Para ler Platão

Para ler Platão José Trindade Santos




Resenhas - Para ler Platão III


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Paulo 28/09/2022

O título da coleção pode enganar o leitor: o livro não ajuda a ler Platão, é para quem já leu
Enfim, consegui terminar de ler a coleção “Para ler Platão”, de José Trindade Santos. Confesso que a leitura dos três tomos me foi muito pouco proveitosa, pois não me adaptei à forma pouco didática com a qual o autor analisa os diálogos platônicos a partir de temas e enfoques específicos.
Na Introdução, denominada “Platão e Aristóteles sobre a alma”, o autor destaca o pomo da discórdia entre os dois filósofos sobre o tema: a tese da existência da alma, separada do corpo, juntamente com todos os pressupostos que a suportam. Platão está sobretudo preocupado em sustentar a oposição da alma ao corpo, no contexto da dualidade inteligível/sensível. Já Aristóteles é movido por uma finalidade mais construtiva, a de mostrar como a alma pode sentir, conhecer e desejar. Enquanto Platão concentrou-se exclusivamente no domínio da alma cognitiva, com desprezo pelo corpo e pela sensibilidade, Aristóteles empenhou-se na definição da unidade da alma a partir de uma diversidade de afecções manifestas no corpo, as quais separou e estudou.
No capítulo único do livro, denominado “Alma, cidade e cosmo”, o autor apresenta as noções de alma expostas em diversos diálogos platônicos. Há uma pluralidade de abordagens e domínios, mas uma visão é potencialmente englobante de todos os contextos e abordagens realizados por Platão: a da alma como movimento, “o que se move a si e por si”.
Na análise do Fédon, vê-se que a alma sempre é a causa da vida do corpo e a morte o contrário da vida. A alma não pode receber o oposto da Forma em que participa, daí resulta primeiro a imortalidade da alma e depois sua imperecibilidade. A morte chega apenas à parte mortal do homem, retirando-se a parte imortal e imperecível para o Hades.
Sobre o diálogo Timeu, segue essa interessante passagem: “Na vida, o racional é mais belo que o irracional. portanto, o demiurgo não pode deixar de inserir na alma (vida=ordem=finalidade) a racionalidade, que deverá ser entendida com a melhor - talvez a única - forma de atingir a finalidade: o Bem”.
O autor também aborda a célebre tripartição da alma, desenvolvida por Platão em diversos diálogos, como na República: “Como polo dominante da personalidade, sede do ‘eu’ (autos), a alma constitui um todo suscetível de ser encarado de três perspectivas diferentes: a Razão, a ‘sede do querer’, o apetite, que responde à carência fisiológica. considerá-la una ou tripartida responde apenas à conveniência de melhor leitura do argumento”.
Do diálogo Teeteto colhe-se a importante função que a alma desempenha na aquisição do saber, pois é ela que “processa” os dados colhidos das sensações e reflete sobre eles.
O nome da coleção “Para ler Platão” nos remete a uma obra introdutória, como se fosse um guia para iniciar a leitura do filósofo. Foi uma escolha infeliz. Se o estudioso principiar o estudo da filosofia por essa coleção, é provável que ele desista de ler Platão. Não recomendo a leitura, que é direcionada para estudiosos já experimentados e que leram toda a obra platônica.
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