z..... 02/02/2016
A obra busca a valorização da história regional, com a premissa de descobertas interessantes e importantes em páginas esquecidas na sociedade. Há um discurso de aprendizagem e inspiração para a atualidade.
Nessa proposta, o autor inicia a obra com três textos instigantes sobre o Amapá, de forma sucinta e de leitura prazerosa e reveladora.
"O descobrimento do Amazonas em 1499" faz referências a expedição de Américo Vespúcio, que passou pela costa amapaense e registrou o fato em uma carta a Lorenzo di Pier Francesco de Médice (documento guardado na Biblioteca Pública de Nova Iorque), sugestionando assim a descoberta do Brasil pelo litoral amapaense. E a história do descobrimento se repetiu também com Vicente Pinzon, que teria feito expedição no mesmo litoral em janeiro de 1500. Não é surpreendente que o Amapá poderia, de fato e direito, ser considerado o primeiro ponto de avistamento das terras brasileiras! Enfim, os navegadores eram espanhóis e a pompa ficou para o português Cabral em sua mega e badalada expedição.
"Um brasileiro não se rende a bandidos" é um texto descrito com entusiasmo heroico sobre o Cabralzinho. Mostra uma visão geral da sucessão dos fatos, segundo a história formal e mais conhecida. Surpreendente também o grau de esquecimento nacional sobre o episódio, pois o Cabralzinho deveria figurar entre os vultos brasileiros, com sua história e eventos impactantes. Divagando um pouco, não sei como o cinema nacional não descobriu ainda os funestos e heroicos episódios ocorridos no Amapá, que colocou frente a frente brasileiros e um exército francês em um dos mais sangrentos e lamentáveis embate nas fronteiras.
"Somos todos hermanos" fala da passagem do presidente argentino, Juan Domingo Perón, em 1955, pela base aérea no Amapá, quando estava a caminho do exílio.
Esses são os aspectos que mais gostei na obra, porém, são apenas ilustrações.
O fato mais relevante e inspirador ao autor refere-se à visão jornalística da vinda e estabelecimento de José Sarney no cenário político amapaense. Fato que se concretizou em 1990, quando teve seu primeiro mandato como senador, recebendo a expressiva aprovação eleitoral de 72%, o maior percentual em todo o território nacional.
Não sou entusiasta sobre a vida política de qualquer indivíduo e meu olhar foi apenas aos fatos referentes a essa trajetória. O livro cita coisas como: a amizade com o governador Jorge Nova da Costa; a visita ao Amapá em 1986 (Dona Venina, do Marabaixo, foi até citada em um discurso nacional sobre rumos no Brasil, mas isso é outra história); a transcrição do discurso que fez no município de Oiapoque (naquela ocasião) e outros aspectos políticos dessa fase.
O título da obra refere-se a contrapartida à um artigo publicado por um grande jornal no início dos anos 90, que trazia uma imagem pejorativa com o título de "A volta por baixo".
O autor traz também uma visão geral do governo de Jorge Nova da Costa, incluindo sua carta diante do afastamento forçado de seu mandato por manobras políticas.
Tudo é descrito com uma visão jornalística, mas percebemos uma valorização ideológica também. Citar a visita do Sarney em 1986 como a primeira oficial de um presidente brasileiro ao Amapá é uma valorização em detrimento de páginas da história que mostram passagens anteriores dos presidentes JK, Castelo Branco e Geisel.
São apenas considerações e a obra tem seu valor e registros importantes para apreciação pública.