Djeison.Hoerlle 05/10/2022
Eu sei, eu sei, vivemos em uma época bem polarizada. Antes de opinar sobre uma narrativa, convém checar sob qual perspectiva os temas nela são abordados - se através de um viés progressista e amigável, ou crítico.
É quase como se as obras fossem resumidas à sua posição dentro do espectro político e social.
Só que a verdade é que isso é uma merda.
Não somente por fazer com que muitos potenciais leitores já cheguem até o material tencionados a desdenhá-lo (afinal, tem um gay na capa), mas também por colher aprovação imediata da comunidade que se identifica com os temas abordados, dispensando o emprego do senso crítico na hora de refletir sobre as reflexões por ele incitadas.
Quando me reparo com esse tipo de resenha, parte de mim se sente como se estivesse lendo uma crítica a um panfleto ou uma cartilha de direitos humanos e não sobre uma narrativa com diversos aspectos interessantes que podem (e devem) ser abordados e é justamente isso que pretendo fazer aqui.
Não falarei da importância da representatividade para a comunidade LGBTQIA+, até porque não poderia fazer isso com muita propriedade, já que sequer faço parte dela, tampouco de sua relevância em uma bolha historicamente dominada por meninos guiados por fantasias de poder. Não que isso não seja importante, é lógico que é, mas essa parte eu deixo para outros resenhistas menos inspirados fazerem.
E embora eu sempre tenha sido aquele leitor “poser” de super-heróis, que lia Homem Aranha não pelo massaveio mas sim pelos recordatórios tristes do Peter, me vi instantaneamente instigado pelos quadros de Adri A, que parecem saltar para fora das páginas com diagramações inventivas e inspiradas, que se alternam com tiradas cômicas pontuais. Na verdade, o bom humor é um dos principais traços desse quadrinho, que satiriza tanto o gênero de heróis quanto clichês narrativos.
A cereja do bolo são os momentos de maior profundidade e até melancolia, sempre pratos cheios para o leitor de dramas que sou, mas sem nunca perder um certo otimismo, sentimento que não lembro de ter experimentado em outras histórias LGBTQIA+.
Pelo que escrevi até aqui, acho que deu para sacar que Cara Unicórnio é um quadrinho que não se contenta em passear pelas problemáticas inerentes ao assunto escolhido e isso para mim, é ouro.
Inclusive isso me faz lembrar de um tweet que vi há alguns anos atrás que dizia algo como “não aguento mais filmes sobre gays sofrendo. Quero gays roubando bancos, apostando rachas e fazendo loucuras”. Lembro de na época ter achado um ótimo ponto e embora o Cara Unicórnio apenas intervenha em crimes e não os pratique, algo me diz que o Adri também gostou desse tweet.
Leiam essa maravilha.
Ah, e apoiem no Catarse também, a edição 10 tá saindo do forno, lá vocês encontram as edições anteriores todas.
site: https://www.catarse.me/carauni_cap10