spoiler visualizarToca do Coelho 04/12/2020
Você caiu na toca do coelho, é muito bem-vinde a se sentar, não comer ou beber nada e ouvir um pouco sobre A Besta.
Pode ser uma surpresa pra algumes, mas eu realmente sou uma pessoa apaixonada por história, não é de se estranhar que eu tenho pesquisado sobre a história do Japão. O que fiz depois disso? Procurei um gekigá de qualidade, muito me recomendarma A Besta e por todas as tortinhas de limão do mundo, o que fiz de tão ruim para gastar meu dinheiro com esse mangá?
A história de Musashi Miyamoto já havia sido apresentada em peças, filmes, séries e mangás - não à toa Vagabond faz tanto sucesso - logo pensei que não havia um modo ruim de contar sua história. Nunca duvide da capacidade do ser humano.
O que tem de tão ruim no mangá? O autor, Hideki Mori, queria fazer da sua obra uma história adulta. Temos todo o contexto da guerra, os motivos que levaram Musashi a se tornar samurai e o feudo japonês que era pautado na opressão popular, mas, por alguma razão, para o mangaká, história adulta é sinônimo de nudez em um nível ofensivo.
Primeiramente, o incesto entre Musashi e sua irmã Ogin. Vocês estão falando com uma leitura de George RR Martin, eu sou vacinada contra incesto. A verdade é que o mangaká precisava de um elemento sexual chocante e usou o incesto, a primeira aparição de Ogin é num contexto sexual e sua última aparição também.
Até mesmo quando morre e Musashi desenterra seu corpo, o cadáver aparece em uma posição sexualmente provocante com quadris arqueados e mãos sobre os seios.
Ao invés de focar na rica história do samurai absorvendo os horrores que outros samurais provacavam aos aldeões, e novamente, como isso não pode ser uma história para adultos? O mangaká prefere gastar páginas e mais páginas com cenas de nudez explícita que não tem utilidade alguma a não ser aumentar a classificação indicativa.
Da metade pro fim tem uma cena que dura 8 páginas com uma mulher ajudando Musashi a se levantar, está chovendo e ele desmaiado, nisso a mulher perde a roupa e a penúltima cena é risível de tão ridícula. Um traço tão bonito, um conhecimento tão bom de posicionamento e anatomia humana usados apenas para focar na vagina de uma personagem que morre logo em seguida.
E considerando que o segundo arco é bem escrito, tem uma certa coerência, é fácil dizer que foi pura preguiça do autor em desenvolver o Musashi. O segundo arco é dele com uma moça por quem se apaixona, mas devido a ciúmes ela termina morrendo e Musashi é acusado do assassinato.
As cenas de sexo e nudez funcionam nesse arco, são artisticamentes bonitas, tem o propósito de aproximar o casal já que Musashi não fala muito e só compreende sentimentos através do tato.
Mas o resto do mangá? Embrulha e joga fora, não por acaso foi um mangá tão mal recebido no Japão, o próprio mangaká diz no final que as vendas não foram o que ele esperava.
A leitura de A Besta me ensinou uma coisa que tenho percebido há muito, muites acreditam que o que torna a obra adulta não é sua essência, mas o excesso de nudez e violência dentro dela, mesmo que não tenha qualquer tipo de narrativa e Hideki é exatamente este tipo de autor.
Sou fã de Sakamoto e Tezuka. O primeiro usa violência e nudez em sua obra, mas com doses acertivas e uma narrativa convicente ao elemento proposto. O segundo provou com Dororo que a ambientação é o mais importante no teor da obra, Tezuka consegue falar sobre estupro sem nunca citar a palavra.
A Besta de Hideki é um mangá que não lerei novamente e não tenho coisas positivas para falar. Talvez uma, eu ri muito em um momento final envolvendo boquete, mas foi por causa do absurdo da cena.