Declínio e Queda

Declínio e Queda Evelyn Waugh




Resenhas - Declínio e Queda


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jota 26/01/2013

Os ingênuos e os espertos
A trama de Declínio e Queda, primeiro livro de Evelyn Waugh (1903-1966), publicado em 1928, está muito bem resumida na sinopse da editora, Companhia das Letras, reproduzida aqui no Skoob.

Então resta dizer que todos os acontecimentos na vida de Paul Pennyfeather a partir daquele primeiro incidente universitário, tem por função satirizar a sociedade britânica dos anos 1920. Mas o livro parece mesmo ter sido escrito para divertir o próprio autor e, sobretudo, o leitor que se interessa por sátira e humor inglês – aquele em que a maior parte do tempo nos faz apenas sorrir com a inteligência, não necessariamente rir escancaradamente.

Um exemplo do início do livro, que no seu todo tem várias situações engraçadas e muitos diálogos primorosos. Primeiro dia de aula do jovem professor Paul Pennyfeather, já citado, e personagem principal. O colega Grimes lhe diz, apontando seus alunos: “Ali está sua horda (...) pode soltá-los às onze.” E Paul, subitamente em pânico: “Mas o que vou ensinar a eles?” Resposta de Grimes: “Ora, eu não tentaria ensinar nada a eles, pelo menos por enquanto. Basta mantê-los quietos.” Mudou muita coisa de 1928 para cá? Piorou, parece...

Nos diálogos - e pelas trapaças que as classes superiores engendram e os imbróglios em que se envolvem -, o livro lembra um pouco as aventuras e as primorosas conversas entre Bertram Wooster e seu erudito mordomo Jeeves, personagens dos livros do inglês P. G. Wodehouse. E pela crítica (se bem que Waugh a faça em forma de sátira) ao sistema de classes sociais inglês, as obras de E. M. Forster.

E tudo já se inicia pelo título - que faz logo pensar no livro de outro inglês ilustre, o historiador Edward Gibbon, sobre o declínio e a queda do império romano - mas que aqui caminha em sentido inverso, pois a história é dessas em que, parodiando e invertendo Shakespeare, nem tudo que termina (ou começa) mal necessariamente acaba mal.

Verdade que há alguns capítulos em torno da metade do livro um tanto aborrecidos, mas os capítulos iniciais, passados em escolas britânicas (Scone, no País de Gales, é fictícia, claro) são muito interessantes e também aqueles (depois dos tais capítulos aborrecidos) em que nosso herói se apaixona por uma jovem e espertalhona viúva (ou teria sido seduzido por ela?) e até acaba indo para a prisão por ingenuidade.

Da prisão de Paul até o final é que Declínio e Queda se torna bastante engraçado. Num relatório para o diretor da prisão, um inspetor menciona que os presos encarregados de produzir certos objetos estavam comendo a cola que deveriam usar no trabalho. Sugere então, que algo deveria ser a ela misturado para desestimulá-los do consumo. E a seguir, com uma pergunta do diretor, o episódio termina de modo bastante engraçado, mas que não vou entregar aqui. De todo modo, dá para se imaginar que tipo de comida era servida aos presos, ainda que ingleses.

Vale a pena ler Declínio e Queda? Para mim valeu, com os devidos reparos a algumas partes, e lembrando que os outros livros de Evelyn Waugh que li – Memórias de Brideshead e Um Punhado de Pó – são bem mais sérios e profundos, digamos. Então, se quer conhecer o autor inglês através de uma história agradável, melhor começar por este.

Lido entre 21 e 16/01/2013.
Daniel 26/01/2013minha estante
Cara, que coincidência: encomendei nesta semana "Memórias de Brideshead" deste mesmo autor!


jota 27/01/2013minha estante
Daniel: foi o Memórias de Brideshead que tornou Waugh mais conhecido fora da Inglaterra, talvez por ser um de seus livros mais densos (Punhado... tem um lado meio aventuresco e Declínio... é uma sátira, no fundo). Se puder veja a minissérie de 1981 depois (com Jeremy Irons no papel principal), que tem gente que diz que superou o próprio livro - está, atualmente com média 8,7/10 no IMDb. Boa leitura, então.




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