Gramatura Alta 09/05/2017
Nada é definitivo. Talvez, nem mesmo a morte. Isso é um fato que independe de interpretação ou crença. O segredo da vida, reside no quanto cada um de nós consegue compreender, enxergar e apreciar cada um dos breves momentos que temos, seja com a família, com um amigo, com uma paixão, ou vendo um filme, nadando em um rio, sentindo o calor do sol, a brisa fria do início da manhã ou aquele calorzinho do fim da tarde. Infelizmente, a grande maioria de nós deixa passar todos esses momentos que, juntos, podem ser definidos como a essência da alegria, da felicidade.
É disso que CHICO BENTO: ARVORADA trata. Seguindo o molde de todas as GRAPHIC MSP, o autor Orlandeli, dono de um traço e de cores belíssimas, de uma arte que comove e espanta, presenteia o leitor um com história comovente, que faz amadurecer para o quanto perdemos por não prestar atenção, ou por deixar as coisas para depois.
Mas, após a leitura, não se engane quanto à mensagem. Ela não trata de arrependimento, mas de aprendizado, de reconhecimento daquilo que nos rodeia, de forma afetiva, material ou subjetiva. Isso é muito bem representado pelo ipê amarelo, pela vó Dita, por Chico, pelas lendas culturais rurais brasileiras que fazem uma ponta e, por fim, naquilo que é eterno dentro de nós: nossas lembranças.
ARVORADA é mais complexa do que é possível perceber em uma primeira leitura. A parte em que vó Dita está muito doente, quando dizem que ela pode não sobreviver a mais uma noite, e Chico precisa enfrentar seus medos diante de criaturas assustadoras, como o Lobisomen, o Saci, o Boitatá, entre outros. É a representação metafórica da vida contra a morte, do arrependimento contra a redenção, da saudade contra a partida. E quando Chico compreende que a morte nada mais é do que uma etapa natural da vida e de que não há nada que qualquer um possa fazer para impedir, a luta termina, e todos os personagens se unem em um gesto de partir o coração.
Por fim, nas últimas páginas, ainda reside uma outra lição. A de que as coisas, as pessoas, os momentos, tudo que vivenciamos, está guardado em nosso cérebro, em nosso coração, e que, por isso, podemos reviver a qualquer momento, como se estivéssemos nos locais novamente, ou se abraçássemos alguém que amamos mais uma vez.
Faça um favor a você mesmo, não deixe passar, e leia essa pequena obra prima!
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