Gabriel 19/01/2024
A liberdade é como o Sol, é o bem maior do Mundo.
Capitães da Areia foi o primeiro livro do Jorge que eu li. E desde já eu digo que é um dos melhores materiais literários que já me deparei!
O livro se passa em Salvador, capital da nossa espetacular Bahia de todos os Santos - e as descrições de lá, no livro, me deram muita gana de um dia conhecer.
Os protagonistas são os "Capitães da Areia", meninos órfãos, pobres e de rua que vivem o gozo da liberdade de suas vidas, fazendo o que bem entendem, entre furtos e rebuliços - nos comandos do carismático (e diplomático) Pedro Bala, o líder do bando, na medida que também travam a luta diária que é uma criança viver sob estas condições.
O autor não tem medo de abordar a vivência de forma bruta, tocando diferentes pautas no livro - mas mantendo momentos de alegria, troça e aventura harmônica, tal como é a vida.
[Até porque nenhum de nós é composto só de desgraças].
O livro é escrito de forma primorosa, em uma técnica que me lembra o fluxo de consciência da Virginia Woolf - uma forma de escrita em que o autor, em terceira pessoa, transita da profunda descrição do cenário a profunda descrição dos personagens e do que este está pensando - com todo aquele íntimo caos que é o ato de "pensar".
Como resultado, além dessa linda Bahia e rica base cultural, tem um conteúdo profundo da história e reflexões de cada um dos personagens, seus sonhos, desejos e inseguranças. Tudo isso no meio das aventuras.
Mas não se engane com esses últimos parágrafos pomposos, o livro é muito fácil de se ler. Li em questão de 10 dias - como um bom seriado da Netflix que a gente maratona. A linguagem é bem acessível e a cadência dos capítulos também contribui para a fluida leitura - são vários capítulos de tamanho curto à médio que sempre apresentam uma temática - seja uma aventura de um dos Capitães da Areia, do bando ou a vivência de algum destes.
Cada personagem é minuciosamente construído, e todos são cheios de personalidade, até os mais conflituosos. Meu favorito foi o Professor - ele lia histórias a noite pros demais do bando, no esconderijo deles, alimentando a imaginação e a esperança desses.
Por fim, não botei navalha na calça como alguém do bando dos Capitães, mas batuta que sou fiquei espiando a história toda sem piscar, igual o Professor.
Vou levar pra mim uma máxima que é citada ao longo do livro:
A liberdade é como o Sol, é o bem maior do Mundo.
Essa liberdade/Sol dos Capitães da Areia tanto brilha quanto queima,
Milan Kundera teria aqui outro ótimo exemplo de leveza e peso simultâneos.
Chorei em 3 capítulos diferentes, mas não reclamo, afinal só um incorrigível reclama.
Foi uma das coisas mais bonitas que já li, recomendo muito, nota 5/5.