista, do salazarismo, da tortura e da violência.

Não é um livro fácil de se ler, e muito por isso é fantástico. Na obra aparentam colidir dois mundos: o primeiro doloroso, dos traumas, das doenças e da desesperança; o segundo, o onírico e metafórico mundo da narrativa. O fluxo de consciência é tortuoso, múltiplo e polissêmico. Ao final dele, a certeza de que ao final estamos todos no mesmo mundo, na convivência insistente do real e da fantasia, e que ainda há muito por se entender.
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Dankar 16/11/2015

"Nós não éramos cães raivosos quando chegamos aqui"
O romance de Lobo Antunes é cruel, difícil, de um peso incomensurável. Dialoga muito bem com O coração das trevas, de Conrad, por conta do tema e da estrutura em comum, e também faz lembrar em Faulkner (a constante dualidade entre a violência que está sendo narrada e a forma lírica com que é narrada) e em Llosa (A casa verde não saiu da minha cabeça durante a leitura).
O grande mérito do livro é a forma maravilhosa que ele retrata o impacto que uma guerra exerce sobre os homens (principalmente sobre os homens que sabem que estão ali apenas para defender os interesses de uma ditadura fascista) ao mostrar o complexo fluxo de pensamento de um de seus sobreviventes. Qualquer coisa que o narrador se proponha a contar se desvia para a guerra, para a loucura ali vivenciada. Até mesmo os trechos mais delicados, como as reflexões do narrador sobre sua filha, sempre desaguam nessas memórias. É principalmente nesses recursos, de alternar entre imagens banais, belas e violentas, muitas vezes em uma mesma frase (que são sempre longas, às vezes se estendendo por várias páginas), e sempre com o uso de poderosas metáforas, que Lobo Antunes mostra sua qualidade enquanto escritor. Uma obra-prima.
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Gentiliterária 28/07/2016

Escrever era uma forma de libertação...
A necessidade de reviver o trauma através do testemunho é uma forma de expelir a desesperança da alma dos sobreviventes. A dor de ter vivido em meio ao caos da guerra é insuperável, mas o compartilhamento dessas memórias
ameniza a desolação de quem sobreviveu a esse conflito. A volta ao lar é o sonho desses homens amargurados, porém em muitas situações, como na obra, o personagem se isola do mundo e possui o sentimento de não se adaptar a lugar nenhum.
Ademais, ao revelar tudo o que viu e vivenciou na guerra colonial, o personagem tem a esperança de cicatrizar suas feridas. O protagonista foi bem sucedido em narrar o que seria inenarrável, fazendo com que o leitor sinta as suas angustias e amarguras.
Acredita-se que a obra de António Lobo Antunes é uma biografia dos seus momentos de conflito durante a Guerra de Ultramar. As características do protagonista são as mesmas de seu criador (autor da obra). Além disso, o testemunho é uma forma dos sobreviventes reconstituírem suas vidas e se libertarem das suas feridas. Em suma, talvez “Os Cus de Judas” seja o compartilhamento da dor de Lobo Antunes durante a Independência de Angola e a única maneira de salvar sua alma de todos os conflitos que passou.
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Gustavo195 12/03/2024

Leitura Hard
Uma leitura desabitual, extremamente difícil, mas assim que se vai com o ritmo da escrita percebe-se o quanto a obra carrega as memórias e as complexidades do sujeito fragmentado produzido na guerra.
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